18/08/2013

hoje não é presente
é futuro
de um sonho antigo:
eu contigo
na Roma Antiga

***

Análise do poema:

O poema "hoje não é presente" explora a relação entre tempo, desejo e imaginação, criando uma atmosfera de nostalgia e romance. Ele transita entre o presente, o passado e o futuro, mostrando como um sonho antigo pode moldar a percepção atual do eu lírico. A inclusão de "Roma Antiga" como cenário confere um toque histórico e poético, ampliando as camadas de significados e sensações.


Análise por Versos:

  1. "hoje não é presente"

    • Deslocamento temporal: O verso inicial nega o presente como uma realidade palpável e imediata, sugerindo que o "hoje" está suspenso em relação ao passado e ao futuro.
    • Início reflexivo: A frase cria um paradoxo que leva o leitor a refletir sobre a fluidez do tempo e a dificuldade de estar plenamente no momento atual.
  2. "é futuro"

    • Projeção de desejo: A transformação do "hoje" em "futuro" sugere que o eu lírico está projetando o momento atual em direção a um ideal ainda por se concretizar.
    • Esperança e aspiração: Este verso comunica um anseio, uma expectativa de realização que ainda está por vir.
  3. "de um sonho antigo:"

    • Conexão com o passado: A introdução do "sonho antigo" conecta o futuro ao passado, estabelecendo um ciclo temporal onde o desejo atravessa diferentes momentos.
    • Persistência de desejos: A menção ao "antigo" sugere que o sonho do eu lírico é duradouro e carregado de significado, sobrevivendo ao desgaste do tempo.
  4. "eu contigo"

    • Intimidade e simplicidade: Este verso marca o núcleo emocional do poema, revelando que o sonho gira em torno de uma relação afetiva. A escolha das palavras "eu contigo" destaca a proximidade e o envolvimento direto.
    • Relação universal: Embora o contexto seja pessoal, a simplicidade do verso torna a emoção acessível e identificável para o leitor.
  5. "na Roma Antiga"

    • Cenário histórico e simbólico: A "Roma Antiga" adiciona uma dimensão de fantasia e grandiosidade ao poema. Este cenário pode ser lido como uma metáfora para a idealização de tempos gloriosos ou para a busca de um amor eterno e épico.
    • Evasão e imaginação: A escolha da Roma Antiga também reforça a ideia de que o eu lírico está escapando do presente para um espaço de sonho e história, onde o amor idealizado pode existir livremente.

Temas Centrais:

  1. Temporalidade e Desejo:

    • O poema explora a interconexão entre passado, presente e futuro, mostrando como os desejos podem transcender o tempo.
  2. Amor e Intimidade:

    • A relação entre o eu lírico e o "contigo" é o centro emocional do texto, destacando o poder do amor como motivador e como fonte de imaginação.
  3. Idealização e Nostalgia:

    • A menção à Roma Antiga sugere um desejo de retornar a algo grandioso, seja no tempo, na história ou na fantasia. Este movimento revela o papel da idealização na construção dos sonhos.
  4. Escapismo:

    • O poema retrata o presente como algo a ser evitado ou transcendido, substituído por uma realidade idealizada e atemporal.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia Poética:

    • O poema é curto, mas carrega um grande impacto emocional e reflexivo, condensando múltiplos significados em poucos versos.
  2. Contrastes Temporais:

    • A justaposição entre "hoje", "futuro" e "antigo" reflete a complexidade do tempo na experiência humana, especialmente na relação com sonhos e desejos.
  3. Cenário Poético:

    • A escolha da Roma Antiga confere ao poema uma qualidade histórica e estética, ampliando a força evocativa do texto.
  4. Tom Intimista:

    • A linguagem direta e o uso da primeira pessoa criam uma conexão emocional imediata com o leitor, enquanto o cenário idealizado confere um toque épico.

Considerações Finais:

"hoje não é presente" é um poema que combina emoção e reflexão, explorando o poder do desejo de transcender o tempo e a realidade. A relação entre o eu lírico e o "contigo" é apresentada como um sonho antigo que atravessa o passado e o futuro, culminando em uma Roma Antiga idealizada. Com uma linguagem simples e rica em significados, o poema convida o leitor a refletir sobre suas próprias relações com o tempo, o amor e a imaginação, criando um espaço onde a história e a intimidade se encontram de forma poética.

14/08/2013

Martírio

do mar tiro o riso
do sol esquecido
memory de luar

***

Análise do poema:

O poema "do mar tiro o riso" apresenta uma construção poética marcada por imagens evocativas e pela justaposição de elementos da natureza com a memória e a emoção. Ele explora a relação entre o presente e o passado, o concreto e o etéreo, utilizando metáforas que remetem à beleza, à melancolia e à transitoriedade.


Análise por Versos:

  1. "do mar tiro o riso"

    • Beleza e efemeridade: Este verso sugere que o "riso" é extraído do mar, um símbolo de vastidão, movimento e mistério. O mar é frequentemente associado à força da natureza e ao inconsciente, tornando o "riso" algo precioso e efêmero, retirado do infinito.
    • Atividade transformadora: O verbo "tiro" indica uma ação ativa e deliberada do eu lírico, como se ele encontrasse ou criasse alegria (o riso) a partir de um ambiente amplo e imprevisível.
    • Ambiguidade do riso: O riso pode representar tanto alegria quanto ironia, um contraste com a vastidão melancólica do mar.
  2. "do sol esquecido"

    • Memória e perda: A expressão "sol esquecido" evoca a ideia de algo que foi brilhante e essencial, mas que agora está relegado à memória ou à sombra. Esse esquecimento pode simbolizar o declínio de algo grandioso ou a inevitabilidade do passar do tempo.
    • Contraste com o mar: Enquanto o mar é ativo e em movimento (de onde se "tira o riso"), o "sol esquecido" é passivo, algo que foi deixado para trás, sugerindo melancolia ou nostalgia.
  3. "memory de luar"

    • Mistura de idiomas: A escolha de "memory" (inglês) ao invés de "memória" adiciona um toque de modernidade ou estrangeirismo ao poema, ampliando sua atmosfera universal.
    • Luar como símbolo: O luar é tradicionalmente associado à suavidade, ao mistério e à introspecção. Ele contrasta com o sol (luz plena e ativa), sugerindo que a memória evocada é mais delicada e etérea, quase como um reflexo distante.
    • Conexão com os outros versos: O luar, como uma luz indireta do sol, ecoa o "sol esquecido", ampliando a ideia de que o presente é moldado por fragmentos do passado – o "memory" que sobrevive como um reflexo.

Temas Centrais:

  1. Memória e Melancolia:

    • O poema é permeado pela ideia de lembrar aquilo que se perdeu ou se transformou, como o "sol esquecido" e a "memory de luar".
  2. Beleza Efêmera:

    • Elementos como o riso do mar e o luar representam momentos de beleza transitória que o eu lírico busca capturar ou compreender.
  3. Natureza e Emoção:

    • O mar, o sol e o luar funcionam como metáforas da experiência emocional, representando vastidão, declínio e reflexos de algo maior.
  4. Transformação e Reflexão:

    • O ato de "tirar o riso" do mar e de evocar a memória do luar sugere um processo de transformação, onde o eu lírico busca significado nas interações entre o presente e o passado.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia Poética:

    • O poema é conciso e utiliza poucos elementos para criar imagens ricas e evocativas, confiando na sugestão ao invés de explicitar seus significados.
  2. Simbologia Natural:

    • O uso de elementos como o mar, o sol e o luar reforça a universalidade do poema, conectando-o a temas que transcendem o individual.
  3. Mistura de Idiomas:

    • A escolha de "memory" em inglês adiciona uma camada contemporânea e cosmopolita, destacando a conexão entre o local (mar, sol, luar) e o global (idioma estrangeiro, memória universal).
  4. Tom Contemplativo:

    • O poema mantém um ritmo tranquilo e introspectivo, convidando o leitor a refletir sobre a interação entre tempo, memória e emoção.

Considerações Finais:

"do mar tiro o riso" é um poema que captura a interação entre o efêmero e o eterno, explorando memórias e emoções através de metáforas naturais. Através de uma linguagem simples e rica em simbolismo, o texto cria uma atmosfera introspectiva, onde o eu lírico busca capturar fragmentos de beleza e significado em meio à vastidão do tempo e à transitoriedade da vida. A presença de melancolia e contemplação dá profundidade à obra, tornando-a uma meditação poética sobre a memória e o que resta do passado.

fazer poesia
é tornar dito popular
em dito lacunar
(e cantar)

***

Análise do poema:

O poema "fazer poesia" apresenta uma reflexão concisa e metapoética sobre a essência da poesia. Ele propõe a transformação do senso comum e da linguagem cotidiana em algo aberto, interpretativo e profundamente estético. Com linguagem direta e um toque de ironia, o poema explora o papel do poeta como alguém que desestrutura o óbvio para abrir espaço à multiplicidade de sentidos.


