sono sem sonhos
sem despertares
sem memórias
sem sentidos (assemia)
Esquecimento
Este poema, com sua linguagem sucinta e sua estrutura fragmentada, é uma meditação sombria sobre a morte e o esquecimento. Ele explora a ideia da morte como um estado absoluto de ausência – de sonhos, despertares, memórias e sentidos –, contrapondo-a à vida, que é definida por essas experiências. A escolha de palavras diretas e imagens evocativas reforça o tom existencial, destacando a inevitabilidade do fim e sua incompreensibilidade.
Análise por Partes:
- Título: "ARS 2" - Ligação com o ciclo "ARS": O termo "ARS", que significa "arte" em latim, sugere que o poema faz parte de uma série sobre a relação entre a criação artística e temas universais. Neste caso, o poema parece abordar a arte de conceber a morte como conceito e experiência.
- Dualidade da Arte e Morte: O título pode insinuar que mesmo na ausência (a morte), existe uma forma de expressão ou compreensão artística.
 
- "Morte pura" - Essência da morte: A escolha da expressão "pura" para descrever a morte sugere uma visão essencialista, em que a morte é reduzida a sua forma mais fundamental, desprovida de metáforas ou ornamentos.
- Ausência absoluta: A "pureza" aqui implica a completa ausência de vida, sensações ou conexões, como uma contraposição direta à complexidade da existência.
 
- "sono sem sonhos" - Metáfora da morte: A morte é comparada a um sono, mas não um sono comum, e sim um estado de inexistência total. A ausência de sonhos elimina qualquer traço de continuidade entre vida e morte.
- Suspensão da consciência: A metáfora enfatiza a ideia de vazio absoluto, sem as nuances que caracterizam os estados intermediários, como o sonho.
 
- "sem despertares / sem memórias / sem sentidos (assemia)" - Acumulação de negações: A repetição do "sem" cria um ritmo que reforça a ausência e o vazio. Cada elemento destacado – despertares, memórias, sentidos – é uma parte essencial da experiência humana que é negada na morte.
- "(assemia)": A inclusão do termo, que significa "ausência de significado", sublinha a completa desintegração de qualquer conexão semântica, física ou emocional. Não há sentidos físicos ou simbólicos na morte.
- Desumanização do estado: A enumeração desses elementos ausentes reforça que a morte é um estado completamente alheio à experiência humana.
 
- "Esquecimento" - Culminação do vazio: Este verso isolado resume o conceito do poema. O esquecimento não é apenas individual (a perda de memória), mas também universal: a ideia de que a própria existência se dissolve em algo irrelevante ou sem significado.
- Silêncio absoluto: O esquecimento finaliza o poema com uma nota de irreversibilidade, sugerindo que tudo se perde no ato de morrer.
 
Temas Centrais:
- Ausência Absoluta: - O poema reflete sobre a morte como a ausência total de consciência e significado, enfatizando o vazio de experiências humanas, como sonhos, memórias e sentidos.
 
- Desumanização da Morte: - A morte é apresentada como um estado que transcende ou exclui tudo o que é humano, reduzindo a existência a um esquecimento puro.
 
- Incompreensibilidade do Fim: - A repetição das negações e a inclusão de "assemia" sugerem que a morte é um estado que escapa à compreensão humana, desprovido de qualquer resíduo de significado.
 
- Vazio e Silêncio: - O poema cria uma atmosfera de silêncio e vazio, tanto pela escolha de palavras quanto pela estrutura fragmentada e minimalista.
 
Estilo e Linguagem:
- Estrutura Fragmentada: - O uso de versos curtos, espaços em branco e enumerações reforça a ideia de interrupção e ausência, criando um ritmo que reflete o tema do poema.
 
- Minimalismo: - A linguagem é direta e econômica, com foco em conceitos e palavras que sugerem ausência, como "sem" e "esquecimento".
 
- Termos Técnicos e Filosóficos: - A inclusão de "assemia" confere um tom mais reflexivo e abstrato ao poema, sugerindo que o autor está explorando a morte não apenas de forma poética, mas também conceitual.
 
- Tom Sombrio e Contemplativo: - O poema carrega um tom de inevitabilidade e aceitação melancólica da morte como algo absoluto e incompreensível.
 
Considerações Finais:
"ARS 2" é uma meditação poética sobre a morte como a ausência total de experiências e significados. Ele destaca a desconexão radical entre a vida, que é cheia de sentidos, memórias e despertares, e a morte, que dissolve tudo isso. Com uma linguagem enxuta e imagens potentes, o poema convida o leitor a contemplar o vazio final e a dificuldade de dar sentido ao que está além da compreensão humana. O tom melancólico e filosófico transforma o poema em um estudo sobre o silêncio e o esquecimento como a essência do fim.
 
 
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