11/08/2013

Hermes,
falei coisas duras?
falei coisas difíceis?
apenas ecoei o grito
das rugas
entre ruas
e edifícios

*

Análise do poema:

O poema "Hermes" é uma reflexão que combina mitologia, crítica social e introspecção. Através de perguntas retóricas e uma construção imagética densa, o eu lírico explora o papel da comunicação e da expressão em um mundo marcado por tensões e desigualdades. Invocando Hermes, o deus grego da comunicação, o poema questiona se o ato de ecoar a realidade, por mais dura que seja, também carrega a responsabilidade de aliviar ou amplificar suas dores.


Análise por Versos:

  1. "Hermes"

    • Invocação mitológica: Hermes, o deus grego da comunicação, das mensagens e dos viajantes, é uma figura central para a reflexão. Ele é também mensageiro entre os mundos dos deuses e dos humanos, o que adiciona uma dimensão transcendental à narrativa.
    • Conexão com o tema: Ao invocar Hermes, o eu lírico sugere que a questão levantada está diretamente ligada à comunicação e à interpretação da mensagem, especialmente no contexto de realidades difíceis.
  2. "falei coisas duras? / falei coisas difíceis?"

    • Autocrítica e hesitação: As perguntas indicam um momento de dúvida ou reflexão, sugerindo que o eu lírico questiona se sua mensagem ou expressão foi adequada ou se causou desconforto.
    • Dualidade entre dureza e dificuldade: "Duras" remete ao impacto emocional ou ético das palavras, enquanto "difíceis" sugere complexidade ou inacessibilidade intelectual.
    • Responsabilidade do mensageiro: Essa autocrítica pode ser lida como uma ponderação sobre o papel de quem comunica verdades ou realidades que podem ser dolorosas.
  3. "apenas ecoei o grito"

    • Passividade ou mediação: O eu lírico se posiciona não como criador da mensagem, mas como mediador ou eco de algo que já existia. Isso alivia a responsabilidade direta, mas reforça o papel do comunicador como um reflexo do ambiente.
    • O grito como símbolo: O grito é uma expressão primal, carregada de dor, urgência e intensidade, representando aqui as vozes e experiências de uma coletividade.
  4. "das rugas / entre ruas / e edifícios"

    • Rugas como metáfora: As "rugas" simbolizam marcas do tempo, da experiência e do sofrimento humano. Elas podem ser interpretadas como as cicatrizes deixadas pela vida em pessoas ou em estruturas sociais.
    • Relação com o espaço urbano: A menção às "ruas" e "edifícios" conecta o grito a um ambiente urbano, marcado por desigualdades, tensões e histórias coletivas. As rugas entre esses espaços representam os conflitos invisíveis, os dramas ocultos no cotidiano da cidade.
    • Musicalidade e ritmo: A aliteração entre "rugas", "ruas" e "edifícios" cria uma sonoridade que reforça a interconexão entre os elementos descritos.

Temas Centrais:

  1. Responsabilidade na Comunicação:

    • O poema questiona o papel do mensageiro em transmitir verdades difíceis ou impactantes. Ele reflete sobre a tensão entre a necessidade de comunicar e as consequências dessa comunicação.
  2. Sofrimento Coletivo:

    • As "rugas entre ruas e edifícios" apontam para o sofrimento e as marcas deixadas pelo tempo e pelas desigualdades em contextos urbanos. O grito ecoado é tanto pessoal quanto coletivo.
  3. Conexão com a Mitologia:

    • A figura de Hermes amplia o alcance da mensagem, conectando o individual ao coletivo, o terreno ao divino, e sugerindo que a comunicação carrega consigo um elemento transcendental.
  4. Tensão entre Dureza e Verdade:

    • Ao questionar se falou coisas "duras" ou "difíceis", o poema reflete sobre a necessidade de enfrentar verdades desconfortáveis e as implicações éticas de fazê-lo.

Estilo e Linguagem:

  1. Interrogação e Reflexão:

    • As perguntas retóricas reforçam o tom introspectivo e convidam o leitor a participar da reflexão sobre os dilemas éticos da comunicação.
  2. Imagens Urbanas e Humanas:

    • As "rugas entre ruas e edifícios" combinam o humano e o urbano, criando uma metáfora rica que conecta o sofrimento individual à realidade social e arquitetônica.
  3. Simbologia Mitológica:

    • A invocação de Hermes dá ao poema uma profundidade simbólica, conectando questões contemporâneas a arquétipos universais.
  4. Economia Poética:

    • Com poucos versos, o poema condensa significados complexos, permitindo múltiplas interpretações e conexões simbólicas.

Considerações Finais:

"Hermes" é um poema que, com sutileza e densidade, reflete sobre o papel do comunicador como um eco das dores e marcas da sociedade. Ele explora temas de responsabilidade, sofrimento coletivo e a natureza da verdade em um contexto urbano e humano. A invocação de Hermes acrescenta uma camada mitológica que eleva o debate ético e simbólico, conectando a comunicação contemporânea à ideia de transcendência. É uma obra que provoca o leitor a pensar sobre o impacto de suas próprias palavras e ações em um mundo repleto de gritos e rugas invisíveis.

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