Análise por Versos:

  1. "fazer poesia"

    • Definição em construção: O verso inicial estabelece o tema central: a tentativa de definir ou captar a essência do ato de fazer poesia.
    • Ação criativa: O uso do verbo "fazer" sugere um processo artesanal e deliberado, indicando que a poesia é uma construção e não apenas inspiração espontânea.
  2. "é tornar dito popular"

    • Referência à oralidade e à sabedoria comum: "Dito popular" remete aos provérbios, expressões ou ideias amplamente conhecidas e fixadas na cultura popular.
    • Transformação do lugar-comum: Este verso sugere que o poeta parte do que é familiar e universal, utilizando a linguagem cotidiana como matéria-prima.
  3. "em dito lacunar"

    • Lacuna e multiplicidade de sentidos: A transformação do "dito popular" em "dito lacunar" aponta para a essência da poesia como uma forma de linguagem que não encerra o sentido, mas o abre a interpretações múltiplas e subjetivas.
    • Quebra do óbvio: O poeta não repete o senso comum, mas o desestrutura, inserindo vazios ou lacunas que o leitor precisa preencher com sua própria experiência e imaginação.
  4. "(e cantar)"

    • Dimensão estética e sonora: O verbo "cantar" sugere que a poesia não é apenas uma questão de significado, mas também de ritmo, musicalidade e beleza.
    • Celebrar a linguagem: Este verso final, colocado entre parênteses, reforça que a poesia transcende a comunicação direta, sendo também um ato de celebração e expressão artística.
    • Tom intimista: O parêntese cria uma sensação de confidência ou de uma ideia secundária, mas essencial, que completa o pensamento poético.

Temas Centrais:

  1. Transformação da Linguagem:

    • O poema reflete sobre como a poesia subverte o lugar-comum e transforma a linguagem em algo novo e multifacetado.
  2. Essência da Poesia:

    • A poesia é apresentada como um espaço de lacunas, onde o não dito ou o incompleto é tão importante quanto as palavras explícitas.
  3. Interação entre Popular e Erudito:

    • Ao partir do "dito popular", o poema sugere que a poesia se conecta às raízes da cultura oral e cotidiana, mas as eleva a um nível de complexidade estética e filosófica.
  4. Musicalidade e Estética:

    • A referência ao "cantar" destaca a dimensão sonora e emocional da poesia, que transcende o significado literal.

Estilo e Linguagem:

  1. Metapoesia:

    • O poema é uma reflexão sobre o próprio fazer poético, convidando o leitor a pensar sobre o papel do poeta e da poesia.
  2. Contraste e Transformação:

    • A oposição entre "dito popular" e "dito lacunar" reflete o processo transformador da poesia, que parte do óbvio e o converte em algo enigmático e interpretativo.
  3. Economia de Palavras:

    • A linguagem é enxuta, mas rica em significado, demonstrando na prática a capacidade de dizer muito com poucas palavras – uma característica da poesia.
  4. Tom Reflexivo:

    • A simplicidade aparente do poema esconde uma profundidade que exige do leitor uma interpretação ativa.

Considerações Finais:

"fazer poesia" é um poema que sintetiza, de maneira brilhante e econômica, a natureza do ato poético como um processo de transformação e reconfiguração da linguagem. Ao partir do conhecido ("dito popular") e desaguar no enigmático ("dito lacunar"), o poema propõe que a poesia é, acima de tudo, um espaço de abertura e multiplicidade de sentidos. O "cantar" final acrescenta a dimensão estética e sonora à reflexão, sugerindo que a poesia não é apenas um exercício intelectual, mas também um ato de celebração da beleza e da musicalidade da linguagem. É uma obra que fala da poesia enquanto exemplifica suas próprias premissas.

11/08/2013

civilidade
é poupar o mundo
a humanidade
da tua barba e idade

***

Análise do poema:

O poema "civilidade" utiliza uma linguagem sucinta e irônica para propor uma reflexão crítica sobre convenções sociais e as pressões de aparência. Ele aborda a ideia de civilidade de forma subversiva, questionando o que é considerado "civilizado" em uma sociedade que, muitas vezes, valoriza aparências em detrimento da essência humana.


Análise por Versos:

  1. "civilidade"

    • Tema central: O termo "civilidade" refere-se ao comportamento polido e respeitoso em sociedade, mas no contexto do poema, essa ideia será desafiada ou reinterpretada.
    • Ambiguidade inicial: O leitor é levado a esperar uma reflexão sobre bons modos, mas o que segue é uma inversão irônica desse conceito.
  2. "é poupar o mundo"

    • Censura ou contenção: A "civilidade", segundo o poema, é apresentada como um ato de contenção, de privar o mundo de algo. Essa definição subverte o entendimento tradicional de civilidade como algo positivo.
    • Tom irônico: O verbo "poupar" carrega uma crítica implícita, sugerindo que há algo incômodo ou indesejado a ser escondido ou reprimido.
  3. "a humanidade"

    • A relação entre indivíduo e coletivo: A menção à humanidade amplia o escopo da crítica, sugerindo que o comportamento esperado de civilidade é imposto não apenas a indivíduos específicos, mas a todos como norma social.
    • Peso cultural: A frase sugere que há uma pressão coletiva para adequação, colocando o indivíduo como responsável por "poupar" a humanidade de aspectos considerados indesejáveis.
  4. "da tua barba e idade"

    • Barba como símbolo: A barba, frequentemente associada à maturidade, masculinidade ou até rebeldia, torna-se aqui um elemento a ser escondido. É possível que ela simbolize características naturais ou visíveis que não se conformam aos padrões sociais de aparência ou higiene.
    • Idade como tabu: A idade é outro elemento destacado, sugerindo que o envelhecimento ou sua visibilidade também deve ser "poupado" do olhar coletivo. Isso reflete uma crítica aos padrões de juventude e aparência impostos pela sociedade.
    • Tom irônico e crítico: Ao unir barba e idade, o poema questiona se a civilidade está, de fato, relacionada a valores morais ou apenas a uma superficialidade que prioriza a aparência sobre a essência.

Temas Centrais:

  1. Aparência versus Essência:

    • O poema critica como a sociedade frequentemente valoriza a aparência externa (como a barba e a idade) em detrimento do caráter ou das qualidades intrínsecas de uma pessoa.
  2. Pressões Sociais:

    • A ideia de que a "civilidade" é definida por conformidade com padrões estéticos ou comportamentais reflete a pressão que o indivíduo sente para se adequar às normas sociais.
  3. Ironia e Subversão:

    • O poema subverte o conceito de civilidade, ao associá-lo não a virtudes como respeito e empatia, mas à repressão de características naturais e humanas.
  4. Crítica ao Ageísmo:

    • Ao mencionar a idade, o poema toca na questão do preconceito contra o envelhecimento e como isso é visto como algo a ser ocultado.

Estilo e Linguagem:

  1. Linguagem Concisa:

    • O poema utiliza poucas palavras para transmitir uma crítica profunda, característica de uma linguagem poética que valoriza a densidade de significado.
  2. Tom Irônico:

    • A ironia permeia o poema, especialmente na ideia de que civilidade significa esconder algo tão natural quanto a barba ou a idade.
  3. Contraste entre Título e Conteúdo:

    • O título sugere um tema tradicional de comportamento exemplar, mas o conteúdo desconstrói essa expectativa com uma abordagem provocativa.
  4. Musicalidade Simples:

    • A escolha de palavras como "barba" e "idade" cria um ritmo natural e direto, que reforça o impacto da crítica.

Considerações Finais:

"civilidade" é um poema que utiliza ironia e concisão para questionar normas sociais superficiais relacionadas à aparência e à aceitação. Ele desconstrói a ideia de que civilidade está ligada a valores morais, apontando como a sociedade frequentemente prioriza a repressão de características naturais (como barba e idade) para atender a padrões de "conformidade". Ao provocar o leitor, o poema desafia conceitos tradicionais de comportamento civilizado e abre espaço para reflexões sobre autenticidade, liberdade e os valores reais que deveriam definir o que é "civil". É uma obra que mistura humor e crítica social em um formato enxuto e incisivo.

Hermes,
falei coisas duras?
falei coisas difíceis?
apenas ecoei o grito
das rugas
entre ruas
e edifícios

*

Análise do poema:

O poema "Hermes" é uma reflexão que combina mitologia, crítica social e introspecção. Através de perguntas retóricas e uma construção imagética densa, o eu lírico explora o papel da comunicação e da expressão em um mundo marcado por tensões e desigualdades. Invocando Hermes, o deus grego da comunicação, o poema questiona se o ato de ecoar a realidade, por mais dura que seja, também carrega a responsabilidade de aliviar ou amplificar suas dores.


Análise por Versos:

  1. "Hermes"

    • Invocação mitológica: Hermes, o deus grego da comunicação, das mensagens e dos viajantes, é uma figura central para a reflexão. Ele é também mensageiro entre os mundos dos deuses e dos humanos, o que adiciona uma dimensão transcendental à narrativa.
    • Conexão com o tema: Ao invocar Hermes, o eu lírico sugere que a questão levantada está diretamente ligada à comunicação e à interpretação da mensagem, especialmente no contexto de realidades difíceis.
  2. "falei coisas duras? / falei coisas difíceis?"

