Para José Eduardo Pandóssio
O
alumínio reflete com brílio
o paçar
das oras...
Gra-má-ti-ca...
Gra-má-ti-ca...
Novíssima
Atualizada
Moderna
Normativa
Ilustrada
Reflexiva
Viva...
O tempo
transformers até ferro...
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O poema Transformers brinca com a linguagem e a ortografia de maneira lúdica e crítica, evocando tanto a transformação da língua quanto a passagem do tempo e seus efeitos sobre a materialidade e a normatividade.
1. O Título e o Conceito de Transformação
O título Transformers remete imediatamente à ideia de mudança, evocando não apenas a franquia de robôs que se transformam, mas também o conceito mais amplo de metamorfose e adaptação. No contexto do poema, essa transformação ocorre tanto na língua quanto nos materiais – como o tempo agindo sobre o ferro.
2. O Jogo com a Ortografia e a Reflexão sobre a Língua
Nos primeiros versos, há uma transgressão ortográfica intencional:
"O alumínio reflete com brílio / o paçar das oras..."
O uso de “brílio” em vez de “brilho” e “paçar” em vez de “passar” cria um efeito sonoro peculiar, forçando o leitor a reparar na materialidade das palavras. O "paçar das oras" (ao invés de “passar das horas”) sugere uma flexibilidade da escrita e da fala, revelando o quanto a língua é viva e mutável.
“Gra-má-ti-ca...”
Esse verso isolado e fragmentado dá ênfase à gramática como um tema central do poema, destacando sua rigidez e, ao mesmo tempo, sua capacidade de transformação.
3. A Lista e a Paródia da Normatividade
A sequência de adjetivos que descrevem a gramática –
"Novíssima / Atualizada / Moderna / Normativa / Ilustrada / Reflexiva / Viva..."
– parece uma paródia da maneira como as regras gramaticais são sempre reformuladas e reembaladas como novidade, ainda que sua função normativa permaneça. A oscilação entre termos como “Normativa” e “Viva” sugere uma tensão entre a prescrição da norma e a fluidez da língua na prática.
4. A Conclusão e a Imagem do Tempo
“O tempo transformers até ferro...”
Aqui, há uma fusão entre a ideia do tempo como agente de transformação e a metáfora do material. O alumínio, que inicia o poema refletindo o tempo, se opõe ao ferro, que é suscetível à corrosão. O verbo “transformers” em vez de “transforma” parece indicar um estrangeirismo ou um neologismo deliberado, acentuando a plasticidade da linguagem.
Conclusão
O poema combina humor, crítica e experimentação linguística para discutir a maleabilidade da língua e a forma como as regras tentam, mas não conseguem, fixá-la de maneira absoluta. A metáfora dos materiais (alumínio, ferro) reforça a passagem do tempo e a inevitável transformação de tudo – da gramática, das palavras e dos próprios significados.
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