08/01/2015

ARS 3

jogar pérolas aos porcos
é lançar cacos de palavras
para pés que não sangram
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ANÁLISE

Análise do poema: "ARS 3"

Este poema é uma reflexão concisa e densa sobre a comunicação, o valor da linguagem e a relação entre o emissor e o receptor. Ele utiliza metáforas poderosas para explorar temas como o desperdício do que é precioso, a insensibilidade e o descompasso entre quem cria e quem recebe. O tom crítico e melancólico revela a frustração do eu lírico diante da incompreensão ou indiferença ao que é significativo.


Análise por Verso:

  1. "jogar pérolas aos porcos"

    • Referência ao provérbio: O verso evoca a expressão bíblica "não atireis pérolas aos porcos" (Mateus 7:6), que sugere o desperdício de algo valioso com quem não sabe ou não pode apreciá-lo. As pérolas representam algo precioso, como ideias, sentimentos ou criações.
    • Frustração criativa: Este verso reflete o sentimento de quem oferece algo de grande valor, mas percebe que isso é tratado com indiferença ou desdém.
  2. "é lançar cacos de palavras"

    • Desvalorização da linguagem: Aqui, o poema subverte a metáfora inicial. O que era precioso (pérolas) transforma-se em "cacos de palavras", sugerindo que, ao serem ignoradas ou maltratadas, as palavras perdem seu valor e tornam-se fragmentos sem sentido.
    • Fragmentação: A ideia de "cacos" evoca algo quebrado ou perdido, indicando que a comunicação falha ou não é recebida de forma íntegra.
    • Crítica ao receptor: O verso implica que as palavras, por mais preciosas que sejam, tornam-se inúteis quando não encontram eco ou compreensão no outro.
  3. "para pés que não sangram"

    • Insensibilidade: Os "pés que não sangram" simbolizam aqueles que são insensíveis, indiferentes ou impermeáveis ao impacto das palavras ou do significado. Não há vulnerabilidade, empatia ou abertura para receber o que foi oferecido.
    • Ação inócua: Este verso final reforça a ideia de inutilidade: as palavras, ainda que preciosas ou cortantes como cacos, não têm efeito sobre quem não sente ou não está disposto a sentir.
    • Imagem poderosa: A metáfora dos pés que não sangram sugere uma relação desproporcional entre o esforço de quem lança (pérolas ou palavras) e a incapacidade do outro de ser tocado ou ferido por isso.

Temas Centrais:

  1. Desvalorização da Comunicação:

    • O poema critica a situação em que algo significativo ou precioso é oferecido, mas encontra uma audiência incapaz de apreciar ou entender. É uma metáfora para o vazio da comunicação diante da insensibilidade.
  2. Insensibilidade e Indiferença:

    • Os "pés que não sangram" refletem a indiferença ou a resistência ao impacto das palavras, simbolizando uma humanidade insensível às nuances do que é profundo ou belo.
  3. Frustração Criativa e Existencial:

    • O poema expressa a angústia do criador ou emissor (seja um poeta, artista ou comunicador) diante da sensação de que suas criações caem no vazio ou são subestimadas.
  4. Transformação do Precioso em Insignificante:

    • O movimento do poema, de "pérolas" a "cacos", simboliza a perda de valor ou significado quando algo valioso é tratado com desdém ou incompreensão.

Estilo e Linguagem:

  1. Uso de Metáforas Poderosas:

    • As metáforas de "pérolas aos porcos", "cacos de palavras" e "pés que não sangram" criam imagens densas e provocativas, que carregam o peso emocional e crítico do poema.
  2. Economia de Palavras:

    • O poema é curto, mas concentra camadas de significados, exigindo que o leitor reflita sobre as implicações de cada imagem.
  3. Tom Melancólico e Crítico:

    • Há um tom de resignação e frustração no poema, que reflete tanto a dor do desperdício quanto a crítica à indiferença do receptor.
  4. Estrutura Circular:

    • O movimento de "pérolas" para "cacos" cria uma sensação de circularidade, reforçando a ideia de que o precioso se torna inútil quando tratado com desprezo.

Considerações Finais:

"ARS 3" é um poema que reflete sobre a precariedade da comunicação e a frustração diante da indiferença humana. Ele aborda de forma crítica e melancólica o valor das palavras e a dificuldade de transmitir o que é precioso para uma audiência insensível. A progressão simbólica de pérolas para cacos, culminando nos "pés que não sangram", destaca a tensão entre o criador e o receptor, transformando uma reflexão sobre a arte e a linguagem em uma meditação mais ampla sobre a fragilidade da troca humana.


ARS 2

Morte pura
sono sem sonhos
         sem despertares
         sem memórias
         sem sentidos (assemia)
Esquecimento
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ANÁLISE

Este poema, com sua linguagem sucinta e sua estrutura fragmentada, é uma meditação sombria sobre a morte e o esquecimento. Ele explora a ideia da morte como um estado absoluto de ausência – de sonhos, despertares, memórias e sentidos –, contrapondo-a à vida, que é definida por essas experiências. A escolha de palavras diretas e imagens evocativas reforça o tom existencial, destacando a inevitabilidade do fim e sua incompreensibilidade.


