12/01/2015

pro umbigo o homem
pro homem a camisa
pra camisa o armário
pro armário o quarto
pro quarto o apartamento
pro apartamento o condomínio
pro condomínio a rua
pra rua o bairro
pro bairro a cidade
pra cidade o estado
pro estado a região
pra região o país
pro país o continente
pro continente o hemisfério
pro hemisfério o mundo
pro mundo o vácuo
SI-DE-RAL

(e o umbigo continua aqui...)


ANÁLISE

Este poema apresenta uma reflexão cíclica e irônica sobre a relação entre o indivíduo e o universo. Ele utiliza uma progressão lógica que vai do íntimo (o umbigo) ao infinito (o "vácuo sideral"), para depois retornar ao ponto de partida, ressaltando a centralidade do ego humano em meio à vastidão do cosmos. O poema combina humor, crítica e uma visão existencial, ao mesmo tempo que expõe a tensão entre a imensidão externa e a autorreferência interna.


Análise Estrutural:

  1. Progressão Escalonada:

    • Cada verso expande o espaço de referência, começando no nível mais íntimo ("pro umbigo o homem") e avançando por diferentes escalas: a casa, o bairro, a cidade, o país, até o universo.
    • Essa estrutura em cascata cria uma sensação de ampliação progressiva, como se o poema imitasse a expansão do pensamento humano, desde a preocupação com o individual até o cósmico.
    • A repetição anafórica de "pro" e "pra" confere ritmo ao poema, imitando um movimento contínuo e inevitável.
  2. O "vácuo sideral":

    • A introdução do "vácuo" como destino final subverte a ideia de um cosmos cheio de sentido. Em vez disso, ele é apresentado como um espaço de ausência, vazio, e talvez desimportância.
    • O termo "sideral" sugere a vastidão e o incomensurável, enfatizando o contraste com o umbigo, uma imagem pequena e autorreferente.
  3. Retorno ao umbigo:

    • O último verso, "(e o umbigo continua aqui...)", ironiza toda a progressão anterior, ao mostrar que, apesar da vastidão do universo, o ser humano permanece fixado em si mesmo.
    • Esse retorno reforça a ideia de que, não importa a escala explorada, o homem frequentemente reduz tudo à perspectiva do próprio ego.

Temas Centrais:

  1. Ego e Centralidade Humana:

    • O poema satiriza a tendência humana de se colocar no centro de todas as coisas, mesmo em face da vastidão do universo.
    • A metáfora do umbigo, símbolo da autorreferência e do egocentrismo, conecta o íntimo e o cósmico, expondo a desconexão entre a grandiosidade do universo e as preocupações humanas.
  2. Expansão e Insignificância:

    • O movimento do poema, que vai do local ao universal, ressalta a insignificância do indivíduo diante da escala cósmica, ao mesmo tempo que sublinha a ironia de um universo vasto ainda girar, subjetivamente, em torno do ego humano.
  3. Ceticismo e Ironia Existencial:

    • A referência ao "vácuo sideral" e o retorno ao umbigo sugerem uma crítica ao antropocentrismo e talvez ao próprio sentido da existência humana em um universo indiferente.

Linguagem e Estilo:

  1. Linguagem Simples e Repetitiva:

    • O uso de frases curtas e repetitivas dá ao poema um tom quase infantil, que contrasta com a complexidade do tema abordado.
    • Esse estilo enfatiza a ideia de que o pensamento humano, por mais ambicioso que seja, muitas vezes retorna a questões básicas e egoicas.
  2. Ironia e Humor:

    • O tom irônico permeia o poema, especialmente na escolha de começar e terminar com o umbigo, que é trivial e autorreferente em contraste com a vastidão do "sideral".
  3. Estrutura Circular:

    • A volta ao umbigo no final reforça a ideia de um ciclo infinito e fútil, sugerindo que, mesmo ao explorar a imensidão, o pensamento humano tende a girar em torno de si mesmo.

Considerações Finais:

Este poema é uma crítica poética e irônica ao egocentrismo humano e à tendência de reduzir o imenso (o cosmos) ao pequeno (o umbigo). Ele brinca com a escala, a repetição e o contraste para expor a disparidade entre as preocupações humanas e a vastidão do universo. Com humor e profundidade, o poema nos lembra de que, apesar de nossas ambições e explorações, continuamos presos à nossa própria perspectiva limitada, reiterando que o "umbigo" – literal e metafórico – permanece como o centro de nossa experiência subjetiva.


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