    • Autocrítica e hesitação: As perguntas indicam um momento de dúvida ou reflexão, sugerindo que o eu lírico questiona se sua mensagem ou expressão foi adequada ou se causou desconforto.
    • Dualidade entre dureza e dificuldade: "Duras" remete ao impacto emocional ou ético das palavras, enquanto "difíceis" sugere complexidade ou inacessibilidade intelectual.
    • Responsabilidade do mensageiro: Essa autocrítica pode ser lida como uma ponderação sobre o papel de quem comunica verdades ou realidades que podem ser dolorosas.
  3. "apenas ecoei o grito"

    • Passividade ou mediação: O eu lírico se posiciona não como criador da mensagem, mas como mediador ou eco de algo que já existia. Isso alivia a responsabilidade direta, mas reforça o papel do comunicador como um reflexo do ambiente.
    • O grito como símbolo: O grito é uma expressão primal, carregada de dor, urgência e intensidade, representando aqui as vozes e experiências de uma coletividade.
  4. "das rugas / entre ruas / e edifícios"

    • Rugas como metáfora: As "rugas" simbolizam marcas do tempo, da experiência e do sofrimento humano. Elas podem ser interpretadas como as cicatrizes deixadas pela vida em pessoas ou em estruturas sociais.
    • Relação com o espaço urbano: A menção às "ruas" e "edifícios" conecta o grito a um ambiente urbano, marcado por desigualdades, tensões e histórias coletivas. As rugas entre esses espaços representam os conflitos invisíveis, os dramas ocultos no cotidiano da cidade.
    • Musicalidade e ritmo: A aliteração entre "rugas", "ruas" e "edifícios" cria uma sonoridade que reforça a interconexão entre os elementos descritos.

Temas Centrais:

  1. Responsabilidade na Comunicação:

    • O poema questiona o papel do mensageiro em transmitir verdades difíceis ou impactantes. Ele reflete sobre a tensão entre a necessidade de comunicar e as consequências dessa comunicação.
  2. Sofrimento Coletivo:

    • As "rugas entre ruas e edifícios" apontam para o sofrimento e as marcas deixadas pelo tempo e pelas desigualdades em contextos urbanos. O grito ecoado é tanto pessoal quanto coletivo.
  3. Conexão com a Mitologia:

    • A figura de Hermes amplia o alcance da mensagem, conectando o individual ao coletivo, o terreno ao divino, e sugerindo que a comunicação carrega consigo um elemento transcendental.
  4. Tensão entre Dureza e Verdade:

    • Ao questionar se falou coisas "duras" ou "difíceis", o poema reflete sobre a necessidade de enfrentar verdades desconfortáveis e as implicações éticas de fazê-lo.

Estilo e Linguagem:

  1. Interrogação e Reflexão:

    • As perguntas retóricas reforçam o tom introspectivo e convidam o leitor a participar da reflexão sobre os dilemas éticos da comunicação.
  2. Imagens Urbanas e Humanas:

    • As "rugas entre ruas e edifícios" combinam o humano e o urbano, criando uma metáfora rica que conecta o sofrimento individual à realidade social e arquitetônica.
  3. Simbologia Mitológica:

    • A invocação de Hermes dá ao poema uma profundidade simbólica, conectando questões contemporâneas a arquétipos universais.
  4. Economia Poética:

    • Com poucos versos, o poema condensa significados complexos, permitindo múltiplas interpretações e conexões simbólicas.

Considerações Finais:

"Hermes" é um poema que, com sutileza e densidade, reflete sobre o papel do comunicador como um eco das dores e marcas da sociedade. Ele explora temas de responsabilidade, sofrimento coletivo e a natureza da verdade em um contexto urbano e humano. A invocação de Hermes acrescenta uma camada mitológica que eleva o debate ético e simbólico, conectando a comunicação contemporânea à ideia de transcendência. É uma obra que provoca o leitor a pensar sobre o impacto de suas próprias palavras e ações em um mundo repleto de gritos e rugas invisíveis.

isso aqui,
lamento,
é apenas uma prévia
do esquecimento

*

Análise do poema:

O poema "isso aqui" é uma reflexão breve e melancólica sobre a transitoriedade da vida e a inevitabilidade do esquecimento. Com uma construção minimalista, o texto explora a fragilidade da existência humana e o destino de tudo o que é vivido ou construído. Ele combina um tom confessional e resignado, criando um impacto emocional que convida à introspecção.


Análise por Versos:

  1. "isso aqui,"

    • Abertura vaga e universal: O uso de "isso aqui" é deliberadamente amplo e ambíguo, permitindo que o leitor o preencha com sua própria interpretação – seja um momento, uma obra, uma relação ou a própria existência.
    • Proximidade e intimidade: A expressão cria um tom direto e pessoal, como se o eu lírico estivesse falando diretamente ao leitor.
  2. "lamento,"

    • Resignação e pesar: A palavra "lamento" indica um tom de tristeza e aceitação, sugerindo que o que vem a seguir não é uma constatação feliz, mas inevitável.
    • Confessionalidade: O uso isolado do termo reforça a ideia de que o eu lírico está expressando algo pessoal, mas que também pode ser universal.
  3. "é apenas uma prévia"

    • Antecipação do inevitável: A ideia de "prévia" sugere que o momento presente é apenas um vislumbre ou introdução a algo maior que está por vir – no caso, o esquecimento.
    • Efemeridade: Essa construção minimiza a importância do "isso aqui", enfatizando sua transitoriedade e a ideia de que nada é permanente.
  4. "do esquecimento"

    • Destino final: O "esquecimento" é apresentado como o ponto inevitável para onde tudo converge, seja no plano individual (morte e memória) ou no coletivo (passagem do tempo e história).
    • Contraste com o presente: A palavra final dá ao poema uma dimensão existencial, contrapondo o "aqui" (presente) com a ideia de apagamento futuro.

Temas Centrais:

  1. Transitoriedade e Finitude:

    • O poema reflete sobre a natureza passageira de todas as coisas, apontando para o esquecimento como o destino final de tudo o que existe.
  2. Melancolia e Resignação:

    • A presença do "lamento" imprime um tom de tristeza, mas também de aceitação do inevitável, sugerindo que o eu lírico não luta contra essa realidade.
  3. Memória e Esquecimento:

    • Ao apresentar o "esquecimento" como o fim, o poema convida à reflexão sobre o valor da memória e a luta contra a irrelevância ou o apagamento.
  4. Universalidade da Experiência Humana:

    • A ambiguidade de "isso aqui" permite que o poema seja interpretado como uma reflexão sobre qualquer aspecto da existência, tornando-o universal.

Estilo e Linguagem:

  1. Minimalismo:

    • O poema utiliza uma linguagem direta e econômica, transmitindo ideias complexas com poucas palavras.
  2. Tom Confessional:

    • A combinação de "isso aqui" e "lamento" cria uma atmosfera de proximidade e intimidade, como se o eu lírico estivesse compartilhando um segredo ou uma verdade amarga.
  3. Ambiguidade:

    • A indefinição de "isso aqui" permite múltiplas leituras, fazendo com que o poema se adapte às experiências individuais de cada leitor.
  4. Impacto no Fechamento:

    • A palavra "esquecimento" como desfecho dá ao poema um tom de fatalismo e permanência, contrastando com a fragilidade do presente descrito nos versos anteriores.

Considerações Finais:

"isso aqui" é um poema que, com simplicidade e profundidade, aborda a efemeridade da vida e a inevitabilidade do esquecimento. Ele transforma o presente em uma pequena introdução para o vazio futuro, provocando uma reflexão existencial sobre o valor do agora e a passagem do tempo. Com uma linguagem enxuta e intimista, o poema encapsula a melancolia e a beleza da condição humana, convidando o leitor a aceitar, com pesar, a transitoriedade de tudo o que é.

RIP VIP

O sonho da casa própria
Minha casa, minha vida
Rest in peace
Very important people

*

Análise do poema:

O poema "O sonho da casa própria" explora questões relacionadas à desigualdade social, à busca por estabilidade e segurança, e à ironia contida em estruturas de poder e privilégio. Com uma linguagem econômica, ele combina slogans conhecidos, expressões em inglês e uma progressão crítica que culmina em uma reflexão sobre o contraste entre desejos básicos e o luxo inalcançável.


Análise por Partes:

  1. "O sonho da casa própria"

    • Desejo universal: O verso inicial evoca um desejo comum, especialmente em contextos de desigualdade social, onde ter uma casa própria simboliza segurança, pertencimento e realização.
    • Aspiração coletiva: A frase conecta o leitor à luta de muitos por estabilidade e dignidade, estabelecendo um tom inicial de empatia e realidade.
  2. "Minha casa, minha vida"

    • Referência ao programa habitacional: Esta frase remete ao programa governamental brasileiro que busca facilitar o acesso à moradia para populações de baixa renda.
    • Ironia implícita: A repetição de um slogan amplamente divulgado pode carregar uma crítica sutil à eficácia ou ao alcance limitado dessas iniciativas, especialmente quando confrontadas com o peso da desigualdade.
    • Individualidade e apropriação: O foco em "minha" enfatiza a personalização do sonho, mas também sugere a fragmentação do problema – uma luta individual dentro de uma questão estrutural.
  3. "Rest in peace"

    • Conotação de morte: A expressão, frequentemente usada para marcar o fim da vida, insinua que o sonho da casa própria, para muitos, acaba não sendo realizado durante sua existência.
    • Criticismo implícito: Pode ser lido como uma crítica ao sistema que perpetua a exclusão e impossibilita o acesso à moradia digna para grande parte da população.
    • Contraste com a vida: O uso do inglês aqui marca uma transição que conecta a morte ao consumo cultural global, sugerindo uma relação entre desigualdade e sistemas de opressão globalizados.
  4. "Very important people"

    • Ironia elitista: Ao finalizar o poema com "Very important people" (VIPs), o eu lírico contrasta a exclusividade e o luxo associados a essa expressão com a realidade de quem luta por necessidades básicas, como a moradia.
    • Crítica ao privilégio: Este verso aponta para a desigualdade entre quem vive na escassez e quem desfruta de privilégios exacerbados, enfatizando a disparidade social.
    • Desumanização: A expressão também pode sugerir que o valor humano é reduzido à exclusividade, com apenas alguns sendo considerados "importantes" enquanto o resto luta por dignidade básica.