Análise por Partes:

  1. Título: "ARS 2"

    • Ligação com o ciclo "ARS": O termo "ARS", que significa "arte" em latim, sugere que o poema faz parte de uma série sobre a relação entre a criação artística e temas universais. Neste caso, o poema parece abordar a arte de conceber a morte como conceito e experiência.
    • Dualidade da Arte e Morte: O título pode insinuar que mesmo na ausência (a morte), existe uma forma de expressão ou compreensão artística.
  2. "Morte pura"

    • Essência da morte: A escolha da expressão "pura" para descrever a morte sugere uma visão essencialista, em que a morte é reduzida a sua forma mais fundamental, desprovida de metáforas ou ornamentos.
    • Ausência absoluta: A "pureza" aqui implica a completa ausência de vida, sensações ou conexões, como uma contraposição direta à complexidade da existência.
  3. "sono sem sonhos"

    • Metáfora da morte: A morte é comparada a um sono, mas não um sono comum, e sim um estado de inexistência total. A ausência de sonhos elimina qualquer traço de continuidade entre vida e morte.
    • Suspensão da consciência: A metáfora enfatiza a ideia de vazio absoluto, sem as nuances que caracterizam os estados intermediários, como o sonho.
  4. "sem despertares / sem memórias / sem sentidos (assemia)"

    • Acumulação de negações: A repetição do "sem" cria um ritmo que reforça a ausência e o vazio. Cada elemento destacado – despertares, memórias, sentidos – é uma parte essencial da experiência humana que é negada na morte.
    • "(assemia)": A inclusão do termo, que significa "ausência de significado", sublinha a completa desintegração de qualquer conexão semântica, física ou emocional. Não há sentidos físicos ou simbólicos na morte.
    • Desumanização do estado: A enumeração desses elementos ausentes reforça que a morte é um estado completamente alheio à experiência humana.
  5. "Esquecimento"

    • Culminação do vazio: Este verso isolado resume o conceito do poema. O esquecimento não é apenas individual (a perda de memória), mas também universal: a ideia de que a própria existência se dissolve em algo irrelevante ou sem significado.
    • Silêncio absoluto: O esquecimento finaliza o poema com uma nota de irreversibilidade, sugerindo que tudo se perde no ato de morrer.

Temas Centrais:

  1. Ausência Absoluta:

    • O poema reflete sobre a morte como a ausência total de consciência e significado, enfatizando o vazio de experiências humanas, como sonhos, memórias e sentidos.
  2. Desumanização da Morte:

    • A morte é apresentada como um estado que transcende ou exclui tudo o que é humano, reduzindo a existência a um esquecimento puro.
  3. Incompreensibilidade do Fim:

    • A repetição das negações e a inclusão de "assemia" sugerem que a morte é um estado que escapa à compreensão humana, desprovido de qualquer resíduo de significado.
  4. Vazio e Silêncio:

    • O poema cria uma atmosfera de silêncio e vazio, tanto pela escolha de palavras quanto pela estrutura fragmentada e minimalista.

Estilo e Linguagem:

  1. Estrutura Fragmentada:

    • O uso de versos curtos, espaços em branco e enumerações reforça a ideia de interrupção e ausência, criando um ritmo que reflete o tema do poema.
  2. Minimalismo:

    • A linguagem é direta e econômica, com foco em conceitos e palavras que sugerem ausência, como "sem" e "esquecimento".
  3. Termos Técnicos e Filosóficos:

    • A inclusão de "assemia" confere um tom mais reflexivo e abstrato ao poema, sugerindo que o autor está explorando a morte não apenas de forma poética, mas também conceitual.
  4. Tom Sombrio e Contemplativo:

    • O poema carrega um tom de inevitabilidade e aceitação melancólica da morte como algo absoluto e incompreensível.

Considerações Finais:

"ARS 2" é uma meditação poética sobre a morte como a ausência total de experiências e significados. Ele destaca a desconexão radical entre a vida, que é cheia de sentidos, memórias e despertares, e a morte, que dissolve tudo isso. Com uma linguagem enxuta e imagens potentes, o poema convida o leitor a contemplar o vazio final e a dificuldade de dar sentido ao que está além da compreensão humana. O tom melancólico e filosófico transforma o poema em um estudo sobre o silêncio e o esquecimento como a essência do fim.

ARS 1

amor e morte
poder e delírio
casa e pão

equações
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ANÁLISE

Análise do poema: "ARS 1"

"ARS 1" apresenta uma reflexão poética que condensa aspectos essenciais da experiência humana em imagens e conceitos fundamentais. Através de pares simbólicos e econômicos, o poema estabelece uma relação entre opostos e complementos, sugerindo uma espécie de "equação" existencial que combina sentimentos, instintos e necessidades. O título "ARS", que remete à arte em latim, reforça a ideia de que o poema busca encapsular a essência da vida através de uma construção artística minimalista.


