19/05/2013

vou beber
até
me rinsquecer

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Análise do poema:

O poema "vou beber / até / me rinsquecer" é uma peça breve, mas carregada de ironia e criatividade linguística. Ele explora a relação entre o corpo e o ato de beber, conectando humor, tragédia e reflexão sobre os excessos. O jogo de palavras com "rinsquecer" (misturando "rins" e "esquecer") sintetiza de forma irônica o custo físico e emocional do abuso de álcool, abrindo espaço para múltiplas interpretações.


Análise por Partes:

  1. "vou beber"

    • Ação inicial e promessa: O verso estabelece a intenção do eu lírico, que se propõe a beber como resposta ou reação a uma situação. O verbo "beber" carrega uma carga simbólica: pode ser visto como celebração, escapismo ou autodestruição.
    • Simplicidade e universalidade: A frase é direta, sugerindo uma ação cotidiana que pode ser reconhecida por qualquer leitor, mas que ganha camadas de complexidade nos versos seguintes.
  2. "até"

    • Suspensão e expectativa: A pausa provocada pelo verso isolado "até" cria um intervalo que intensifica a curiosidade do leitor sobre os limites ou consequências da ação. O termo sugere um excesso, um ponto de ruptura que será revelado no desfecho.
    • Tensão implícita: O "até" pode ser interpretado como uma escalada de intensidade, sugerindo que o ato de beber não será moderado, mas levado a um extremo.
  3. "me rinsquecer"

    • Jogo de palavras: A fusão entre "rins" e "esquecer" é o ápice criativo do poema. O termo combina o impacto físico do álcool (associado aos rins) com o objetivo emocional ou psicológico de esquecer algo.
    • Humor e crítica: O neologismo "rinsquecer" mistura ironia e tragédia. O humor surge da construção inusitada da palavra, enquanto a crítica está na sugestão de autodestruição como forma de lidar com o sofrimento.
    • Corpo como limite: Ao conectar o ato de beber ao órgão vital dos rins, o poema enfatiza o impacto físico dos excessos e sugere que, na busca por esquecimento, o corpo paga o preço mais alto.

Temas Centrais:

  1. Excesso e Autodestruição:

    • O poema reflete sobre os limites físicos e emocionais da busca por alívio ou escapismo através do álcool, destacando o custo desse excesso.
  2. Humor e Tragédia:

    • A tensão entre o tom humorístico (criado pelo jogo de palavras) e a seriedade do tema subjacente reforça a complexidade da experiência humana diante do sofrimento.
  3. Corpo e Emoção:

    • Ao envolver os rins no processo de "esquecer", o poema destaca a interdependência entre corpo e mente, sugerindo que o sofrimento emocional inevitavelmente se reflete no físico.
  4. Busca por Esquecimento:

    • A vontade de esquecer aparece como motivação central, levantando questões sobre os métodos (e seus custos) que as pessoas utilizam para lidar com a dor ou o desconforto.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia Poética:

    • Com apenas três versos curtos, o poema condensa uma mensagem rica e multifacetada, demonstrando o poder da síntese na poesia.
  2. Neologismo Criativo:

    • A invenção da palavra "rinsquecer" é o ponto alto do poema, trazendo frescor à linguagem e ampliando o impacto emocional e crítico do texto.
  3. Ritmo e Pausa:

    • O isolamento do "até" cria um efeito de pausa dramática, guiando o leitor até o desfecho de maneira envolvente.
  4. Tom Irônico:

    • A ironia permeia o poema, transformando um tema potencialmente pesado em algo que mistura reflexão e leveza.

Considerações Finais:

"vou beber / até / me rinsquecer" é um poema que, com humor e densidade, reflete sobre os limites entre corpo, emoção e escapismo. O neologismo "rinsquecer" encapsula, de forma brilhante, o custo físico e psicológico da busca por alívio através do excesso, transformando o ato de beber em uma metáfora para a autodestruição irônica e consciente. É uma obra que provoca risos, mas também convida à introspecção sobre o equilíbrio entre prazer, sofrimento e os limites do corpo.

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