Temas Centrais:

  1. Desigualdade Social:

    • O poema aborda de forma crítica a luta por moradia digna em contraste com os privilégios reservados a uma minoria.
  2. Ironia e Contraste:

    • A justaposição de termos populares, como "Minha casa, minha vida", com expressões elitistas, como "Very important people", reforça a ironia do texto e evidencia a disparidade entre classes sociais.
  3. Finitude e Fracasso do Sistema:

    • A inclusão de "Rest in peace" sugere que, para muitos, o sonho da casa própria só se concretiza após a morte, como um lamento pela injustiça estrutural.
  4. Globalização e Exclusividade:

    • O uso de expressões em inglês indica a influência de valores globalizados que perpetuam o foco no privilégio e no consumo, muitas vezes em detrimento de necessidades humanas básicas.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia e Impacto:

    • O poema é curto, mas carrega um impacto emocional e crítico forte, condensando múltiplas camadas de significados em poucas palavras.
  2. Intertextualidade:

    • O uso de slogans conhecidos e expressões populares conecta o poema a contextos culturais amplos, ao mesmo tempo em que ressignifica essas frases dentro de uma crítica social.
  3. Ironia e Sarcasmo:

    • A progressão do poema utiliza ironia, especialmente no contraste entre o "sonho da casa própria" e o "Very important people", para evidenciar disparidades sociais e desigualdades.
  4. Mistura de Línguas:

    • O uso do inglês ("Rest in peace" e "Very important people") reforça a crítica à exclusividade e ao elitismo, além de sugerir uma globalização que mantém e amplifica as desigualdades.

Considerações Finais:

"O sonho da casa própria" é um poema que articula, com ironia e concisão, uma crítica incisiva às desigualdades sociais e à exclusão estrutural. Ele utiliza uma progressão de imagens e expressões para contrastar o desejo por necessidades básicas com o privilégio e a exclusividade de uma minoria. Com um tom ácido e reflexivo, o poema aponta para a tensão entre o sonho de dignidade universal e a realidade de um sistema que prioriza poucos, deixando muitos no esquecimento. É uma obra que provoca e convida à reflexão sobre justiça, direitos humanos e desigualdade.

nem isto
nem aquilo
somente
o risco visível
do invisível

*

Análise do poema:

O poema "nem isto / nem aquilo" é uma reflexão concisa e enigmática que explora a dualidade, a incerteza e o paradoxo do visível e do invisível. Com uma linguagem minimalista e uma construção deliberadamente ambígua, o poema convida o leitor a refletir sobre o que está além das polaridades e sobre a essência das coisas que escapam ao olhar superficial.


Análise por Versos:

  1. "nem isto / nem aquilo"

    • Recusa da dualidade: A abertura rejeita categorizações e oposições binárias, sugerindo que o foco do poema está fora do escopo dessas divisões comuns.
    • Indefinição: A expressão evoca um estado de suspensão ou vazio, onde o eu lírico se recusa a escolher entre extremos, buscando algo além do tangível.
    • Eco filosófico: Esse verso dialoga com conceitos de tradição filosófica e espiritual, como a ideia budista de transcender dualidades ou a lógica negativa encontrada em místicos.
  2. "somente"

    • Essência minimalista: A palavra "somente" funciona como uma ponte entre o que foi negado anteriormente e o que será afirmado. Ela cria a expectativa de algo essencial, reduzido ao núcleo do que importa.
    • Tom conclusivo: Sugere que o poema está apontando para um único elemento, ao mesmo tempo simples e significativo.
  3. "o risco visível"

    • Perigo e fragilidade: O "risco" carrega uma ambiguidade rica, podendo remeter tanto a uma ameaça ou perigo quanto a um traço delicado e efêmero.
    • Contraste com o invisível: Ao qualificar o risco como "visível", o poema enfatiza a tensão entre o que pode ser percebido e o que permanece oculto.
    • Visualidade e percepção: O verso evoca algo que está à beira de ser compreendido, mas que ainda exige atenção cuidadosa para ser percebido.
  4. "do invisível"

    • A essência do que não se vê: O "invisível" é aqui apresentado como origem ou fonte do "risco visível", sugerindo que o que é visto é apenas uma manifestação parcial do que está além da percepção.
    • Paradoxo e profundidade: O verso final encapsula a complexidade do poema, destacando que o visível e o invisível coexistem em uma relação de tensão e interdependência.
    • Reflexão sobre o desconhecido: O invisível representa o mistério, o indizível, aquilo que está fora do alcance imediato, mas que ainda assim se faz presente.

Temas Centrais:

  1. Dualidade e Transcendência:

    • O poema rejeita polaridades simplistas ("isto" e "aquilo") para buscar uma dimensão que vá além delas.
  2. Visível e Invisível:

    • A interação entre o que pode ser visto e o que está oculto é central no poema, sugerindo que o mundo percebido é apenas um fragmento de algo maior.
  3. Essência e Efemeridade:

    • O "risco" simboliza algo fugaz e frágil, representando tanto a delicadeza da percepção quanto a inevitabilidade do desaparecimento.
  4. Paradoxo e Mistério:

    • A construção do poema enfatiza o paradoxo de tentar capturar o invisível por meio do visível, apontando para a impossibilidade de compreensão total.

Estilo e Linguagem:

  1. Minimalismo:

    • O poema é curto e preciso, utilizando uma linguagem econômica para transmitir ideias amplas e complexas.
  2. Ambiguidade Rica:

    • As palavras possuem múltiplos significados, permitindo diferentes interpretações e ampliando o impacto do texto.
  3. Tonalidade Filosófica:

    • O poema evoca uma meditação sobre conceitos abstratos, aproximando-se do pensamento místico e da filosofia.
  4. Estrutura Enigmática:

    • A construção do poema, com uma progressão de negação e afirmação, espelha o movimento de descoberta e introspecção.

Considerações Finais:

"nem isto / nem aquilo" é um poema que desafia convenções e percepções, propondo uma meditação sobre a relação entre o visível e o invisível, o tangível e o intangível. Ele se recusa a ser reduzido a categorias simples, apontando para a complexidade da existência e da percepção humana. Com sua linguagem minimalista e enigmática, o poema convida o leitor a contemplar o que está além das aparências e a reconhecer a delicadeza do "risco" que conecta o mundo visível ao invisível. É uma obra que provoca e inspira, ao mesmo tempo que acolhe o mistério como parte integral da experiência.

do meu eu
para
o teu eu
nós...

...atados
meus
teus
nós

cegos
pelas costas
cheio de nove horas:
sós

*

Análise do poema:

O poema "do meu eu" aborda temas de conexão, desencontro e isolamento em relações interpessoais. Com jogos de palavras e estruturas que exploram a ambiguidade do pronome "nós" (tanto como sujeito coletivo quanto como laços literais), o texto reflete sobre as complexidades e os entraves nas dinâmicas entre o "eu" e o "outro". O tom introspectivo, carregado de simbolismo, reforça a tensão entre a tentativa de união e a persistência da solidão.


Análise por Partes:

  1. "do meu eu / para / o teu eu / nós..."

    • Conexão inicial: O movimento do "meu eu" para o "teu eu" sugere um gesto de aproximação, um esforço para construir uma relação entre duas individualidades.
    • Ambiguidade em "nós...": O uso da palavra "nós" com reticências sinaliza tanto a formação de um vínculo quanto uma hesitação ou incompletude. "Nós" pode ser lido como a união dos dois sujeitos ("eu" e "teu eu"), mas também como uma referência aos "nós" literais, simbolizando algo que prende ou limita.
  2. "...atados / meus / teus / nós"

    • Laços e amarras: O verso destaca a complexidade do vínculo. "Atados" sugere um estado de ligação, mas também de aprisionamento, indicando que os "nós" unem, mas ao mesmo tempo podem sufocar.
    • Individualidade dentro do coletivo: Ao especificar "meus" e "teus", o poema ressalta que, mesmo dentro do "nós", existem diferenças e individualidades que resistem à fusão completa.
    • Simbolismo do "nós": A palavra funciona como um jogo semântico, referindo-se simultaneamente à união relacional e aos emaranhados emocionais ou psicológicos que complicam essa relação.
  3. "cegos / pelas costas"

    • Incompreensão mútua: A metáfora de estar "cego pelas costas" sugere a incapacidade de ver ou compreender plenamente o outro, especialmente os aspectos que não estão à vista ou que são inconscientes.
    • Falta de comunicação: Esse verso reforça a ideia de que, apesar da proximidade física ou emocional, há uma barreira invisível que impede a compreensão total.
  4. "cheio de nove horas:"

    • Ritualismo ou artificialidade: A expressão "cheio de nove horas", que remete a comportamentos cheios de formalidade ou pretensão, indica que a relação está repleta de posturas ou barreiras artificiais que dificultam a autenticidade.
    • Ritmo cotidiano: Essa imagem também pode remeter à rotina e à passagem do tempo, insinuando que a relação, apesar de atada, é marcada pela repetição e pela ausência de espontaneidade.
  5. "sós"

    • Clímax melancólico: O poema encerra com uma constatação crua e definitiva: apesar de todos os esforços, os laços e as conexões, a solidão persiste. O "sós" aparece como um eco inevitável de uma relação que, embora atada, não consegue superar o isolamento.
    • Ambiguidade emocional: "Sós" pode sugerir tanto uma solidão individual quanto uma solidão compartilhada, onde ambos os sujeitos se encontram presos em suas próprias bolhas emocionais.