Análise por Versos:

  1. "amor e morte"

    • Polaridade fundamental: Este par remete a dois extremos inseparáveis da existência. O amor representa a força criativa, a conexão e o desejo de perpetuação, enquanto a morte simboliza o fim, a separação e o limite da vida.
    • Força dramática: A justaposição de amor e morte é uma referência clássica, encontrada em diversas tradições artísticas e filosóficas, como o conceito freudiano de Eros (vida) e Tânatos (morte). Aqui, ela evoca a coexistência paradoxal dessas forças na condição humana.
  2. "poder e delírio"

    • Tensão entre controle e descontrole: O par "poder e delírio" explora a relação entre a busca por controle (poder) e a perda de controle (delírio). O poder pode ser associado à ordem e à dominação, enquanto o delírio sugere excesso, fantasia ou fuga da realidade.
    • Crítica implícita: A proximidade entre essas palavras pode sugerir uma crítica ou reflexão sobre como o poder frequentemente se transforma em delírio, ou como o delírio é uma forma de lidar com a impossibilidade do controle absoluto.
  3. "casa e pão"

    • Base da sobrevivência: Este par evoca necessidades básicas e concretas da vida: o abrigo (casa) e o sustento (pão). Em contraste com os pares anteriores, mais abstratos, "casa e pão" trazem o poema para o terreno do cotidiano e da subsistência.
    • Humanidade compartilhada: "Casa e pão" também podem ser vistos como símbolos universais de segurança e conforto, remetendo ao que é fundamental para todos os seres humanos.
  4. "equações"

    • Síntese conceitual: Este verso final une os pares anteriores, sugerindo que a vida é composta por essas interações e tensões, como variáveis em uma equação complexa.
    • Arte e racionalidade: A palavra "equações" traz uma dimensão racional e estrutural, indicando que, embora os elementos mencionados sejam abstratos e emocionais, há uma lógica inerente nas relações entre eles.
    • Solução ou insolubilidade: O uso de "equações" pode implicar que a vida é um problema a ser resolvido, mas também pode sugerir que algumas dessas equações são insolúveis, reforçando o mistério e a incerteza da existência.

Temas Centrais:

  1. Dualidade da Vida:

    • O poema explora pares que representam aspectos fundamentais da experiência humana, mostrando como forças opostas coexistem e moldam a existência.
  2. Interconexão entre Abstrato e Concreto:

    • Enquanto "amor e morte" e "poder e delírio" lidam com conceitos abstratos e emocionais, "casa e pão" trazem a concretude das necessidades diárias. Isso sugere que a vida é composta por uma interação entre o transcendental e o material.
  3. A Vida como Arte e Lógica:

    • O título "ARS" e o verso "equações" reforçam a ideia de que a vida pode ser vista tanto como uma criação artística quanto como um sistema lógico de interações e tensões.
  4. A Fragilidade e a Complexidade da Existência:

    • O poema reconhece que os elementos que compõem a vida são ao mesmo tempo simples em sua essência e intrincados em suas interações, como variáveis de uma equação impossível de resolver completamente.

Estilo e Linguagem:

  1. Minimalismo e Concisão:

    • O poema é extremamente econômico em palavras, mas rico em significado, deixando espaço para o leitor preencher as lacunas interpretativas.
  2. Uso de Pares Contrapostos:

    • A estrutura baseada em pares cria um ritmo binário e simétrico, refletindo a ideia de equilíbrio e oposição que permeia o poema.
  3. Síntese no Verso Final:

    • A palavra "equações" age como um fechamento conceitual, sintetizando os elementos mencionados e conferindo ao poema uma dimensão reflexiva e analítica.
  4. Tonalidade Universal:

    • Os temas abordados são universais e acessíveis, conectando-se a experiências humanas fundamentais e transcendendo contextos específicos.

Considerações Finais:

"ARS 1" é um poema que, apesar de sua brevidade, abrange uma vasta gama de reflexões sobre a existência humana. Ele combina a dualidade essencial da vida com a simplicidade das necessidades básicas, sugerindo que o ser humano vive em um constante equilíbrio entre forças opostas e complementares. A palavra "equações" sugere que essas interações são estruturais e universais, mas não necessariamente resolvíveis, reafirmando a complexidade e o mistério da vida. A combinação de elementos abstratos e concretos, emocionais e racionais, faz deste poema uma meditação rica e multifacetada sobre a arte de viver.

04/01/2015

Antes de falar, pense
Antes de escrever, pense twice
Antes de comunicar, respeite
                         (o interlocutor)
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ANÁLISE

Este poema aborda a comunicação humana com um tom direto e reflexivo, destacando a importância da responsabilidade no uso da linguagem. Ele propõe uma abordagem consciente antes de falar, escrever ou comunicar, enfatizando a necessidade de reflexão e respeito, especialmente ao considerar o impacto sobre o interlocutor. A estrutura simples e o uso de recursos como repetição e interrupção visual (no parêntese) reforçam a mensagem central.


