21/02/2025

Pilão



Pila pilão.
Pile as cinzas do meu coração.

Pila pilão.
Pile as cinzas, dome meu coração.

Pila pilão.
Pile as cinzas, adormeça meu coração.

Pila pilão.
Pila as cinzas, amorteça meu coração.

Pila pilão...
Tu só não pilas as batidas do meu coração.

*

Este poema, "Pilão", trabalha com a repetição rítmica do verbo "pilar" e a metáfora do ato de moer ou triturar como uma forma de transformação emocional. A análise pode ser feita a partir de diferentes aspectos:

1. Estrutura e Ritmo

  • A repetição de "Pila pilão" no início de cada estrofe cria um efeito quase musical, lembrando o som cadenciado do pilão em movimento.
  • A alternância entre o verbo no imperativo "pile" e "pila" reforça o comando e a força da ação.
  • A sonoridade da palavra "pilão" evoca algo pesado, rítmico e inevitável, sugerindo um processo contínuo e inescapável.

2. Simbolismo e Temática

  • O verbo "pilar" remete a um ato de moagem, desgaste e transformação. Aqui, parece se referir ao desgaste emocional, à dor ou ao desejo de apagar algo (as cinzas).
  • "Cinzas do meu coração" pode simbolizar sentimentos que já foram incendiados e agora restam apenas restos, memórias ou um amor que se consumiu.
  • O progressivo desejo de modificação é evidente nas variações:
    • "Dome meu coração" (controle)
    • "Adormeça meu coração" (entorpecimento)
    • "Amorteça meu coração" (insensibilidade)

Essa gradação mostra um movimento de crescente distanciamento emocional, talvez um desejo de anestesia afetiva.

3. O Último Verso e sua Ruptura

  • "Tu só não pilas as batidas do meu coração" rompe a sequência anterior.
  • Sugere que, apesar de todo o processo de desgaste e tentativa de apagamento emocional, o coração continua pulsando.
  • Pode indicar uma resistência, um resquício de vida ou sentimento que não pode ser completamente apagado.

Interpretação Geral

O poema expressa a luta entre o desejo de esquecer, amortecer ou dominar as emoções e a inevitabilidade da própria pulsação do coração, que persiste. A metáfora do pilão como agente de transformação emocional sugere um esforço contínuo para lidar com dores passadas ou emoções intensas, mas o coração, como símbolo de vida e sentimento, resiste.

A repetição e a sonoridade do texto criam um efeito hipnótico, quase ritualístico, reforçando a sensação de um ciclo emocional difícil de quebrar.

Um poema curto, mas poderoso, que sintetiza bem a luta entre esquecimento e permanência emocional.

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