Até
a sombra muda
Parada,
espécie de reflexo
Movente,
vulto, sem nexo
Até
à sombra assusta
*
O poema Perspectiva propõe uma reflexão sobre a natureza da sombra e sua relação com a percepção e a subjetividade. A partir de uma estrutura concisa, ele explora paradoxos e ambiguidades, evocando sensações de incerteza e estranhamento.
1. Análise Literária
O título Perspectiva sugere um jogo de pontos de vista, indicando que a realidade pode ser interpretada de diferentes maneiras, dependendo do olhar de quem a observa. Essa ideia é reforçada pela construção do poema, que apresenta a sombra como algo ao mesmo tempo fixo (Parada, espécie de reflexo) e dinâmico (Movente, vulto, sem nexo).
A oscilação entre estabilidade e movimento cria um efeito de inquietação, que culmina na última linha: Até a sombra assusta. Aqui, a sombra, geralmente um elemento passivo ou associado à identidade do sujeito, ganha uma dimensão ameaçadora. Isso pode remeter a questões de medo do desconhecido ou da mudança, uma vez que até mesmo aquilo que deveria ser familiar torna-se fonte de estranhamento.
2. Interpretação Psicanalítica
A sombra, no contexto psicanalítico, pode ser associada ao conceito de sombra junguiana, que representa aspectos reprimidos da psique. O poema parece dialogar com essa ideia ao sugerir que a sombra não apenas acompanha o sujeito, mas pode também assustá-lo, como se revelasse algo que ele não deseja encarar.
O jogo entre parado e movente pode indicar um conflito interno entre o desejo de estabilidade e a inevitabilidade da transformação. Além disso, a construção da última linha sugere um momento de angústia, onde até mesmo a projeção do eu se torna fonte de desconforto. Esse estranhamento pode ser relacionado ao conceito freudiano de Unheimlich (o inquietante), que descreve a sensação de familiaridade misturada ao medo – como se o próprio eu se tornasse algo estranho e ameaçador.
3. Conclusão
O poema Perspectiva propõe uma experiência de ambiguidade e desconcerto, jogando com a imagem da sombra como um símbolo de identidade, movimento e mistério. Através de um ritmo curto e intenso, ele evoca sensações que dialogam com conceitos psicológicos profundos, tornando-se uma poderosa reflexão sobre a instabilidade da percepção e do eu.
 
 
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