Análise por Verso:

  1. "Antes de falar, pense"

    • Reflexão antes da fala: O verso inicial introduz a necessidade de pensar antes de verbalizar algo, sugerindo uma pausa reflexiva. Essa ideia ressoa com a sabedoria popular sobre a importância de considerar as palavras antes de proferi-las.
    • Foco na oralidade: "Falar" aqui representa a comunicação espontânea, que muitas vezes é feita sem a devida reflexão. O poema sugere um esforço consciente para evitar impulsividade.
  2. "Antes de escrever, pense twice"

    • Ênfase na escrita: O verso amplia a ideia inicial para incluir a escrita, que, por ser mais deliberada, exige ainda mais reflexão ("pense twice").
    • Uso do inglês: A inclusão do inglês ("twice") provoca uma interrupção na fluidez da leitura e destaca a importância da repetição do pensamento. Além disso, pode ser lida como uma referência ao contexto global da comunicação contemporânea, em que a escrita atinge públicos amplos e diversificados.
  3. "Antes de comunicar, respeite"

    • Respeito como princípio da comunicação: Este verso centraliza o papel do respeito no ato de comunicar. A palavra "comunicar" engloba tanto falar quanto escrever, ampliando o escopo da reflexão para todas as formas de interação.
    • Ética na interação: O respeito aqui é fundamental para estabelecer um diálogo saudável, sugerindo que a comunicação não é apenas uma questão de transmitir ideias, mas de considerar o outro.
  4. "(o interlocutor)"

    • Interrupção visual e foco no outro: O uso do parêntese coloca "o interlocutor" como um elemento destacado, chamando a atenção para quem recebe a mensagem. O formato visual reforça que o interlocutor está no centro do ato de comunicar.
    • Empatia e alteridade: Ao enfatizar o destinatário da comunicação, o poema sublinha a importância da empatia e do reconhecimento do outro como sujeito digno de consideração.

Temas Centrais:

  1. Reflexão e Consciência na Comunicação:

    • O poema destaca a necessidade de pensar antes de falar ou escrever, promovendo uma comunicação mais consciente e ponderada.
  2. Respeito e Ética:

    • A ideia de respeitar o interlocutor reflete uma preocupação ética, reconhecendo que a comunicação tem impacto emocional, social e relacional.
  3. Responsabilidade Linguística:

    • O poema sugere que a linguagem não é neutra e que sua utilização requer responsabilidade, pois as palavras podem construir ou ferir.
  4. Empatia e Alteridade:

    • A inclusão do "interlocutor" no final reforça a centralidade do outro na comunicação, promovendo um olhar empático e cuidadoso.

Estilo e Linguagem:

  1. Estrutura Direta:

    • O poema utiliza frases curtas e imperativas, criando um tom instrutivo e reflexivo. A simplicidade do estilo torna a mensagem acessível e clara.
  2. Repetição e Progressão:

    • A repetição de "Antes de" cria um ritmo que reforça a ideia de preparação e pausa reflexiva antes de qualquer ação comunicativa.
  3. Contraste Visual:

    • O uso do parêntese no último verso cria um contraste visual, isolando "o interlocutor" como elemento central e enfatizando a ideia de que toda comunicação deve considerar o outro.
  4. Intertextualidade com Sabedoria Popular:

    • A frase inicial ("Antes de falar, pense") e sua expansão nas linhas seguintes dialogam com provérbios e ensinamentos populares, modernizando-os ao incluir a escrita e a comunicação em geral.

Considerações Finais:

Este poema é um convite à reflexão ética sobre a comunicação. Com uma estrutura simples e direta, ele aborda a necessidade de pensar e respeitar antes de falar ou escrever, enfatizando o impacto das palavras sobre o outro. A inclusão do inglês e do parêntese acrescenta camadas de significado, destacando tanto a repetição do pensamento quanto o foco no interlocutor. Em tempos de comunicação rápida e muitas vezes impulsiva, o poema atua como um lembrete poderoso da importância de responsabilidade, empatia e cuidado na interação humana.

16/10/2014

o corretor
a corretora
o correr à toa
atrás do touro:
vaca!
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Este poema curto e engenhoso brinca com a linguagem, os sentidos das palavras e suas relações fonéticas, criando múltiplos significados e associações. Ele mistura humor, crítica e ironia para refletir sobre ações humanas, seus desdobramentos e, talvez, a futilidade de certas buscas.