Temas Centrais:

  1. Conexão e Isolamento:

    • O poema explora a dificuldade de estabelecer uma relação verdadeira entre dois sujeitos, ressaltando a tensão entre a busca por união e a inevitabilidade da solidão.
  2. Laços como Metáfora:

    • Os "nós" representam tanto o vínculo quanto os entraves emocionais ou psicológicos que complicam as relações humanas.
  3. Falta de Autenticidade:

    • A referência a "nove horas" sugere comportamentos artificiais ou barreiras sociais que impedem a sinceridade e o contato profundo.
  4. Dualidade do "Nós":

    • O poema joga com o significado ambivalente de "nós", como coletivo e como emaranhado, refletindo sobre a complexidade de estar junto sem perder a individualidade.

Estilo e Linguagem:

  1. Jogo Semântico:

    • O uso criativo da palavra "nós" como uma convergência entre vínculo e obstáculo é central para o impacto poético.
  2. Economia e Impacto:

    • A linguagem é concisa, mas cada verso carrega múltiplas camadas de significado, exigindo do leitor uma leitura atenta e reflexiva.
  3. Ambiguidade:

    • O poema é deliberadamente aberto a interpretações, permitindo que os elementos simbólicos se adaptem a diferentes contextos emocionais e relacionais.
  4. Ritmo Fragmentado:

    • A quebra de versos e o uso de reticências criam um ritmo que reflete a hesitação, a interrupção e a falta de fluidez nas relações descritas.

Considerações Finais:

"do meu eu" é um poema que reflete, com sensibilidade e profundidade, sobre as complexidades das relações humanas. Ele aborda a tensão entre o desejo de conexão e a persistência do isolamento, utilizando a metáfora dos "nós" para explorar os vínculos que unem e aprisionam ao mesmo tempo. Com uma linguagem rica em ambiguidades e simbolismos, o poema convida o leitor a refletir sobre a fragilidade e a beleza das tentativas de se conectar, mesmo quando o resultado final é a solidão compartilhada. É uma obra que mistura introspecção e crítica social em uma composição intimista e universal.

10/08/2013

Futuro, repetição do passado
Nisso as musas piram
Entre bosques, ares e lagos
Entoam até na sagrada pira
- O tempo não para, estala.

*

Análise do poema:

O poema "Futuro, repetição do passado" reflete sobre a circularidade do tempo e a relação entre memória, criação artística e a inevitável passagem temporal. Com imagens que misturam natureza, mitologia e abstrações sobre o tempo, o texto explora a tensão entre a repetição cíclica e o impulso criativo, culminando em uma afirmação dinâmica e incisiva sobre a continuidade do tempo.


Análise por Versos:

  1. "Futuro, repetição do passado"

    • Circularidade do tempo: O verso inicial apresenta uma ideia central do poema: o futuro como uma reencenação ou continuidade do passado, sugerindo que o tempo não é linear, mas cíclico.
    • Determinismo ou crítica: Este verso pode ser lido tanto como uma constatação filosófica quanto como uma crítica à incapacidade de romper padrões e transformar o futuro em algo verdadeiramente novo.
  2. "Nisso as musas piram"

    • As musas e o choque do ciclo: As musas, tradicionalmente associadas à inspiração artística e à criação, são representadas como surpresas ou desconcertadas diante da repetição temporal. O verbo "piram" traz um tom descontraído e contemporâneo que contrasta com a solenidade dos outros versos, conectando o passado mitológico à linguagem moderna.
    • Ironia e criatividade: Este verso sugere que mesmo a criação artística, frequentemente vista como algo inovador, está presa à repetição, o que gera um paradoxo que as musas, símbolo da inspiração, precisam enfrentar.
  3. "Entre bosques, ares e lagos"

    • Natureza e espaço intemporal: Os "bosques, ares e lagos" remetem a um ambiente atemporal, onde a natureza serve como pano de fundo para os ciclos eternos do tempo e da criação.
    • Refúgio ou palco: Esses elementos naturais podem ser interpretados como espaços de inspiração para as musas ou como símbolos de permanência, em contraste com a passagem efêmera do tempo humano.
  4. "Entoam até na sagrada pira"

    • Canto eterno: As musas, mesmo diante da repetição do passado e do desconcerto, continuam a entoar canções. A "sagrada pira" pode simbolizar tanto a chama do tempo quanto o ritual de renovação que ocorre na destruição e recriação.
    • Renovação e sacralidade: O fogo da "sagrada pira" é uma metáfora poderosa para o tempo que consome, mas também purifica e possibilita novos começos, destacando a natureza paradoxal do ciclo temporal.
  5. "- O tempo não para, estala."

    • Dinamismo do tempo: O fechamento do poema afirma a continuidade e a força do tempo, utilizando a palavra "estala" para evocar um som abrupto e energético, que rompe o fluxo contemplativo dos versos anteriores.
    • Contraste com a repetição: Embora o tempo seja descrito como repetitivo, o verbo "estala" sugere que, dentro desse ciclo, há momentos de ruptura ou intensidade que marcam mudanças ou recomeços.
    • Influência de Cazuza: A frase "O tempo não para" ecoa o título da famosa canção de Cazuza, criando um elo intertextual que reforça a ideia de continuidade e urgência na reflexão sobre o tempo.

Temas Centrais:

  1. Circularidade e Contradição Temporal:

    • O poema reflete sobre o tempo como um ciclo inevitável, onde o futuro não é verdadeiramente novo, mas uma variação do passado.
  2. Arte e Inspiração:

    • As musas, símbolos da criatividade, são apresentadas como participantes desse ciclo, sugerindo que mesmo a arte não escapa à repetição, embora continue a reinventar e celebrar o que já existe.
  3. Natureza e Transcendência:

    • Os elementos naturais evocam um cenário eterno e intemporal, reforçando a permanência da natureza como testemunha do movimento do tempo.
  4. Ruptura e Continuidade:

    • A ideia de que "o tempo não para" contrasta com a noção de repetição, sugerindo que, dentro do ciclo, há momentos de ruptura e intensidade que mantêm o dinamismo da vida.

Estilo e Linguagem:

  1. Mistura de Tons:

    • O poema combina solenidade (com referências às musas e à "sagrada pira") e descontração (com o uso de "piram" e o ritmo leve), criando um contraste que reflete a tensão entre o eterno e o contemporâneo.
  2. Intertextualidade:

    • A possível referência à canção de Cazuza ("O tempo não para") dialoga com a cultura popular, conectando a reflexão poética a um contexto mais amplo e acessível.
  3. Simbolismo Mitológico:

    • A inclusão das musas e da "sagrada pira" enriquece o poema com camadas de significado que remetem à tradição clássica, ampliando sua profundidade.
  4. Sonoridade e Ritmo:

    • O uso de palavras como "estala" e as imagens dinâmicas conferem um ritmo pulsante, que dá ao poema um senso de movimento e urgência.

Considerações Finais:

"Futuro, repetição do passado" é um poema que articula, com sutileza e energia, uma reflexão sobre o tempo, a criação e os ciclos inevitáveis da vida. Combinando elementos mitológicos, naturais e contemporâneos, ele destaca a coexistência de repetição e novidade, resignação e energia. A tensão entre o eterno e o efêmero, entre o sagrado e o casual, faz do poema uma meditação rica e instigante sobre a condição humana em face do tempo. É uma obra que celebra a continuidade enquanto reconhece a dificuldade de escapar de seus padrões.



07/07/2013

minguante, cheia
amantes vagueiam
Aqueronte, espelha
hoje é ontem;
amanhã, sereia

*

Análise do poema:

O poema "minguante, cheia" utiliza imagens lunares, mitológicas e temporais para explorar temas como desejo, transitoriedade e dualidade. Através de uma linguagem rica em simbolismo e ritmo, o texto estabelece uma atmosfera de mistério e introspecção, conectando elementos naturais e mitológicos à experiência humana de amor, tempo e transformação.


