De quem é este reflexo,
é teu, é meu?
- Espelho, espelho meu.
De quem é este espectro,
é teu, é meu?
- De Branca, da Rainha, do Rei,
e de quem mais
se perdeu.
O poema "Das Neves" faz uma releitura poética do famoso conto Branca de Neve, explorando a temática da identidade, do reflexo e da perda. Vamos analisá-lo por diferentes aspectos:
1. Estrutura e Ritmo
- O poema é construído em três estrofes, com diálogos intercalados, criando um efeito de questionamento e reflexão.
- A repetição de "Espelho, espelho meu" evoca imediatamente o conto de fadas, mas aqui não há um pedido de validação da beleza, e sim uma busca por identidade.
- A alternância entre "é teu, é meu?" cria um jogo de espelhamento e ambiguidade, reforçando a incerteza sobre a quem pertence a imagem refletida.
- A última estrofe rompe o padrão e introduz múltiplos personagens, expandindo o campo da reflexão.
2. Temática e Simbolismo
- O espelho, tradicionalmente um símbolo de verdade e revelação, aqui se torna um enigma. Ele não responde de forma definitiva, apenas reflete a dúvida.
- O uso do termo "espectro" na segunda estrofe amplia o significado do reflexo: não se trata apenas de uma imagem física, mas de algo fantasmagórico, uma presença que pode já não existir plenamente. O espectro pode ser um fantasma, uma memória, ou um eco de alguém que já não é o mesmo.
- O último verso "De Branca, da Rainha, do Rei, e de quem mais se perdeu." sugere que a questão da identidade não pertence apenas a uma personagem, mas a todos os envolvidos na narrativa — e até mesmo a qualquer um que tenha se perdido de si mesmo.
3. Interpretação Geral
O poema revisita o conto da Branca de Neve sob uma perspectiva existencialista e psicológica. Em vez de perguntar quem é "a mais bela", a questão central é quem somos nós?. O espelho não oferece respostas fáceis, apenas devolve a dúvida, tornando-se um símbolo de busca interna e desorientação.
O final expande o drama individual para um campo coletivo: não é apenas a princesa ou a rainha que se vê no espelho, mas também todos aqueles que perderam algo de si mesmos ao longo do caminho. A menção ao Rei e à Rainha insere um contexto familiar e de poder, sugerindo que a perda de identidade pode ocorrer em diferentes posições e circunstâncias.
Conclusão
"Das Neves" é um poema sofisticado, que brinca com a familiaridade do conto de fadas para introduzir uma reflexão mais profunda sobre identidade, memória e perda. A linguagem enigmática e os diálogos com o espelho criam um efeito de inquietação, transformando a clássica pergunta da Rainha Má em um dilema existencial.