bola membrana bôba
entre ares
no mais capim
e coisa e tal...
capital
O poema "Copa" é uma peça minimalista que explora a ludicidade da linguagem, com sonoridade, imagens fragmentadas e múltiplas camadas de significados. Ele apresenta uma reflexão crítica e irônica sobre a dualidade entre o lúdico e o econômico, evocando tanto o jogo e a simplicidade do futebol quanto as forças do capital e da modernidade que o circundam.
Análise por Versos:
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"ôpa óca ôca"
- Sonoridade e Ludicidade: O jogo fonético aqui remete a algo leve e vazio, talvez a simplicidade do movimento da bola ou a trivialidade do espetáculo que se forma ao seu redor. A repetição de "óca" reforça a ideia de vazio, de algo que é aparentemente significativo, mas que pode ser oco em sua essência.
- Evocação do Futebol: O ritmo lembra as exclamações em um jogo, conectando o poema ao contexto da "Copa". Há também uma referência implícita ao espaço em branco, ao vazio criativo, onde o jogo se desenrola.
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"bola membrana bôba"
- A bola como elemento central: A bola é descrita como uma "membrana bôba", destacando sua fragilidade e simplicidade. A "membrana" sugere algo permeável e orgânico, enquanto "bôba" reforça a ideia de algo trivial ou ingênuo, como se o objeto central de tanta atenção fosse, em última análise, um artefato banal.
- Metáfora da futilidade: A escolha de palavras coloca em evidência o contraste entre a centralidade da bola no jogo e sua aparente insignificância fora dele.
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"entre ares"
- Suspensão e fluidez: Este verso posiciona o jogo (ou a bola) no ar, em movimento, mas também no reino do abstrato. O futebol se torna uma dança entre forças invisíveis, quase como um teatro de gestos e intenções no espaço.
- Interpretação social: "Entre ares" também pode aludir à atmosfera criada pela Copa, que transcende o campo e permeia a sociedade.
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"no mais capim / e coisa e tal..."
- Simplicidade do cenário: O capim representa o campo, o chão onde o jogo acontece, remetendo ao futebol como algo essencialmente simples e próximo do cotidiano.
- Ambiguidade no "coisa e tal": A expressão despretensiosa pode sugerir o que está além do jogo — as forças econômicas, políticas e sociais que o transformam em espetáculo. É um comentário irônico sobre a complexidade que se esconde sob uma superfície aparentemente simples.
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"capital"
- Crítica e Desfecho: Este verso isolado é o ponto de virada crítica do poema. Ele conecta o espetáculo da Copa ao "capital", sugerindo que o jogo é instrumentalizado como um produto de consumo global.
- Contraste com a leveza inicial: A simplicidade e ludicidade dos primeiros versos são desconstruídas pelo peso da palavra "capital", que carrega conotações de exploração, comercialização e desigualdade.
Temas Centrais:
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A Dualidade do Futebol:
- O poema reflete sobre o contraste entre a essência simples e lúdica do futebol (a bola, o capim) e sua transformação em um grande espetáculo global movido pelo capital.
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A Efemeridade e o Vazio:
- Palavras como "óca" e "bôba" destacam a trivialidade ou o vazio inerente ao espetáculo, sugerindo que, sob a superfície, há uma desconexão entre o que é jogado e o que é explorado.
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Crítica ao Capitalismo:
- O uso do termo "capital" no final desloca a atenção para a comercialização do futebol, transformando-o de arte popular em mercadoria global.
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Natureza versus Sociedade:
- O "capim" remete ao campo como um espaço natural e comunitário, enquanto o "capital" simboliza a apropriação desse espaço por forças econômicas.
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O Lúdico e o Político:
- Embora o poema comece com um tom leve e brincalhão, ele termina com um comentário político e crítico, mostrando como o futebol, apesar de sua simplicidade, está imerso em dinâmicas mais amplas.
Estilo e Linguagem:
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Linguagem Minimalista:
- O poema utiliza poucas palavras, mas cada uma carrega múltiplos significados, criando camadas interpretativas.
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Sonoridade e Ritmo:
- A repetição de sons (ôpa, óca, bôba) cria um ritmo que remete ao movimento e ao jogo, tornando o poema quase musical.
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Estrutura Fragmentada:
- Os versos curtos e as pausas criam um fluxo que reflete a fragmentação entre o lúdico e o crítico, entre a leveza do jogo e o peso das forças econômicas.
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Ironia Implícita:
- Termos como "coisa e tal" e "bôba" trazem um tom irônico e descontraído que, combinado com o final mais sério, reforça a crítica implícita.
Considerações Finais:
"Copa" é um poema que, através de sua linguagem econômica e brincalhona, reflete sobre o futebol como fenômeno cultural e econômico. Ele combina a leveza do jogo com uma crítica ao seu uso pelo capital, destacando o contraste entre a simplicidade do ato de jogar e a complexidade do espetáculo globalizado. Com humor, ironia e densidade simbólica, o poema nos convida a pensar sobre o que realmente significa a "Copa" e o que ela representa em um mundo cada vez mais dominado pelo capital.