Análise por Versos:

  1. "minguante, cheia"

    • Lunaridade e ciclos: A referência às fases da lua (minguante e cheia) introduz o poema com a ideia de ciclos, transformação e dualidade. A lua é um símbolo universal da feminilidade, do mistério e da mutabilidade, sugerindo que o poema abordará temas de transição e influência.
    • Contraste e plenitude: A oposição entre "minguante" e "cheia" reflete estados opostos, mas complementares, evocando a alternância entre declínio e apogeu.
  2. "amantes vagueiam"

    • Movimento e desejo: O verbo "vagueiam" sugere um movimento errante, associado à busca ou ao abandono. Os amantes são retratados como figuras transitórias, à deriva em um espaço emocional ou físico.
    • Conexão com a lua: O ato de vaguear pode estar associado à influência da lua, que tradicionalmente é vista como guia dos apaixonados e inspiradora de sentimentos profundos.
  3. "Aqueronte, espelha"

    • Mitologia e reflexão: A menção ao Aqueronte (um dos rios do Hades na mitologia grega) adiciona uma dimensão sombria e introspectiva ao poema. O Aqueronte é tradicionalmente associado à travessia para o mundo dos mortos, mas aqui é apresentado como um espelho, sugerindo reflexo ou confronto com a própria essência.
    • Simbolismo do espelho: O espelhamento pode aludir à introspecção dos amantes ou à repetição de ciclos, onde passado e presente se refletem.
  4. "hoje é ontem;"

    • Temporalidade cíclica: Este verso reforça a ideia de que o tempo não é linear, mas sim um ciclo onde o presente é uma repetição do passado. Essa frase ecoa o sentimento de inevitabilidade, como se os amantes estivessem presos em um ciclo eterno.
    • Resignação e mistério: A pontuação com ponto e vírgula sugere uma pausa, uma reflexão contida, que liga esse verso ao próximo de maneira fluida, mas mantendo a ambiguidade.
  5. "amanhã, sereia"

    • Futuro sedutor e enganador: A sereia, figura mitológica conhecida por sua beleza e canto encantador, representa o desejo e o perigo. Aqui, o "amanhã" é apresentado como algo que seduz, mas também ilude, adicionando uma camada de ambiguidade ao futuro.
    • Transformação e mito: Assim como a lua, a sereia é uma figura associada à mudança e ao mistério. Sua inclusão sugere que o amanhã traz promessas sedutoras, mas incertas.

Temas Centrais:

  1. Ciclos e Transitoriedade:

    • O poema enfatiza a repetição e transformação inerentes ao tempo, às relações humanas e à natureza, utilizando a lua como símbolo central.
  2. Amor e Errância:

    • Os amantes são figuras em movimento, à deriva entre estados de desejo, introspecção e busca, sugerindo a natureza transitória e ambígua do amor.
  3. Mitologia e Reflexão:

    • As referências ao Aqueronte e à sereia trazem camadas mitológicas ao texto, conectando as experiências humanas de amor e tempo a arquétipos universais.
  4. Dualidade e Contraste:

    • A oposição entre minguante/cheia, hoje/ontem e o futuro ilusório da sereia reflete as tensões entre plenitude e vazio, passado e presente, desejo e perigo.

Estilo e Linguagem:

  1. Simbologia Natural e Mitológica:

    • A lua, o Aqueronte e a sereia são utilizados como símbolos universais que conectam a experiência humana a ciclos maiores e à espiritualidade.
  2. Musicalidade e Ritmo:

    • O poema possui um ritmo fluido, com versos curtos e marcados por pausas, que refletem o movimento errante dos amantes e a introspecção do tempo.
  3. Ambiguidade e Multiplicidade:

    • As imagens do poema são deliberadamente abertas, permitindo múltiplas interpretações e ampliando seu impacto simbólico.
  4. Contrastes e Progressão:

    • A estrutura do poema alterna entre opostos (minguante/cheia, hoje/ontem) e culmina em uma imagem sedutora e ambígua (a sereia), reforçando a ideia de transformação e ilusão.

Considerações Finais:

"minguante, cheia" é um poema que combina elementos naturais, mitológicos e temporais para explorar a transitoriedade e a dualidade da experiência humana. Ele reflete sobre o desejo, o tempo e a introspecção, utilizando a lua e outras figuras simbólicas para criar uma atmosfera de mistério e contemplação. Com uma linguagem rica em imagens e um tom ambíguo, o poema convida o leitor a refletir sobre os ciclos que moldam a vida, o amor e o próprio tempo. É uma obra que encanta pela profundidade simbólica e pela beleza de sua construção.

01/06/2013

estou

a dizer-me e a silenciar-me,
a passar-me em revista e a ignorar-me,
a cuidar-me e a salvar-te

*

Análise do poema: "estou"

O poema "estou" explora a dualidade do ser e do estar, navegando pelas tensões entre a introspecção e a ação, entre a relação consigo mesmo e com o outro. Com versos breves e contrastantes, ele reflete sobre a complexidade da existência humana e as dinâmicas de autocuidado, altruísmo e alienação.


Análise por Versos:

  1. "a dizer-me e a silenciar-me,"

    • Contradição interna: Este verso apresenta uma dualidade entre a fala (expressão) e o silêncio (contenção), sugerindo um processo interno de diálogo e introspecção.
    • Autocrítica e reflexão: "Dizer-me" pode simbolizar o ato de olhar para si mesmo, enquanto "silenciar-me" implica em ocultar partes de si ou evitar confrontos internos.
    • Oscilação existencial: A alternância entre os dois estados aponta para a fluidez da experiência humana, onde o indivíduo está constantemente entre o revelar-se e o esconder-se.
  2. "a passar-me em revista e a ignorar-me,"

    • Autoanálise e negação: O ato de "passar-me em revista" sugere um exame meticuloso ou crítico de si mesmo, enquanto "ignorar-me" reflete uma atitude de fuga ou negação.
    • Ciclos de atenção e descaso: O verso retrata o paradoxo da autopercepção, onde o eu se alterna entre um olhar atento e o descaso, evidenciando a complexidade do relacionamento consigo mesmo.
    • Ritmo de observação: Há uma continuidade com o verso anterior, reforçando a ideia de que o processo de autoconhecimento é dinâmico e cheio de contradições.
  3. "a cuidar-me e a salvar-te"

    • Transição do eu para o outro: Este verso muda o foco do eu lírico para o outro, sugerindo uma conexão entre o autocuidado e o cuidado com os outros.
    • Altruísmo e interdependência: "Cuidar-me" implica que o ato de cuidar de si é essencial para poder salvar ou ajudar o outro. Isso reflete a ideia de que a relação com o outro está profundamente enraizada na relação consigo mesmo.
    • Desafios da entrega: O contraste entre "cuidar-me" e "salvar-te" também sugere um esforço de equilíbrio entre preservar a própria integridade e dedicar-se ao próximo, destacando a tensão entre egoísmo e altruísmo.

Temas Centrais:

  1. Dualidade da Existência:

    • O poema explora as tensões internas e externas que definem o ser humano, destacando a coexistência de estados opostos como expressão e silêncio, autopercepção e alienação.
  2. Autoconhecimento e Contradição:

    • A repetição de contrastes reflete a dificuldade de compreender plenamente a si mesmo, com momentos de análise profunda alternando-se com períodos de negação.
  3. Relação com o Outro:

    • O verso final amplia o alcance do poema, conectando a relação consigo mesmo à capacidade de cuidar e salvar os outros, sugerindo interdependência.
  4. Cuidado e Sacrifício:

    • A ideia de "cuidar-me" e "salvar-te" implica uma dinâmica de equilíbrio entre o autocuidado e o sacrifício em prol do outro, refletindo sobre os limites e as responsabilidades desse ato.

Estilo e Linguagem:

  1. Linguagem Direta e Reflexiva:

    • O poema utiliza frases simples e diretas, que, combinadas, formam um mosaico de introspecção e análise relacional.
  2. Contrastes e Paradoxos:

    • A estrutura de oposição em cada verso cria um ritmo dinâmico e uma tensão que reflete os dilemas existenciais.
  3. Ritmo Contínuo:

    • A ausência de pontuação no meio dos versos cria fluidez, reforçando a ideia de que os processos internos e externos do eu lírico estão interligados e em movimento constante.
  4. Título Simples e Profundo:

    • O título "estou" captura o núcleo do poema: a presença no momento atual, marcada por complexidade e contradição, em constante interação entre o eu e o outro.

Considerações Finais:

"estou" é um poema que reflete sobre a fluidez e a complexidade da existência, alternando entre introspecção, autocrítica e conexão com o outro. Com uma linguagem direta e estruturada em contrastes, ele aborda temas como autoconhecimento, altruísmo e a tensão entre cuidado próprio e entrega ao outro. A força do poema reside em sua simplicidade aparente, que esconde uma profundidade reflexiva sobre as dinâmicas que moldam o ser humano no aqui e agora. É uma obra que convida o leitor a contemplar suas próprias contradições e relações, tanto internas quanto externas.


19/05/2013


dia do fico, do figo, do fígado
é de perder o juízo,
o algoritmo, o ritmo

*

Análise do poema:

O poema "dia do fico, do figo, do fígado" utiliza jogos de palavras e uma estrutura cadenciada para explorar temas como escolha, excesso e desorientação. Misturando referências históricas, simbólicas e corporais, o texto constrói uma reflexão irônica e crítica sobre os dilemas e as desordens que acompanham decisões e impulsos, sejam individuais ou coletivos.


