06/05/2013

sonhei

sonhei
que no escuro mar de dentro
eu-transatlântico naufraguei

sonhei
menino do Colégio Cearense
despertei

Barra do Ceará
travessias - canoas
recordei

desejei,
mais uma vez
ser menino e rei

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Análise do poema sonhei

O poema sonhei é uma reflexão sobre memória, identidade e desejo de retorno à infância. Estruturado em estrofes curtas e diretas, ele alterna entre sonho e realidade, remetendo ao fluxo da consciência e às travessias simbólicas da vida.


1. O título: sonhei

– O verbo no passado "sonhei" já estabelece o tom onírico e subjetivo do poema.
– O sonho funciona como uma ponte entre o presente e o passado, evocando imagens de naufrágio, infância e desejo de retorno.


2. Primeira estrofe: o naufrágio interior

sonhei
que no escuro mar de dentro
eu-transatlântico naufraguei

– O "mar de dentro" pode ser interpretado como o universo emocional e psíquico do eu lírico, sugerindo profundidade e mistério.
– A metáfora "eu-transatlântico" enfatiza a grandiosidade e a complexidade da identidade, que, no entanto, naufraga.
– O naufrágio pode simbolizar crise, perda ou transição, um colapso interno que leva a uma jornada introspectiva.


3. Segunda estrofe: a memória da infância

sonhei
menino do Colégio Cearense
despertei

– A referência ao Colégio Cearense situa a experiência em um contexto geográfico e histórico específico, ancorando a memória na realidade.
– "Menino do Colégio Cearense" pode indicar uma revisitação da infância escolar, um período formador da identidade.
– O verbo "despertei" marca um contraste com o sonho inicial, trazendo o eu lírico de volta à realidade, mas ainda dentro de um fluxo de recordações.


4. Terceira estrofe: travessias e pertencimento

Barra do Ceará
travessias - canoas
recordei

– A "Barra do Ceará" é um lugar real em Fortaleza, associado à história, à cultura e às travessias.
– A menção a "travessias - canoas" reforça a metáfora do deslocamento, da jornada, tanto literal quanto existencial.
– "Recordei" indica que a travessia não é apenas física, mas também simbólica, uma passagem pela memória e pelo tempo.


5. Última estrofe: o desejo de regresso e poder

desejei,
mais uma vez
ser menino e rei

– "Desejei" sinaliza um movimento ativo, uma vontade de voltar ao estado da infância.
– A expressão "ser menino e rei" sugere um tempo em que a infância era um espaço de liberdade e soberania, um momento em que o eu lírico se sentia pleno e no controle de seu mundo.
– Há uma dualidade: o desejo de regressar à inocência da infância e a ambição de reter poder e autonomia dentro desse estado.


Conclusão: um poema sobre memória, identidade e desejo de retorno

– O poema se organiza em um fluxo de consciência, alternando entre sonho, memória e desejo.
– A metáfora do naufrágio no início marca um momento de crise ou reflexão, levando à busca pelo passado como um porto seguro.
– As referências geográficas (Colégio Cearense, Barra do Ceará) dão concretude à memória, situando a identidade do eu lírico em um contexto específico.
– O fechamento com o desejo de "ser menino e rei" sugere a nostalgia por um tempo em que a vida parecia mais plena e significativa.
– O tom melancólico e reflexivo dá ao poema um caráter intimista e existencial, revelando a complexidade do desejo humano de reencontrar-se com sua própria história.




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