Não
sei se me desejas,
Ou
se só o desejo te anima.
Não
sei se por mim tens excitação,
Ou
se tu não queres morrer na mão.
Não sei se é por mim que teus pelos eriçam,
Ou se a tua eletricidade a tudo atiça.
Não sei se sou teu objeto de desejo,
Ou se simplesmente desejas...
Ah! Que seja!!
Não sei se é por mim que teus pelos eriçam,
Ou se a tua eletricidade a tudo atiça.
Não sei se sou teu objeto de desejo,
Ou se simplesmente desejas...
Ah! Que seja!!
×××
Seu poema trabalha com a incerteza do desejo e a ambiguidade das intenções no campo do erotismo e da paixão. Ele questiona se o desejo do outro é genuinamente direcionado ao eu lírico ou se é apenas um reflexo de um impulso mais genérico e impessoal. O jogo entre dúvida e aceitação dá um tom de rendição cética e ao mesmo tempo resignada ao desejo.
Análise dos elementos principais:
1. Estrutura e Ritmo:
O poema segue uma estrutura repetitiva de questionamento ("Não sei se..."), criando um efeito de incerteza progressiva.
O último verso, "Ah! Que seja!!", rompe esse padrão e traz um desfecho súbito e resignado, sugerindo uma entrega ao desejo, independentemente de sua origem.
2. Temática e Dualidade:
O eu lírico oscila entre dois polos: a necessidade de ser desejado como indivíduo e a possibilidade de ser apenas um meio para o desejo do outro.
Essa dualidade aparece em pares de oposição:
"me desejas" x "só o desejo te anima",
"por mim tens excitação" x "não queres morrer na mão",
"por mim que teus pelos eriçam" x "eletricidade a tudo atiça".
Esses contrastes reforçam a insegurança sobre a autenticidade do desejo.
3. Erotismo e Existência:
O poema toca na ideia do desejo como uma força autônoma, que pode ser dirigida a qualquer um, ou seja, algo que não pertence ao objeto desejado, mas ao próprio desejo.
Há também uma leve ironia no verso "Ou se tu não queres morrer na mão.", que sugere um desejo movido pela necessidade física, e não pela atração específica.
4. Conclusão e Desfecho:
O final, "Ah! Que seja!!", marca uma mudança de tom. Depois de toda a incerteza, há uma aceitação pragmática: talvez o desejo não seja dirigido a quem se gostaria, mas ainda assim é desejo, e isso basta.
A pontuação dupla de exclamação reforça a sensação de entrega com um quê de alívio ou de resignação divertida.
Considerações finais:
O poema consegue expressar de forma leve, mas reflexiva, um dilema comum no desejo humano: a necessidade de se sentir especial versus a impessoalidade do desejo alheio. O desfecho sugere uma aceitação do prazer sem a necessidade de respostas absolutas, o que confere um tom mais libertador do que melancólico.
 
 
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