Análise por Verso:

  1. "o corretor"

    • Profissão ou movimento? O termo "corretor" pode ser lido como a figura profissional que negocia algo (como imóveis ou seguros), mas também pode evocar o ato de "correr", especialmente no contexto do próximo verso.
    • Figura genérica: Ele é introduzido sem contexto imediato, abrindo espaço para interpretações que serão moduladas pelos versos seguintes.
  2. "a corretora"

    • Dualidade de gêneros: A introdução da "corretora" sugere um paralelismo com o "corretor", podendo ser lida como uma parceira, contraparte ou apenas uma continuidade do jogo fonético.
    • Reforço da ação: Assim como "corretor", "corretora" carrega a ambiguidade entre o profissional e o ato de correr, adicionando complexidade ao significado.
  3. "o correr à toa"

    • Futilidade e movimento: Este verso amplia a interpretação dos dois anteriores. Ao sugerir que o correr é "à toa", o poema questiona a utilidade ou propósito das ações humanas, especialmente aquelas associadas a buscas incessantes ou a profissões que demandam movimento constante.
    • Crítica implícita: Pode ser uma crítica ao vazio ou à superficialidade de certas atividades humanas que se movem muito, mas produzem pouco significado.
  4. "atrás do touro:"

    • Símbolo de força e ambição: O "touro" pode ser lido como uma metáfora para algo grandioso, poderoso ou valioso, simbolizando objetivos que impulsionam a ação ("correr à toa"). Em culturas e mitologias diversas, o touro está associado à força e à fertilidade.
    • Busca obstinada: O ato de "correr atrás do touro" sugere uma perseguição constante, mas possivelmente infrutífera, alinhando-se à ideia de futilidade apresentada antes.
  5. "vaca!"

    • Surpresa e humor: Este verso final quebra a expectativa do leitor. Ao invés de alcançar o touro, surge a "vaca", uma figura associada à passividade e à doação (como fonte de leite). Isso cria uma oposição cômica e irônica ao esforço descrito nos versos anteriores.
    • Desfecho crítico: O uso de "vaca" pode ser interpretado como uma redução do que foi buscado (o touro), reforçando o absurdo ou a incongruência das ações humanas.

Temas Centrais:

  1. Futilidade das Buscas Humanas:

    • O poema reflete sobre a inutilidade de algumas ações e perseguições, destacando a desconexão entre o esforço e o resultado.
  2. Ironia do Esforço e do Resultado:

    • A busca pelo touro (algo poderoso e grandioso) resulta na vaca, uma figura menos associada à ambição e mais ao pragmatismo. O desfecho sugere que as aspirações podem levar a resultados inesperados e anticlimáticos.
  3. Jogo com a Linguagem e o Cotidiano:

    • O poema utiliza trocadilhos, sonoridades e associações para construir sua mensagem, brincando com a ambiguidade das palavras e com imagens comuns, como o corretor e a corretora.
  4. Crítica Social e Profissional:

    • A referência ao "corretor" e à "corretora" pode aludir a profissões caracterizadas pelo movimento constante e pela busca incessante por algo (lucro, vendas, objetivos), questionando o propósito dessas atividades.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia de Palavras:

    • O poema utiliza poucas palavras, mas cria significados densos e múltiplos, convidando o leitor a explorar as conexões implícitas entre os versos.
  2. Jogo de Sonoridade:

    • A repetição de "corretor", "corretora" e "correr" reforça o ritmo do poema e dá unidade à construção, enquanto "touro" e "vaca" criam uma rima inesperada e cômica.
  3. Humor e Ironia:

    • O desfecho com "vaca!" quebra a expectativa de forma súbita, inserindo um tom humorístico que, ao mesmo tempo, reforça a crítica implícita no poema.
  4. Estrutura Circular:

    • O movimento do poema, que começa com o "corretor" e termina com a "vaca", cria uma sensação de ciclo ou repetição, ecoando a ideia de esforço contínuo sem finalidade clara.

Considerações Finais:

"O corretor" é um poema que, apesar de sua brevidade, reflete sobre temas universais como o esforço humano, a busca por objetivos e a ironia dos resultados. Com um tom bem-humorado e crítico, ele subverte expectativas ao desconstruir a grandiosidade da busca ("touro") e expor a banalidade do que é alcançado ("vaca"). A simplicidade aparente do poema esconde uma complexidade de interpretações, tornando-o uma peça instigante e rica em significado.

12/10/2014

E Nini Maiakovsky?
Toda trabalhada na renda de bilro negra
- tecida por artesãs cegas do Cariri -
foi ventar, obrou...
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ANÁLISE

Este poema curto, mas repleto de imagens vívidas e contrastantes, mistura elementos de regionalismo, humor, crítica e subversão. Ele combina referências culturais (como a renda de bilro e o Cariri) com a irreverência e uma alusão implícita a Vladimir Maiakovsky, poeta associado à vanguarda e à ruptura. A figura de "Nini Maiakovsky" evoca tanto a sofisticação quanto a desconstrução, numa narrativa que termina de forma inesperada.


Análise por Verso:

  1. "E Nini Maiakovsky?"

