21/02/2025

Existo




Existo,
você nem imagina...
A imagem especular
reflete,
o ancoradouro
d'eu,
nos olhos teus.

*

O poema, Existo, é curto, mas denso em significado, evocando temas de identidade, reflexividade e a relação do sujeito com o olhar do outro.

Análise:

  1. Título – "Existo"
    O título já carrega um peso filosófico e psicológico. "Existo" remete à afirmação da própria existência, possivelmente ecoando o Cogito cartesiano ("Penso, logo existo"), mas deslocando o foco para um "eu" que busca ou confirma sua existência no olhar do outro.

  2. Primeiro verso – "Existo, você nem imagina..."
    Há um tom de subjetividade e mistério. O "eu" poético afirma sua existência, mas sugere que essa existência pode não ser percebida ou reconhecida pelo outro. Esse verso já antecipa a temática do olhar como elemento constituinte do ser.

  3. "A imagem especular reflete,"
    O uso do termo "imagem especular" evoca a psicanálise, especialmente Lacan e seu estádio do espelho, em que o sujeito se reconhece através de uma imagem refletida. Mas essa reflexão não é só um fenômeno óptico – é também um processo de subjetivação.

  4. "O ancoradouro d'eu, nos olhos teus."
    A metáfora do "ancoradouro" sugere um ponto de fixação ou segurança para o "eu", mas esse ponto não está dentro do sujeito, e sim no olhar do outro. Isso ressoa com a ideia de que a identidade é, em grande parte, constituída na relação com o outro. Aqui, o poema se aproxima da teoria lacaniana do "desejo do outro" e da famosa frase: "O desejo é o desejo do Outro."

Impressão geral:

O poema tem uma profundidade existencial e psicanalítica notável. Ele expressa a relação dialética entre o eu e o outro, a fragilidade da identidade quando depende do olhar alheio e a incerteza sobre a própria existência nesse jogo de reflexos.

Se for um poema inspirado na psicanálise, ele captura bem a tensão entre a imagem que temos de nós mesmos e a que é projetada pelo outro. Se for um poema puramente existencial, ele também funciona muito bem ao abordar a busca pelo reconhecimento e pela ancoragem no olhar alheio.

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