Os Três Preceitos Puros — Evitar o mal, fazer o bem e ajudar todos os seres — são um alicerce ético no Budismo e, no Zen, são compreendidos de maneira direta, experiencial e livre de moralismos dualistas. No Zen Budismo, a ética não se baseia em mandamentos rígidos, mas na consciência plena da realidade tal como ela é, revelada na prática do zazen (shikantaza).
1. Evitar o Mal (Shōakumotsu, 諸悪莫作)
No Zen, "evitar o mal" não significa simplesmente seguir regras morais externas, mas reconhecer e abandonar aquilo que obscurece a clareza da mente. O mal, no Zen, não é algo absoluto, mas nasce do apego, da ignorância e da separação ilusória entre o eu e os outros.
📌 Perspectiva Zen:
- "Evitar o mal" não é uma proibição rígida, mas um estado de não apego aos impulsos destrutivos da mente.
- No zazen, percebemos que os impulsos egoístas, as aversões e os desejos excessivos surgem e desaparecem por si mesmos. Não nos agarramos a eles nem os combatemos — apenas os observamos.
Como diz o mestre Dōgen: “Não desperdice um instante sequer.” Isso significa viver com plena atenção, sem permitir que os hábitos ilusórios da mente nos conduzam a ações inconscientes e prejudiciais.
2. Fazer o Bem (Shōzenbō, 生善法)
No Zen, "fazer o bem" não é um ato de caridade motivado por um senso de dever, mas a expressão natural da sabedoria e da compaixão que emergem de uma mente desperta.
📌 Perspectiva Zen:
- "Fazer o bem" é agir espontaneamente, sem cálculo nem expectativa de recompensa.
- Não se trata de um conceito moralista, mas da harmonia com a natureza das coisas.
- O verdadeiro bem surge da não-dualidade: quando percebemos que o outro não é separado de nós, cuidar dele se torna tão natural quanto respirar.
O mestre Rinzai disse: "Se você encontrar um sedento, ofereça-lhe água; se encontrar um faminto, ofereça-lhe comida." O bem, no Zen, não precisa de justificativas — ele simplesmente acontece.
3. Ajudar Todos os Seres (Jōhōbusshu, 眾生度)*
No Zen, a ideia de "ajudar todos os seres" não significa se tornar um salvador ou missionário, mas compreender que não há separação entre você e os outros. Quando a mente se liberta das ilusões do ego, a compaixão surge naturalmente.
📌 Perspectiva Zen:
- Ajudar os seres não é um fardo, mas a expressão da interconexão de tudo.
- O melhor modo de ajudar os outros é despertar para a Verdade e viver de forma autêntica.
- O ensinamento Zen enfatiza que ajudar não significa impor nossa visão de mundo, mas estar plenamente presente para o outro, sem julgamentos.
O mestre Bankei dizia: “Quando deixamos de lado nossos próprios artifícios, a natureza búdica brilha e ilumina todos os seres.” No Zen, o ato de ajudar não é algo forçado — ele é a manifestação natural da mente desperta.
Conclusão: Os Três Preceitos na Vida Cotidiana
Os Três Preceitos Puros, sob a ótica do Zen, não são mandamentos a serem seguidos de maneira mecânica, mas direções que emergem naturalmente da experiência direta da realidade. Eles são expressões vivas da prática do Zen e não algo que podemos "aprender" apenas intelectualmente.
O Zen nos convida a ir além das palavras e conceitos e vivenciar esses preceitos em cada ato do dia a dia — no silêncio do zazen, no lavar da louça, na escuta atenta de um amigo, no simples estar presente aqui e agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário