Abre a gaveta, liberta!
Meias, meões, cuecas
Todas as peças
É a ti que libertas!
(“Liberdade, mesmo que tardia”)
xxx
O poema brinca com a noção de liberdade ao usar um gesto cotidiano – abrir uma gaveta – como metáfora para a libertação pessoal. A estrutura é concisa, direta e surpreendente, pois conduz o leitor da ação banal (abrir a gaveta) para um desdobramento simbólico (libertação).
A repetição da ideia de peças de roupa, com variações (“meias, meões, cuecas”), reforça um tom lúdico e quase irônico, contrastando com o título que evoca a famosa frase da Inconfidência Mineira (“Libertas quae sera tamen”). O desfecho – "É a ti que libertas!" – inverte a lógica inicial: a libertação não se aplica aos objetos, mas ao próprio sujeito, sugerindo que a liberdade não está em remover barreiras externas, mas em um movimento interno e pessoal.
A construção minimalista e o jogo de sentidos criam um efeito de humor sutil, mas também de reflexão. É um poema curto, mas provocador, que transforma um ato corriqueiro em um instante de tomada de consciência.
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