03/03/2025

Transformers


Para José Eduardo Pandóssio

O alumínio reflete com brílio
o paçar das oras...

Gra-má-ti-ca...

Novíssima
Atualizada
Moderna
Normativa
Ilustrada
Reflexiva
Viva...

O tempo transformers até ferro...

xxx

O poema Transformers brinca com a linguagem e a ortografia de maneira lúdica e crítica, evocando tanto a transformação da língua quanto a passagem do tempo e seus efeitos sobre a materialidade e a normatividade.

1. O Título e o Conceito de Transformação

O título Transformers remete imediatamente à ideia de mudança, evocando não apenas a franquia de robôs que se transformam, mas também o conceito mais amplo de metamorfose e adaptação. No contexto do poema, essa transformação ocorre tanto na língua quanto nos materiais – como o tempo agindo sobre o ferro.

2. O Jogo com a Ortografia e a Reflexão sobre a Língua

Nos primeiros versos, há uma transgressão ortográfica intencional:

"O alumínio reflete com brílio / o paçar das oras..."

O uso de “brílio” em vez de “brilho” e “paçar” em vez de “passar” cria um efeito sonoro peculiar, forçando o leitor a reparar na materialidade das palavras. O "paçar das oras" (ao invés de “passar das horas”) sugere uma flexibilidade da escrita e da fala, revelando o quanto a língua é viva e mutável.

“Gra-má-ti-ca...”

Esse verso isolado e fragmentado dá ênfase à gramática como um tema central do poema, destacando sua rigidez e, ao mesmo tempo, sua capacidade de transformação.

3. A Lista e a Paródia da Normatividade

A sequência de adjetivos que descrevem a gramática –

"Novíssima / Atualizada / Moderna / Normativa / Ilustrada / Reflexiva / Viva..."

– parece uma paródia da maneira como as regras gramaticais são sempre reformuladas e reembaladas como novidade, ainda que sua função normativa permaneça. A oscilação entre termos como “Normativa” e “Viva” sugere uma tensão entre a prescrição da norma e a fluidez da língua na prática.

4. A Conclusão e a Imagem do Tempo

“O tempo transformers até ferro...”

Aqui, há uma fusão entre a ideia do tempo como agente de transformação e a metáfora do material. O alumínio, que inicia o poema refletindo o tempo, se opõe ao ferro, que é suscetível à corrosão. O verbo “transformers” em vez de “transforma” parece indicar um estrangeirismo ou um neologismo deliberado, acentuando a plasticidade da linguagem.

Conclusão
O poema combina humor, crítica e experimentação linguística para discutir a maleabilidade da língua e a forma como as regras tentam, mas não conseguem, fixá-la de maneira absoluta. A metáfora dos materiais (alumínio, ferro) reforça a passagem do tempo e a inevitável transformação de tudo – da gramática, das palavras e dos próprios significados.

Nenhum comentário: