16/02/2025

As pessoas




As pessoas falam.
Falam.
Falam...
Mesmo quando se calam.

As pessoas vão.
Voltam.
Vão.
Voltam...
Mesmo quando se isolam.

As pessoas, bem...
As pessoas...
Só não estão
Aqui.

E agora?

*

O poema "As pessoas" aprofunda a sensação de ausência e incomunicabilidade por meio de um ritmo fragmentado e pausado. Vamos analisar seus principais elementos:

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1. Estrutura e Ritmo

A estrutura fragmentada do poema conduz o leitor por um fluxo de palavras e silêncios. O uso de quebras abruptas e repetições cria um efeito de eco e insistência, refletindo a ideia de que as pessoas estão em constante comunicação e movimento, mas sem verdadeira presença.

As pessoas falam.
Falam.
Falam...

→ A repetição sugere a proliferação incessante de palavras, um ruído constante que não necessariamente significa comunicação genuína.

As pessoas vão.
Voltam.
Vão.
Voltam...

→ Aqui, o movimento contínuo reforça a circularidade do existir humano: as pessoas estão sempre indo e voltando, mas sem real propósito ou conexão.

As pessoas, bem...
As pessoas...
Só não estão
Aqui.

E agora?

→ O momento de maior impacto. O poema conduz o leitor a perceber que, apesar do falar e do mover-se, a verdadeira presença não existe. A quebra da repetição reforça essa constatação.

"E agora?"

→ Esse fechamento dá um tom de interrogação existencial. Não apenas sobre a ausência das pessoas, mas sobre o que vem depois dessa percepção. É um convite à reflexão, um questionamento que permanece no ar.

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2. Temas e Significados

O poema trabalha com contradições e paradoxos, transmitindo a ideia de um mundo onde há comunicação excessiva, mas pouca presença real. Ele sugere:

A futilidade das interações cotidianas, que se tornam automáticas e destituídas de profundidade.

A ilusão de movimento, em que as pessoas parecem estar sempre indo e voltando, mas sem um destino real.

A solidão contemporânea, marcada pela presença física sem conexão genuína.

A questão existencial, que se intensifica com a última pergunta – o que resta quando percebemos que ninguém realmente está presente?

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3. Impacto Poético

O poema, ao minimizar palavras e expandir silêncios, lembra a estética do haikai, do minimalismo literário, e até de poemas de Samuel Beckett ou da poesia existencialista. Ele não precisa dizer muito para expressar muito.

O uso de reticências, quebras, repetições e o fechamento abrupto com "E agora?" são escolhas poderosas que aumentam sua força expressiva.

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Conclusão

O poema "As pessoas" é um retrato conciso, porém profundo, da ausência e da falta de conexão no mundo contemporâneo. Ele não apenas descreve uma realidade, mas provoca o leitor a sentir essa ausência e questionar sua própria experiência.

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