Análise por Versos:

  1. "dia do fico, do figo, do fígado"

    • Referência histórica: "Dia do Fico" evoca o evento histórico de 1822, quando Dom Pedro I decidiu permanecer no Brasil e iniciar o processo de independência. Essa referência adiciona uma dimensão de escolha e decisão ao poema.
    • Jogo de palavras: A sequência "fico, figo, fígado" conecta a seriedade de um evento histórico à trivialidade ou materialidade de elementos cotidianos. O "figo" simboliza a doçura ou a tentação, enquanto o "fígado" evoca funções corporais, exaustão ou excesso (associado a emoções como raiva ou ao consumo excessivo de álcool).
    • Contraste entre o racional e o visceral: Ao unir "fico" (uma decisão), "figo" (uma fruta) e "fígado" (um órgão vital), o poema joga com a relação entre o pensamento consciente, os prazeres simples e as necessidades ou impulsos biológicos.
  2. "é de perder o juízo,"

    • Desorientação e caos: Este verso sugere que o conjunto de estímulos e escolhas descritos no verso anterior leva à confusão ou perda de controle.
    • Ironia: A frase apresenta um tom levemente humorístico, indicando que a complexidade ou intensidade do momento não pode ser gerenciada de forma racional.
  3. "o algoritmo, o ritmo"

    • Algoritmo como lógica ou padrão: O "algoritmo" representa a ordem, a racionalidade e os sistemas que regulam comportamentos e processos. Sua perda implica desordem, caos ou falha em seguir um padrão lógico.
    • Ritmo como cadência ou fluidez: A menção ao "ritmo" complementa a ideia de desorientação, apontando para a quebra de harmonia, equilíbrio ou continuidade, seja no plano emocional, físico ou social.
    • Simbolismo contemporâneo: A inclusão de "algoritmo" sugere uma leitura contemporânea do poema, aludindo à dependência da tecnologia e à ideia de que perder o "algoritmo" é perder a capacidade de navegação em um mundo cada vez mais sistematizado.

Temas Centrais:

  1. Escolha e Consequência:

    • O "fico" como decisão histórica ou pessoal se desdobra em elementos mais simples e viscerais, como o "figo" e o "fígado", ressaltando a complexidade e os desdobramentos das escolhas.
  2. Desordem e Perda de Controle:

    • O poema reflete sobre como escolhas, estímulos ou excessos podem levar à perda de referências racionais e harmônicas (o "juízo", o "algoritmo", o "ritmo").
  3. Contrastes e Interseções:

    • O texto joga com opostos: racionalidade e instinto, histórico e cotidiano, ordem e caos, mostrando como eles se sobrepõem em momentos decisivos ou caóticos.
  4. Modernidade e Desorientação:

    • A referência ao "algoritmo" conecta o poema a questões modernas, como a dependência de sistemas digitais e a desorientação causada por sua falha ou ausência.

Estilo e Linguagem:

  1. Jogo de Palavras:

    • A repetição de sons ("fico, figo, fígado") cria uma sonoridade fluida e divertida, enquanto amplia os significados do poema.
  2. Ironia e Humor:

    • O tom do poema é levemente irônico, transformando eventos ou conceitos sérios (como o "fico" ou o "algoritmo") em algo descontraído e acessível.
  3. Ritmo Dinâmico:

    • A alternância de ideias e palavras rápidas dá ao poema uma cadência que reforça o tema do descontrole e da perda de harmonia.
  4. Simbolismo Universal e Contemporâneo:

    • Ao combinar referências históricas, corporais e tecnológicas, o poema cria um diálogo entre o passado, o presente e a condição humana.

Considerações Finais:

"dia do fico, do figo, do fígado" é um poema que, com humor e profundidade, reflete sobre escolhas, estímulos e desordens. Ele utiliza jogos de palavras e contrastes para mostrar como o racional e o visceral se entrelaçam em momentos de excesso ou confusão. Com sua linguagem contemporânea e simbólica, o texto dialoga com questões históricas e atuais, convidando o leitor a contemplar tanto o caos da modernidade quanto os impulsos atemporais da existência humana. É uma obra que encanta pela leveza com que aborda temas complexos e universais.

no vibra call, o mugido
da cow - doído -
choro de cowboy traído

*

Análise do poema:

O poema "no vibra call" utiliza humor, ironia e um jogo sonoro marcante para conectar elementos tecnológicos, rurais e emocionais em uma reflexão inesperada sobre traição e dor. Misturando referências modernas (como o "vibra call" do celular) com imagens do universo country, o poema constrói uma narrativa ágil que brinca com a sonoridade das palavras e os estereótipos culturais.


Análise por Versos:

  1. "no vibra call, o mugido"

    • Conexão tecnológica e rural: O "vibra call" remete ao toque vibratório de celulares, um elemento comum e moderno. Ao associá-lo ao "mugido" (som característico da vaca), o poema cria um contraste inusitado entre o tecnológico e o rural.
    • Som e humor: A justaposição entre o vibra call e o mugido sugere que o som emitido pelo aparelho é carregado de uma dramaticidade cômica, ao mesmo tempo absurda e significativa.
  2. "da cow - doído -"

    • Referência cultural e sentimento: A "cow" (vaca) é uma figura central no universo rural e country, simbolizando o ambiente bucólico e os dramas do campo. O mugido "doído" humaniza o animal, atribuindo-lhe um tom de sofrimento que dialoga com a temática emocional do poema.
    • Estrangeirismo e estilo: A escolha da palavra "cow" em inglês reforça o tom country-western, trazendo um toque cultural que se conecta ao "cowboy" no verso seguinte.
  3. "choro de cowboy traído"

    • Estereótipo emocional: O "cowboy traído" evoca uma figura arquetípica da música e da cultura country: o homem solitário que sofre pela perda ou pela traição amorosa.
    • Humor e melancolia: A imagem do cowboy chorando complementa o tom tragicômico do poema, onde a dor da traição é tratada de maneira leve e satírica.
    • Ritmo e sonoridade: O verso final encerra o poema com uma cadência sonora rica em "o", reforçando o eco do choro e do mugido, conectando o humano e o animal em um sofrimento compartilhado.

Temas Centrais:

  1. Contrastes entre Modernidade e Tradição:

    • O poema brinca com a convivência entre elementos tecnológicos (vibra call) e rurais (mugido da vaca), sugerindo que os dramas humanos persistem independentemente do contexto.
  2. Humor e Tragédia:

    • Ao tratar o sofrimento de maneira cômica e exagerada, o poema reflete sobre a universalidade de emoções como a traição e a tristeza, mesmo em contextos caricatos.
  3. Cultura Country e Globalização:

    • A presença de termos como "cow" e "cowboy" aponta para a influência da cultura americana, especialmente a música country, como uma representação de dores sentimentais que transcendem fronteiras.
  4. Antropomorfismo e Empatia:

    • O "mugido doído" da vaca cria uma ponte entre o sofrimento humano e o animal, sugerindo uma conexão simbólica entre os dois universos.

Estilo e Linguagem:

  1. Jogo Sonoro:

    • A repetição de sons semelhantes ("call", "cow", "doído") e o uso de palavras que evocam som, como "mugido", reforçam a musicalidade do poema.
  2. Estrangeirismos:

    • Termos em inglês como "vibra call" e "cow" dão um tom global e contemporâneo, dialogando com o estilo country ocidental.
  3. Ironia e Humor:

    • O tom irônico permeia todo o poema, subvertendo a seriedade do sofrimento amoroso ao situá-lo em um contexto rural-tecnológico.
  4. Ritmo Ágil:

    • Com versos curtos e diretos, o poema cria um ritmo que espelha o vibrar do celular e a rapidez de suas associações.

Considerações Finais:

"no vibra call" é um poema que, com leveza e criatividade, combina o moderno e o rural para refletir sobre temas universais de dor e traição. A mistura de humor, ironia e imagens sonoras cria um efeito tragicômico que humaniza tanto o cowboy quanto a vaca, conectando o leitor a um sofrimento exagerado, mas identificável. O uso de estrangeirismos e referências culturais amplia o alcance simbólico do poema, tornando-o uma crítica bem-humorada às angústias sentimentais e às influências da globalização. É uma obra que encanta pela inventividade e pelo ritmo cativante.

a preocupação do rei na cura gay
entre parábolas, epístolas e apostolados
é o dízimo não arrecadado
é a fé no mercado

*

Análise do poema:

O poema "a preocupação do rei na cura gay" apresenta uma crítica incisiva e irônica às relações entre religião, política e interesses financeiros. Com uma linguagem direta e alusiva, o texto questiona os verdadeiros motivos por trás de discursos moralizantes e dogmáticos, expondo a hipocrisia que pode estar associada a essas práticas.