    • Abertura intrigante: O uso do "E" sugere que a narrativa começa em um ponto intermediário, como se o leitor estivesse entrando em uma conversa já em andamento. Isso provoca curiosidade e convida à interpretação.
    • Figura de Nini Maiakovsky: A combinação do nome "Nini" (que soa informal e regional) com o sobrenome "Maiakovsky" cria um contraste entre o cotidiano e o vanguardista. A referência ao poeta russo Vladimir Maiakovsky sugere uma figura ousada, provocativa e desafiadora das normas.
    • Personificação: "Nini Maiakovsky" parece ser tanto uma homenagem quanto uma ironia, talvez simbolizando uma fusão entre a arte popular e a alta cultura.
  2. "Toda trabalhada na renda de bilro negra"

    • Estética e tradição: A renda de bilro é uma forma de artesanato tradicional brasileira, especialmente associada ao Nordeste. O adjetivo "negra" adiciona um tom de sofisticação e mistério à imagem, transformando a figura de Nini em uma personagem tanto local quanto enigmática.
    • Regionalismo: A menção à renda de bilro conecta a figura de Nini ao Cariri, região nordestina rica em tradições culturais. Isso reforça a ideia de fusão entre o popular e o universal, o tradicional e o moderno.
  3. "- tecida por artesãs cegas do Cariri -"

    • Subversão do artesanato: A menção às "artesãs cegas" cria uma imagem paradoxal: como alguém privado da visão pode produzir algo tão refinado? Isso sugere a força da habilidade tátil e do aprendizado passado de geração em geração, destacando a potência da arte em meio a limitações.
    • Conexão com o poético: A cegueira das artesãs também pode ser lida como uma metáfora para a intuição e a transcendência, características muitas vezes atribuídas à criação artística.
    • Tom de reverência e ironia: Embora o verso exalte o trabalho das artesãs, o tom geral do poema permite uma leitura irônica, que pode tanto valorizar quanto questionar a mística associada à produção artesanal.
  4. "foi ventar, obrou..."

    • Ação inesperada: Este verso final quebra o tom sofisticado e evocativo dos anteriores. A palavra "ventar" sugere movimento, liberdade ou leveza, mas é imediatamente desconstruída pela crueza de "obrou", termo coloquial para defecar.
    • Irreverência: O contraste entre a figura aparentemente refinada e a ação prosaica subverte qualquer idealização, trazendo uma camada de humor e ironia que desafia as expectativas do leitor.
    • Crítica implícita: Esse final pode ser lido como uma crítica à tentativa de idealizar a arte, a cultura ou figuras míticas. Nini, trabalhada em renda negra, ainda é uma figura humana e mundana, sujeita à natureza e às suas necessidades.

Temas Centrais:

  1. Fusão entre o Erudito e o Popular:

    • A figura de Nini Maiakovsky representa um cruzamento entre a alta cultura (representada pelo sobrenome Maiakovsky) e o popular/regional (a renda de bilro e o Cariri).
  2. Subversão e Irreverência:

    • O poema questiona o sublime e a idealização artística ao contrastar imagens sofisticadas com um final prosaico e irreverente.
  3. Arte e Limitações:

    • A referência às "artesãs cegas" sugere que a arte não depende apenas de ferramentas tradicionais (como a visão), mas de intuição, prática e habilidade. Essa ideia ecoa a criação poética e sua capacidade de transcender limitações.
  4. Humanidade e Contradição:

    • Ao terminar com "obrou", o poema lembra que mesmo figuras aparentemente sublimes ou idealizadas estão sujeitas à banalidade e à fisicalidade da existência.

Estilo e Linguagem:

  1. Contraste e Paradoxo:

    • O poema constrói uma atmosfera sofisticada e misteriosa com "renda de bilro negra" e "artesãs cegas", mas quebra essa expectativa com a irreverência do final.
  2. Humor e Ironia:

    • A escolha de "obrou" como verbo final insere um tom de humor que desestabiliza a seriedade dos versos anteriores, sugerindo que o sublime e o mundano coexistem.
  3. Regionalismo e Universalidade:

    • A combinação de elementos regionais (Cariri, renda de bilro) com uma referência literária universal (Maiakovsky) cria um diálogo entre culturas e tempos.
  4. Ambiguidade Narrativa:

    • O poema não explica quem é Nini Maiakovsky, deixando sua identidade aberta à interpretação. Isso amplia o impacto simbólico da personagem e do poema como um todo.

Considerações Finais:

"E Nini Maiakovsky?" é um poema que transita entre o sublime e o mundano, o regional e o universal, explorando temas como arte, humanidade e contradição. Ele utiliza imagens ricas e contrastantes para construir uma narrativa que culmina em um final desconcertante e bem-humorado. A figura de Nini, com sua renda negra e sua ação irreverente, encarna a complexidade da arte e da existência, lembrando que até o mais refinado está sujeito ao trivial. É um poema que provoca e desconstrói, mantendo o leitor em um estado de reflexão e surpresa.

17/08/2014

homem golfinho
nada navega
nada

homem nada
golfinho navega
homem nada

desde 1987
num mar
de hemácias
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Este poema é uma reflexão sobre a condição humana, marcada por contrastes, ambiguidades e a coexistência de ação e inação. A figura do "homem golfinho" mistura o humano e o animal em uma metáfora rica que aborda a sobrevivência, a fluidez e a fragilidade da vida. A introdução do ano "1987" e a menção a um "mar de hemácias" adicionam uma dimensão temporal e visceral à narrativa, ampliando sua densidade simbólica.


