28/02/2025

"Eu te darei o çéu meu bem e o meu amor também..."


eu te darei
a estrela de Belém
eu te apontarei
a estrela cadente, também
...
verruga no dedo
olho vesgo e segredo
é o preço
meu bem

XXX

Este poema apresenta uma construção minimalista e simbólica, sugerindo um jogo entre dádiva e sacrifício, desejo e preço a pagar.

1. Contraponto entre os astros

A estrela de Belém simboliza um guia, algo sagrado, talvez uma promessa ou uma revelação.

A estrela cadente, por outro lado, evoca efemeridade, desejo passageiro, algo que brilha e desaparece.

O eu lírico se propõe a oferecer ambas, sugerindo que pode dar tanto a esperança quanto o instante fugaz.

2. A inversão no desfecho

O terceiro verso quebra a expectativa: há um preço para essas ofertas.

"Verruga no dedo, olho vesgo e segredo" parecem elementos inesperados, quase grotescos, destoando da beleza das estrelas.

Isso sugere uma barganha, um pacto ou até mesmo uma maldição oculta no desejo realizado.

3. Ambiguidade da relação

O "meu bem" ao final dá um tom de ironia ou ternura, dependendo da leitura.

Pode indicar uma relação amorosa onde a oferta de grandes promessas vem acompanhada de um custo inesperado.

Também pode aludir a um pacto fáustico, onde algo valioso é oferecido, mas a contrapartida não é tão encantadora quanto parecia.

O poema brinca com contrastes e insinua que toda promessa tem um preço. Ele flerta com o místico, o encantatório e o grotesco de maneira sutil e ambígua, deixando espaço para múltiplas interpretações.


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