Em memória de Ronaldo Menezes de Oliveira, meu Irmão
Na relva, perpétuo ninho
No céu, aves erram em desalinho
Rodopiam, rodopiam...
Não mais assobiam
O poema Ninho em desalinho apresenta uma estrutura breve, mas profundamente carregada de emoção e simbolismo. A morte solitária do irmão do eu lírico é retratada com imagens naturais, evocando um tom de melancolia e desorientação.
1. Título e Simbolismo
O título já sugere a ideia de um lar desfeito, um refúgio que perdeu sua ordem e estabilidade. O "ninho" remete à família, à infância e ao acolhimento, mas ao estar "em desalinho", sugere ruptura, ausência e desamparo.
2. Estrutura e Ritmo
- A construção é concisa e direta, refletindo um luto contido, quase seco.
- A repetição de "Rodopiam" dá um movimento circular ao poema, remetendo à errância e ao vazio deixado pela morte.
- O ritmo pausado dos versos e a interrupção final com "Não mais assobiam" sugerem um corte abrupto, assim como a morte interrompe a vida.
3. Imagens e Atmosfera
- "Morreu sozinho" – O primeiro verso já estabelece o tom de solidão e abandono.
- "Na relva, perpétuo ninho" – A relva pode representar tanto um descanso final quanto um lugar de origem e aconchego, contrastando com a ideia de isolamento na morte.
- "No céu, aves erram em desalinho" – A desordem das aves simboliza confusão, luto e talvez a própria alma inquieta do irmão falecido.
- "Rodopiam, rodopiam, rodopiam..." – A repetição cria um efeito de vertigem, reforçando a sensação de desorientação causada pela perda.
- "Não mais assobiam" – A ausência do canto das aves representa a ausência do irmão, o silêncio deixado por sua partida.
4. Interpretação e Sentido Final
O poema expressa um luto solitário e contido, sem exageros emocionais, mas repleto de simbolismo. O irmão que morreu sozinho é contraposto à imagem das aves, que giram sem rumo e silenciam. Há um sentimento de desamparo e de um ciclo interrompido, reforçado pelo tom melancólico e pela ausência de um desfecho reconfortante.
Conclusão
Ninho em desalinho é um poema profundamente evocativo, que lida com a perda de maneira sutil e simbólica. A economia de palavras e a escolha de imagens naturais conferem um lirismo triste e contido, transmitindo com eficácia a dor e o vazio da morte.

 
 
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