Análise por Versos:

  1. "homem golfinho"

    • Hibridismo e Ambiguidade: O "homem golfinho" sugere um ser híbrido, que combina características humanas e animais. O golfinho, frequentemente associado à inteligência, à fluidez e à liberdade no mar, contrasta com o "homem", marcado por suas limitações terrestres.
    • Símbolo de Transição: A figura hibridizada pode representar a busca por equilíbrio entre instinto e razão, ou a tentativa de adaptação a um meio que não é inteiramente natural para o homem.
  2. "nada navega / nada"

    • Ambiguidade do "nada": O termo "nada" funciona tanto como o verbo "nadar" quanto como a ideia de "nada" (ausência ou vazio). Essa ambiguidade reforça a tensão entre movimento e estagnação.
    • Contradição Existencial: O "nadar" e "navegar" indicam ação e fluidez, mas o "nada" finaliza o verso com uma sensação de vazio ou frustração, como se todo esforço fosse infrutífero.
  3. "homem nada / golfinho navega / homem nada"

    • Reversão e repetição: Este trecho alterna as ações entre o homem e o golfinho, destacando as diferenças e semelhanças entre eles. O homem, limitado a "nadar" em sua existência, enquanto o golfinho "navega", parece mais adaptado ao meio.
    • Ciclo de Insistência: A repetição de "homem nada" sugere uma tentativa contínua, mesmo diante da dificuldade ou inutilidade aparente.
  4. "desde 1987"

    • Inserção Temporal: O ano de 1987 introduz uma marcação histórica que dá um sentido concreto à narrativa. Pode ser um ponto de partida simbólico para o "nadar" incessante do homem.
    • Contexto Histórico ou Pessoal: O número pode remeter a um evento histórico, uma mudança pessoal ou um marco específico, deixando espaço para múltiplas interpretações.
  5. "num mar / de hemácias"

    • Biologia e Fragilidade: O "mar de hemácias" sugere uma dimensão visceral e sanguínea, remetendo ao corpo humano, à vida e à mortalidade. O mar, tradicionalmente associado à imensidão e à liberdade, aqui é recontextualizado como algo interno e vulnerável.
    • Simbologia de Sangue e Vida: As hemácias, responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue, conectam-se à ideia de sobrevivência. Ao mesmo tempo, o "mar de hemácias" pode ser lido como um ambiente hostil, refletindo a luta constante do homem para existir e avançar.

Temas Centrais:

  1. Conflito entre Ação e Inação:

    • O poema reflete a luta humana entre o desejo de movimento e conquista (nadar, navegar) e a sensação de vazio ou inutilidade (nada).
  2. Hibridismo e Adaptação:

    • A figura do "homem golfinho" simboliza a tentativa de adaptação ao ambiente ou às circunstâncias, explorando a tensão entre o humano (racional e limitado) e o animal (instintivo e fluido).
  3. Temporalidade e Persistência:

    • A menção a "1987" sugere a duração de um esforço contínuo, uma luta persistente que pode ser pessoal, histórica ou existencial.
  4. Biologia e Existência:

    • O "mar de hemácias" conecta a luta humana à vulnerabilidade do corpo, destacando a interdependência entre o físico e o emocional.
  5. Circularidade e Repetição:

    • A repetição de "homem nada" enfatiza a sensação de um ciclo interminável, refletindo a luta constante e a resiliência diante da adversidade.

Estilo e Linguagem:

  1. Ambiguidade Semântica:

    • O uso de "nada" como verbo e substantivo cria camadas de interpretação, permitindo que o poema transite entre o concreto e o abstrato.
  2. Simplicidade Estrutural:

    • Os versos curtos e fragmentados reforçam o ritmo cadenciado e a sensação de esforço repetitivo, como o movimento de nadar.
  3. Metáforas Potentes:

    • A fusão entre homem e golfinho, bem como o "mar de hemácias", enriquece o poema com imagens que evocam tanto a natureza quanto a biologia humana.
  4. Tom Existencial:

    • O poema carrega um tom introspectivo e melancólico, mas sem perder de vista a força implícita na repetição e na persistência.

Considerações Finais:

"homem golfinho" é um poema que explora a condição humana em sua busca por significado, sobrevivência e adaptação. Ele reflete sobre a tensão entre movimento e vazio, entre a luta persistente e a inevitabilidade de nossa fragilidade. Com uma linguagem ambígua e imagens marcantes, o poema convida o leitor a refletir sobre a relação entre o corpo, o tempo e o esforço contínuo de existir em um "mar de hemácias" que simultaneamente sustenta e desafia.

10/08/2014

a vida dribla a morte
dando-se sentido
e ritmo
ao tin tin tin
do tempo
esposo das horas
instáveis instáveis instáveis
no harém dos ventos
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ANÁLISE

Este poema é uma reflexão poética sobre a relação entre a vida e o tempo, apresentando a vida como um movimento constante de resistência e criação de significado em face da morte. Com imagens sensoriais e rítmicas, o poema explora a passagem do tempo e sua instabilidade, personificando-o como um "esposo" das horas e conectando-o aos elementos dinâmicos da natureza, como os ventos.


