11/08/2013

nem isto
nem aquilo
somente
o risco visível
do invisível

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Análise do poema:

O poema "nem isto / nem aquilo" é uma reflexão concisa e enigmática que explora a dualidade, a incerteza e o paradoxo do visível e do invisível. Com uma linguagem minimalista e uma construção deliberadamente ambígua, o poema convida o leitor a refletir sobre o que está além das polaridades e sobre a essência das coisas que escapam ao olhar superficial.


Análise por Versos:

  1. "nem isto / nem aquilo"

    • Recusa da dualidade: A abertura rejeita categorizações e oposições binárias, sugerindo que o foco do poema está fora do escopo dessas divisões comuns.
    • Indefinição: A expressão evoca um estado de suspensão ou vazio, onde o eu lírico se recusa a escolher entre extremos, buscando algo além do tangível.
    • Eco filosófico: Esse verso dialoga com conceitos de tradição filosófica e espiritual, como a ideia budista de transcender dualidades ou a lógica negativa encontrada em místicos.
  2. "somente"

    • Essência minimalista: A palavra "somente" funciona como uma ponte entre o que foi negado anteriormente e o que será afirmado. Ela cria a expectativa de algo essencial, reduzido ao núcleo do que importa.
    • Tom conclusivo: Sugere que o poema está apontando para um único elemento, ao mesmo tempo simples e significativo.
  3. "o risco visível"

    • Perigo e fragilidade: O "risco" carrega uma ambiguidade rica, podendo remeter tanto a uma ameaça ou perigo quanto a um traço delicado e efêmero.
    • Contraste com o invisível: Ao qualificar o risco como "visível", o poema enfatiza a tensão entre o que pode ser percebido e o que permanece oculto.
    • Visualidade e percepção: O verso evoca algo que está à beira de ser compreendido, mas que ainda exige atenção cuidadosa para ser percebido.
  4. "do invisível"

    • A essência do que não se vê: O "invisível" é aqui apresentado como origem ou fonte do "risco visível", sugerindo que o que é visto é apenas uma manifestação parcial do que está além da percepção.
    • Paradoxo e profundidade: O verso final encapsula a complexidade do poema, destacando que o visível e o invisível coexistem em uma relação de tensão e interdependência.
    • Reflexão sobre o desconhecido: O invisível representa o mistério, o indizível, aquilo que está fora do alcance imediato, mas que ainda assim se faz presente.

Temas Centrais:

  1. Dualidade e Transcendência:

    • O poema rejeita polaridades simplistas ("isto" e "aquilo") para buscar uma dimensão que vá além delas.
  2. Visível e Invisível:

    • A interação entre o que pode ser visto e o que está oculto é central no poema, sugerindo que o mundo percebido é apenas um fragmento de algo maior.
  3. Essência e Efemeridade:

    • O "risco" simboliza algo fugaz e frágil, representando tanto a delicadeza da percepção quanto a inevitabilidade do desaparecimento.
  4. Paradoxo e Mistério:

    • A construção do poema enfatiza o paradoxo de tentar capturar o invisível por meio do visível, apontando para a impossibilidade de compreensão total.

Estilo e Linguagem:

  1. Minimalismo:

    • O poema é curto e preciso, utilizando uma linguagem econômica para transmitir ideias amplas e complexas.
  2. Ambiguidade Rica:

    • As palavras possuem múltiplos significados, permitindo diferentes interpretações e ampliando o impacto do texto.
  3. Tonalidade Filosófica:

    • O poema evoca uma meditação sobre conceitos abstratos, aproximando-se do pensamento místico e da filosofia.
  4. Estrutura Enigmática:

    • A construção do poema, com uma progressão de negação e afirmação, espelha o movimento de descoberta e introspecção.

Considerações Finais:

"nem isto / nem aquilo" é um poema que desafia convenções e percepções, propondo uma meditação sobre a relação entre o visível e o invisível, o tangível e o intangível. Ele se recusa a ser reduzido a categorias simples, apontando para a complexidade da existência e da percepção humana. Com sua linguagem minimalista e enigmática, o poema convida o leitor a contemplar o que está além das aparências e a reconhecer a delicadeza do "risco" que conecta o mundo visível ao invisível. É uma obra que provoca e inspira, ao mesmo tempo que acolhe o mistério como parte integral da experiência.

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