Eu te amei, menino
Tu me amaste, menina
Ele nos amou, meninos
Entre afagos
E mimos
Rimos
Todos nos amamos
Mas não agüentamos
A supervisão do nosso amor
Muitos afagos... Poucos anos
Não nos agüentamos
Longe, os afagos... Vagos
É a revisão do nosso amor
Eu te amei, menina
Tu me amaste, menino
Ela nos amou, meninos
*
O poema retrata uma história de amor que transcende os limites tradicionais, explorando a pluralidade dos afetos e os desafios impostos por fatores externos. Ele combina simplicidade e profundidade ao abordar o amor em suas formas mais puras e complexas, entrelaçando relações, sentimentos e rupturas.
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Análise temática e estrutural:
1. "Eu te amei, menino / Tu me amaste, menina / Ele nos amou, meninos"
A sequência inicial estabelece uma relação de troca afetiva plural e inclusiva. Os pronomes pessoais e os tempos verbais no passado ("amei," "amaste") conferem um tom nostálgico e reflexivo, sugerindo que esse amor pertence a um tempo que já passou. O uso de "ele nos amou" amplia a perspectiva, incluindo uma terceira figura que também participa desse círculo de afeto.
2. "Entre afagos / E mimos / Rimos"
Esses versos curtos e diretos evocam a leveza e a felicidade dos momentos compartilhados. As ações ("afagos," "mimos," "rimos") destacam o lado lúdico e carinhoso do relacionamento, uma época de alegria e cumplicidade.
3. "Todos nos amamos / Mas não agüentamos / A supervisão do nosso amor"
Aqui, o poema introduz um elemento de conflito: a "supervisão" sugere a interferência externa ou a pressão social que impacta o relacionamento. Essa vigilância externa reflete os desafios que um amor fora dos padrões convencionais pode enfrentar, seja por julgamento, censura ou incompreensão.
4. "Muitos afagos... Poucos anos / Não nos agüentamos / Longe, os afagos... Vagos"
A repetição de "afagos" conecta o presente ao passado, mas agora com uma carga de ausência e saudade. A passagem do tempo é marcada pelos "poucos anos," indicando que, apesar da intensidade do amor, ele foi breve. A distância transforma os gestos de afeto em algo intangível e vazio ("vagos").
5. "É a revisão do nosso amor"
Este verso reflete a maturidade do eu lírico ao revisitar e reavaliar a relação. A "revisão" sugere um processo de aprendizado e aceitação, olhando para o amor com novos olhos.
6. "Eu te amei, menina / Tu me amaste, menino / Ela nos amou, meninos"
A repetição do padrão inicial, agora com gêneros trocados ("menina," "menino," "ela"), reforça a ideia de que o amor é fluido e plural. Isso subverte a expectativa de papéis fixos, ampliando o escopo do afeto para incluir todas as suas nuances e possibilidades.
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Temas e símbolos principais:
Pluralidade do amor: O poema celebra o amor em suas múltiplas formas, destacando a inclusão e a fluidez nas relações.
Conflito externo: A "supervisão" simboliza as barreiras impostas pela sociedade, sugerindo uma crítica à imposição de normas e julgamentos sobre o amor.
Saudade e revisitação: O poema é, ao mesmo tempo, uma memória e uma releitura de um amor passado, mostrando como o tempo recontextualiza os sentimentos.
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Estilo e impacto:
O estilo é direto, mas cheio de significados implícitos, utilizando repetições e paralelismos que enfatizam o tema do amor como um ciclo de encontros e desencontros. O tom é melancólico, mas também carrega uma aceitação madura, reconhecendo tanto a beleza quanto a fragilidade do que foi vivido.
O poema nos convida a pensar no amor como algo fluido e coletivo, livre das amarras das convenções, mas sujeito às dificuldades do tempo e do julgamento externo. É uma celebração da memória e da experiência amorosa em todas as suas complexidades.
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