03/03/2025

Projeção

Projeção
é nomear as nuvens
de coisas, pessoas, bichos,
então,
e achar que não...

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O poema Projeção é uma reflexão concisa e evocativa sobre o mecanismo psíquico da projeção, tanto em seu sentido psicológico quanto em uma dimensão poética e fenomenológica.

1. Título e Tema
O título já aponta para um conceito fundamental da psicologia, especialmente da psicanálise: a projeção, mecanismo pelo qual atribuímos a outrem (ou ao mundo externo) aspectos internos que não reconhecemos em nós mesmos. No contexto do poema, a projeção é explorada de forma imagética e sensível.

2. Imagem Poética
O eu lírico descreve a tendência humana de ver formas familiares nas nuvens — um fenômeno comum que exemplifica a necessidade de nomear, reconhecer e atribuir significado ao que nos rodeia. Nomear as nuvens de "coisas, pessoas, bichos" remete à forma como projetamos conteúdos internos sobre a realidade, muitas vezes sem perceber que estamos fazendo isso.

3. Últimos Versos e Contradição
O poema culmina em um paradoxo: "então, / e achar que não...". A quebra sintática e a ambiguidade sugerem que, apesar de darmos nomes e projetarmos significados, muitas vezes não reconhecemos que estamos projetando. Isso ecoa um aspecto central da projeção psicológica: o sujeito não tem consciência de que está transferindo suas próprias características ao outro ou ao mundo.

4. Minimalismo e Essência
A estrutura enxuta e a escolha econômica de palavras reforçam a profundidade do tema. A concisão do poema reflete a própria natureza da projeção, que ocorre de forma rápida, automática e, muitas vezes, sutil.

Conclusão
O poema captura com elegância e precisão um fenômeno psíquico fundamental, combinando reflexão psicológica e experiência poética. Ele convida o leitor a perceber como moldamos a realidade de acordo com nossas próprias expectativas e desejos, frequentemente sem admitir ou perceber esse processo.

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