Análise por Versos:

  1. "a vida dribla a morte"

    • Resistência e criação: O verso sugere que a vida, em sua essência, é uma forma de resistência frente à inevitabilidade da morte. O uso do verbo "dribla" traz uma conotação de movimento ágil, estratégico e criativo, subvertendo o poder da morte.
    • Conceito dinâmico: Ao invés de uma luta direta contra a morte, a vida é descrita como um jogo, no qual ela usa a criatividade e o movimento para escapar.
  2. "dando-se sentido / e ritmo"

    • Autonomia da vida: O verso reforça que a vida cria seu próprio significado e cadência, independentemente das forças externas. A ideia de "dar-se sentido" sublinha a autonomia e a capacidade da vida de ser autossignificante.
    • Importância do ritmo: O "ritmo" mencionado aqui conecta a vida ao tempo, sugerindo que a existência humana está em harmonia (ou em constante diálogo) com a passagem do tempo.
  3. "ao tin tin tin / do tempo"

    • Onomatopeia e musicalidade: A repetição sonora de "tin tin tin" evoca o som do passar das horas, como o de um relógio ou carrilhão. Este recurso cria um ritmo que reforça a passagem do tempo como algo inevitável, mas também poético.
    • Tempo como pulsação: O "tin tin tin" transforma o tempo em algo vivo e palpável, destacando sua influência rítmica sobre a vida.
  4. "esposo das horas"

    • Personificação do tempo: O tempo é representado como uma figura masculina, o "esposo" das horas, que aqui são vistas como femininas e cambiantes. Essa personificação sugere uma relação íntima e dinâmica entre o tempo e os momentos que ele compõe.
    • Relação simbólica: A escolha do termo "esposo" implica que o tempo está conectado às horas de forma inseparável, como em um matrimônio.
  5. "instáveis instáveis instáveis"

    • Repetição e ênfase: A tripla repetição de "instáveis" reforça a ideia de que as horas, e por extensão a própria vida, são marcadas por sua imprevisibilidade e fluidez.
    • Caos controlado: Apesar de sua instabilidade, as horas fazem parte de um ritmo maior, algo que a vida aprende a navegar.
  6. "no harém dos ventos"

    • Imagem de multiplicidade: O "harém dos ventos" cria uma metáfora rica, onde os ventos simbolizam forças mutáveis e dispersas, que cercam e influenciam o tempo (esposo).
    • Interação entre elementos: A imagem do harém sugere que o tempo está cercado por essas forças instáveis, representando a multiplicidade de experiências, mudanças e incertezas que permeiam a vida.

Temas Centrais:

  1. Vida e Morte:

    • O poema apresenta a vida como um ato de resistência criativa diante da morte. A vida "dribla" a morte ao criar sentido e ritmo próprios, destacando sua capacidade de transcender a finitude.
  2. Tempo e Instabilidade:

    • O tempo é descrito como uma força dinâmica e instável, que se desdobra em horas mutáveis e imprevisíveis. Essa instabilidade reflete a natureza volátil da existência.
  3. Ritmo e Harmonia:

    • O ritmo da vida é central no poema, evidenciado pelo "tin tin tin" do tempo. A vida encontra significado e ordem ao harmonizar-se com o fluxo do tempo.
  4. Interação com a Natureza:

    • A metáfora dos ventos e o harém indicam que a vida e o tempo estão inseridos em um contexto maior, marcado por forças naturais que são ao mesmo tempo instáveis e fundamentais.
  5. Personificação e Relações:

    • O tempo, as horas e os ventos são personificados, criando uma narrativa onde esses elementos interagem de forma quase teatral, refletindo as complexidades da existência.

Estilo e Linguagem:

  1. Musicalidade e Ritmo:

    • A onomatopeia "tin tin tin" e a repetição de "instáveis" criam um ritmo sonoro que reforça o tema do tempo e sua cadência.
  2. Metáforas e Personificações:

    • A personificação do tempo como "esposo" e a metáfora do "harém dos ventos" enriquecem o poema, tornando conceitos abstratos mais palpáveis e visuais.
  3. Estrutura Fragmentada:

    • A divisão em versos curtos e ideias interligadas reflete a natureza fragmentada do tempo e da vida, enquanto mantém um fluxo rítmico contínuo.
  4. Contraste entre Estabilidade e Instabilidade:

    • O poema alterna entre a ideia de ritmo constante (tin tin tin) e a instabilidade das horas, criando uma tensão que reflete a dualidade da vida.

Considerações Finais:

Este poema é uma meditação lírica sobre a relação entre vida, morte e tempo. Ele celebra a capacidade da vida de criar significado em meio à instabilidade e à passagem inevitável do tempo. A musicalidade e as imagens evocativas enriquecem a experiência de leitura, enquanto as metáforas e personificações convidam o leitor a refletir sobre a fluidez e a multiplicidade da existência. O poema destaca a resiliência da vida em um mundo marcado pela inconstância, transformando o movimento do tempo em uma dança poética entre forças que, embora instáveis, coexistem em harmonia.