Noves fora, seis
Não sei porque
Todo peão é rei
I don't know why
Noves fora, gay
Não sei para que
Memória se é para esquecer
Je ne sais pas pourquoi
Noves fora, frei
Não sei para que
Deus se não se quer morrer
eu não sei por quê
Noves fora, três
Não sei para que
Viver se é para morrer
Análise:
O poema "No sé por qué" é uma peça multifacetada que combina elementos de linguagem, cultura e existencialismo em uma estrutura repetitiva, mas repleta de variações significativas. Ele explora a busca por significado em temas universais como vida, morte, identidade, memória e espiritualidade. A repetição da expressão "não sei por quê" (em diferentes idiomas) reforça o sentimento de dúvida e perplexidade diante das questões fundamentais da existência.
Estrutura e Elementos Repetitivos:
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"No sé por qué" / "Não sei porque" / "I don't know why" / "Je ne sais pas pourquoi" / "eu não sei por quê"
- Polifonia e universalidade: A repetição da mesma expressão em vários idiomas sublinha a natureza universal da dúvida existencial. Independentemente da língua, o questionamento é o mesmo: por que estamos aqui? Qual é o sentido da vida e da morte?
- Fragmentação cultural: O uso de diferentes línguas reflete um aspecto de pluralidade e conexão global, sugerindo que a busca por significado transcende barreiras linguísticas e culturais.
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"Noves fora"
- Matemática simbólica: A expressão "noves fora" remete a uma operação básica de cálculo (retirar múltiplos de nove). Aqui, ela é usada como metáfora para redução ou eliminação, simbolizando a tentativa de simplificar ou encontrar um resultado essencial.
- Contraponto às questões complexas: A simplicidade do cálculo contrasta com as profundas questões existenciais levantadas pelo poema, sugerindo que, apesar das simplificações, o significado continua escapando.
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"Não sei para que"
- Dúvida direcionada: Enquanto "não sei por quê" reflete uma dúvida abstrata sobre causas e razões, "não sei para que" questiona o propósito das coisas, aprofundando o tom reflexivo do poema.
Análise por Estrofes:
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"No sé por qué / Noves fora, seis / Não sei porque / Todo peão é rei"
- Jogo de opostos: A afirmação "todo peão é rei" subverte hierarquias tradicionais, sugerindo que qualquer um pode alcançar grandeza ou relevância, mas também pode ser uma ironia diante da efemeridade dessa "promoção".
- Ciclo e simplicidade: "Noves fora, seis" insinua que, mesmo após simplificações, há um resto. Isso pode simbolizar a persistência das dúvidas, mesmo após tentativas de explicação.
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"I don't know why / Noves fora, gay / Não sei para que / Memória se é para esquecer"
- Identidade e esquecimento: A menção a "gay" pode evocar uma reflexão sobre identidade e a luta por aceitação em um mundo que muitas vezes tenta apagar ou marginalizar aquilo que não compreende.
- Paradoxo da memória: Questionar a memória ("se é para esquecer") enfatiza a frustração com a condição humana, onde as lembranças, muitas vezes dolorosas, permanecem, mesmo que desejemos apagá-las.
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"Je ne sais pas pourquoi / Noves fora, frei / Não sei para que / Deus se não se quer morrer"
- Religiosidade e dúvida: A presença de "frei" e "Deus" remete à espiritualidade, mas com um tom crítico e irônico. O questionamento sobre a necessidade de Deus "se não se quer morrer" sugere uma reflexão sobre como a religião frequentemente serve para lidar com o medo da morte.
- Contraste entre fé e dúvida: O uso de "frei" e "Deus" em oposição ao ceticismo demonstra a tensão entre a busca por respostas espirituais e a incapacidade dessas respostas de satisfazer completamente as dúvidas humanas.
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"eu não sei por quê / Noves fora, três / Não sei para que / Viver se é para morrer"
- Culminação existencial: A última estrofe sintetiza a essência do poema. A pergunta "Viver se é para morrer" encapsula o dilema central da existência humana: qual é o propósito de viver diante da inevitabilidade da morte?
- Desesperança ou aceitação: A simplicidade do cálculo ("noves fora, três") contrasta com a profundidade da questão existencial, sugerindo que talvez não haja respostas claras ou finais.
Temas Centrais:
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Dúvida Existencial:
- O poema é construído em torno da dúvida. Ele explora tanto a causa ("por quê") quanto o propósito ("para que") da vida, sugerindo que as respostas permanecem elusivas.
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Contrastes e Paradoxos:
- A justaposição entre elementos simples (como "noves fora") e questões complexas (memória, morte, Deus) reflete a tensão entre o tangível e o intangível.
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Identidade e Espiritualidade:
- O poema aborda a busca por identidade (representada por "gay", "frei" e "rei") e o papel da espiritualidade na tentativa de lidar com as questões existenciais.
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Efemeridade e Propósito:
- A vida é vista como transitória, e o poema questiona se os elementos que sustentam nossa existência (memória, religião, hierarquias) realmente possuem um propósito duradouro.
Estilo e Linguagem:
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Repetição e Variação:
- A repetição da estrutura ("não sei por quê", "noves fora") cria um ritmo constante, enquanto as variações nos temas e associações geram novas camadas de significado.
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Poliglossia:
- O uso de múltiplos idiomas destaca a universalidade das questões levantadas, mostrando que as dúvidas existenciais transcendem fronteiras culturais.
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Ironia e Humor:
- A combinação de temas profundos com expressões aparentemente triviais ("noves fora, gay", "noves fora, frei") confere um tom irônico, que suaviza o peso das questões existenciais.
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Estrutura Fragmentada:
- O poema utiliza fragmentos de ideias e imagens para criar um mosaico de reflexões, deixando lacunas que o leitor deve preencher.
Considerações Finais:
"No sé por qué" é um poema que mistura ironia, profundidade e universalidade para abordar questões existenciais. Ele questiona causas e propósitos, explorando a condição humana em sua busca por significado diante da morte, da memória e da identidade. Com uma estrutura repetitiva e fragmentada, o poema reflete a inquietação de quem busca respostas que talvez nunca sejam encontradas, mantendo-se aberto à interpretação e à reflexão contínua.