Análise por Versos:

  1. "a preocupação do rei na cura gay"

    • Figura do rei: O "rei" pode ser interpretado como uma metáfora para líderes religiosos, políticos ou figuras de autoridade que assumem um papel central em debates sociais e morais. A escolha do termo confere um tom arquetípico, representando o poder concentrado.
    • Cura gay como símbolo: A "cura gay" é apresentada como um exemplo de pauta polêmica e moralista, frequentemente usada para manipular discursos políticos e religiosos. O verso sugere que essa preocupação é mais performática do que genuína, indicando interesses ocultos.
    • Crítica à manipulação: A associação do "rei" à "cura gay" denuncia a instrumentalização de questões humanas e sociais para atender a agendas de poder e controle.
  2. "entre parábolas, epístolas e apostolados"

    • Referências religiosas: As "parábolas" (ensinos alegóricos), "epístolas" (cartas doutrinárias do Novo Testamento) e "apostolados" (missões dos apóstolos) representam elementos centrais do cristianismo, evocando a linguagem e as práticas religiosas.
    • Contraste com o contexto: A evocação desses elementos, que deveriam remeter à espiritualidade e ao cuidado com o próximo, destaca o contraste com a hipocrisia dos líderes preocupados com a "cura gay".
    • Sutileza crítica: O verso denuncia como narrativas religiosas podem ser distorcidas e instrumentalizadas, desviando-se de seus princípios éticos para atender a interesses mundanos.
  3. "é o dízimo não arrecadado"

    • Interesses financeiros: A menção ao dízimo coloca o foco na dimensão materialista por trás da preocupação moralista. A crítica aponta que a motivação central não é o bem-estar espiritual, mas o impacto financeiro que tais questões podem ter nas instituições religiosas.
    • Hipocrisia exposta: O verso expõe a contradição entre o discurso de preocupação com valores e a realidade de interesses econômicos que muitas vezes sustentam essas posições.
  4. "é a fé no mercado"

    • Mercantilização da fé: Este verso amplia a crítica ao apontar como a religião, em muitos casos, se torna uma mercadoria, com a fé sendo tratada como um produto que pode ser negociado, vendido ou usado como ferramenta de controle.
    • Economia e espiritualidade: A expressão "fé no mercado" também ironiza a inversão de valores, onde o mercado se torna um objeto de crença maior do que os próprios ideais espirituais que deveriam ser defendidos.
    • Encerramento contundente: O verso final sintetiza a denúncia do poema, revelando que a preocupação moralista muitas vezes serve como cortina de fumaça para interesses financeiros e capitalistas.

Temas Centrais:

  1. Hipocrisia Religiosa:

    • O poema denuncia a dissonância entre o discurso moral e os verdadeiros interesses por trás dele, sugerindo que a preocupação com questões como a "cura gay" é superficial e oportunista.
  2. Religião e Economia:

    • A relação entre a arrecadação de dízimos e o mercado expõe a mercantilização da fé e como ela pode ser usada para fins financeiros, em detrimento de seus valores espirituais.
  3. Poder e Manipulação:

    • O "rei" simboliza líderes que utilizam questões morais e religiosas para manipular suas bases, desviando o foco de problemas reais em prol de agendas de controle.
  4. Crítica Social e Cultural:

    • O poema reflete sobre a instrumentalização de pautas sociais sensíveis, como a "cura gay", para reforçar sistemas de poder e exploração.

Estilo e Linguagem:

  1. Ironia e Provocação:

    • O tom irônico permeia todo o poema, desafiando o leitor a refletir criticamente sobre as motivações por trás de discursos religiosos e políticos.
  2. Referências Religiosas:

    • A inclusão de termos como "parábolas", "epístolas" e "apostolados" cria uma atmosfera que remete à religiosidade tradicional, mas é subvertida pela crítica.
  3. Linguagem Contemporânea:

    • A expressão "fé no mercado" conecta o poema ao contexto moderno, sugerindo que a religião, em alguns casos, está profundamente entrelaçada com práticas capitalistas.
  4. Concisão e Impacto:

    • O poema é curto e direto, mas cada verso carrega uma densidade crítica que convida o leitor a revisitar e analisar múltiplas camadas de significado.

Considerações Finais:

"a preocupação do rei na cura gay" é um poema que mistura ironia, crítica social e referências religiosas para expor a hipocrisia e a mercantilização associadas a discursos moralistas. Ele revela como questões sensíveis e pessoais podem ser manipuladas para atender a interesses financeiros e de poder, desconectando-se dos valores espirituais que deveriam nortear essas práticas. Com uma linguagem afiada e alusiva, o poema é uma reflexão contundente sobre a relação entre religião, política e economia na contemporaneidade.


vou beber
até
me rinsquecer

*

Análise do poema:

O poema "vou beber / até / me rinsquecer" é uma peça breve, mas carregada de ironia e criatividade linguística. Ele explora a relação entre o corpo e o ato de beber, conectando humor, tragédia e reflexão sobre os excessos. O jogo de palavras com "rinsquecer" (misturando "rins" e "esquecer") sintetiza de forma irônica o custo físico e emocional do abuso de álcool, abrindo espaço para múltiplas interpretações.


Análise por Partes:

  1. "vou beber"

    • Ação inicial e promessa: O verso estabelece a intenção do eu lírico, que se propõe a beber como resposta ou reação a uma situação. O verbo "beber" carrega uma carga simbólica: pode ser visto como celebração, escapismo ou autodestruição.
    • Simplicidade e universalidade: A frase é direta, sugerindo uma ação cotidiana que pode ser reconhecida por qualquer leitor, mas que ganha camadas de complexidade nos versos seguintes.
  2. "até"

    • Suspensão e expectativa: A pausa provocada pelo verso isolado "até" cria um intervalo que intensifica a curiosidade do leitor sobre os limites ou consequências da ação. O termo sugere um excesso, um ponto de ruptura que será revelado no desfecho.
    • Tensão implícita: O "até" pode ser interpretado como uma escalada de intensidade, sugerindo que o ato de beber não será moderado, mas levado a um extremo.
  3. "me rinsquecer"

    • Jogo de palavras: A fusão entre "rins" e "esquecer" é o ápice criativo do poema. O termo combina o impacto físico do álcool (associado aos rins) com o objetivo emocional ou psicológico de esquecer algo.
    • Humor e crítica: O neologismo "rinsquecer" mistura ironia e tragédia. O humor surge da construção inusitada da palavra, enquanto a crítica está na sugestão de autodestruição como forma de lidar com o sofrimento.
    • Corpo como limite: Ao conectar o ato de beber ao órgão vital dos rins, o poema enfatiza o impacto físico dos excessos e sugere que, na busca por esquecimento, o corpo paga o preço mais alto.

Temas Centrais:

  1. Excesso e Autodestruição:

    • O poema reflete sobre os limites físicos e emocionais da busca por alívio ou escapismo através do álcool, destacando o custo desse excesso.
  2. Humor e Tragédia:

    • A tensão entre o tom humorístico (criado pelo jogo de palavras) e a seriedade do tema subjacente reforça a complexidade da experiência humana diante do sofrimento.
  3. Corpo e Emoção:

    • Ao envolver os rins no processo de "esquecer", o poema destaca a interdependência entre corpo e mente, sugerindo que o sofrimento emocional inevitavelmente se reflete no físico.
  4. Busca por Esquecimento:

    • A vontade de esquecer aparece como motivação central, levantando questões sobre os métodos (e seus custos) que as pessoas utilizam para lidar com a dor ou o desconforto.

Estilo e Linguagem:

  1. Economia Poética:

    • Com apenas três versos curtos, o poema condensa uma mensagem rica e multifacetada, demonstrando o poder da síntese na poesia.
  2. Neologismo Criativo:

    • A invenção da palavra "rinsquecer" é o ponto alto do poema, trazendo frescor à linguagem e ampliando o impacto emocional e crítico do texto.
  3. Ritmo e Pausa:

    • O isolamento do "até" cria um efeito de pausa dramática, guiando o leitor até o desfecho de maneira envolvente.
  4. Tom Irônico:

    • A ironia permeia o poema, transformando um tema potencialmente pesado em algo que mistura reflexão e leveza.

Considerações Finais:

"vou beber / até / me rinsquecer" é um poema que, com humor e densidade, reflete sobre os limites entre corpo, emoção e escapismo. O neologismo "rinsquecer" encapsula, de forma brilhante, o custo físico e psicológico da busca por alívio através do excesso, transformando o ato de beber em uma metáfora para a autodestruição irônica e consciente. É uma obra que provoca risos, mas também convida à introspecção sobre o equilíbrio entre prazer, sofrimento e os limites do corpo.

Blz...

sentimento, pensamento
coca-cola,  menthos
explode na boca
movimentos

sonho sauna fortaleza
sexo origens cidade beleza
arruinada conservada
leveza

sonho pesadelo
corpo alma
peso
sutileza

*

O poema apresenta um jogo dinâmico entre contrastes e intensidades, evocando uma experiência quase sinestésica.

Análise:

1. Estrutura e ritmo:
O texto é composto por versos curtos, ritmados e fragmentados, criando um fluxo que reflete a oscilação entre opostos e sensações contraditórias.


2. Dualidades:

Há um contraste explícito entre opostos: peso e leveza, sonho e pesadelo, conservada e arruinada.

Isso sugere um diálogo interno ou externo entre extremos da experiência humana, como prazer e dor, ou ordem e caos.

3. Imagens e metáforas:

Coca-cola e menthos: Uma metáfora explosiva, simbolizando encontros intensos que provocam reações imprevisíveis.

Sonho sauna fortaleza: Une elementos de desejo, calor e proteção, sugerindo um espaço interno que oscila entre conforto e opressão.

4. Movimentos e transformação:

Os versos insinuam dinamismo, sugerindo mudanças contínuas, sejam elas internas (emoções e pensamentos) ou externas (espaços e cidades).

5. Tonalidade e significado:

Apesar do aparente caos, há um subtexto de busca por equilíbrio entre forças opostas, como se a coexistência desses contrastes fosse essencial para a experiência humana.

Conclusão:

O poema captura a essência de como a mente e o corpo navegam por intensidades e contradições. Ele ecoa uma busca por significado no meio de encontros, sonhos e fragmentos da realidade. É um convite à reflexão sobre o que nos move e transforma.