19/05/2013


dia do fico, do figo, do fígado
é de perder o juízo,
o algoritmo, o ritmo

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Análise do poema:

O poema "dia do fico, do figo, do fígado" utiliza jogos de palavras e uma estrutura cadenciada para explorar temas como escolha, excesso e desorientação. Misturando referências históricas, simbólicas e corporais, o texto constrói uma reflexão irônica e crítica sobre os dilemas e as desordens que acompanham decisões e impulsos, sejam individuais ou coletivos.


Análise por Versos:

  1. "dia do fico, do figo, do fígado"

    • Referência histórica: "Dia do Fico" evoca o evento histórico de 1822, quando Dom Pedro I decidiu permanecer no Brasil e iniciar o processo de independência. Essa referência adiciona uma dimensão de escolha e decisão ao poema.
    • Jogo de palavras: A sequência "fico, figo, fígado" conecta a seriedade de um evento histórico à trivialidade ou materialidade de elementos cotidianos. O "figo" simboliza a doçura ou a tentação, enquanto o "fígado" evoca funções corporais, exaustão ou excesso (associado a emoções como raiva ou ao consumo excessivo de álcool).
    • Contraste entre o racional e o visceral: Ao unir "fico" (uma decisão), "figo" (uma fruta) e "fígado" (um órgão vital), o poema joga com a relação entre o pensamento consciente, os prazeres simples e as necessidades ou impulsos biológicos.
  2. "é de perder o juízo,"

    • Desorientação e caos: Este verso sugere que o conjunto de estímulos e escolhas descritos no verso anterior leva à confusão ou perda de controle.
    • Ironia: A frase apresenta um tom levemente humorístico, indicando que a complexidade ou intensidade do momento não pode ser gerenciada de forma racional.
  3. "o algoritmo, o ritmo"

    • Algoritmo como lógica ou padrão: O "algoritmo" representa a ordem, a racionalidade e os sistemas que regulam comportamentos e processos. Sua perda implica desordem, caos ou falha em seguir um padrão lógico.
    • Ritmo como cadência ou fluidez: A menção ao "ritmo" complementa a ideia de desorientação, apontando para a quebra de harmonia, equilíbrio ou continuidade, seja no plano emocional, físico ou social.
    • Simbolismo contemporâneo: A inclusão de "algoritmo" sugere uma leitura contemporânea do poema, aludindo à dependência da tecnologia e à ideia de que perder o "algoritmo" é perder a capacidade de navegação em um mundo cada vez mais sistematizado.

Temas Centrais:

  1. Escolha e Consequência:

    • O "fico" como decisão histórica ou pessoal se desdobra em elementos mais simples e viscerais, como o "figo" e o "fígado", ressaltando a complexidade e os desdobramentos das escolhas.
  2. Desordem e Perda de Controle:

    • O poema reflete sobre como escolhas, estímulos ou excessos podem levar à perda de referências racionais e harmônicas (o "juízo", o "algoritmo", o "ritmo").
  3. Contrastes e Interseções:

    • O texto joga com opostos: racionalidade e instinto, histórico e cotidiano, ordem e caos, mostrando como eles se sobrepõem em momentos decisivos ou caóticos.
  4. Modernidade e Desorientação:

    • A referência ao "algoritmo" conecta o poema a questões modernas, como a dependência de sistemas digitais e a desorientação causada por sua falha ou ausência.

Estilo e Linguagem:

  1. Jogo de Palavras:

    • A repetição de sons ("fico, figo, fígado") cria uma sonoridade fluida e divertida, enquanto amplia os significados do poema.
  2. Ironia e Humor:

    • O tom do poema é levemente irônico, transformando eventos ou conceitos sérios (como o "fico" ou o "algoritmo") em algo descontraído e acessível.
  3. Ritmo Dinâmico:

    • A alternância de ideias e palavras rápidas dá ao poema uma cadência que reforça o tema do descontrole e da perda de harmonia.
  4. Simbolismo Universal e Contemporâneo:

    • Ao combinar referências históricas, corporais e tecnológicas, o poema cria um diálogo entre o passado, o presente e a condição humana.

Considerações Finais:

"dia do fico, do figo, do fígado" é um poema que, com humor e profundidade, reflete sobre escolhas, estímulos e desordens. Ele utiliza jogos de palavras e contrastes para mostrar como o racional e o visceral se entrelaçam em momentos de excesso ou confusão. Com sua linguagem contemporânea e simbólica, o texto dialoga com questões históricas e atuais, convidando o leitor a contemplar tanto o caos da modernidade quanto os impulsos atemporais da existência humana. É uma obra que encanta pela leveza com que aborda temas complexos e universais.

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