É bom dormir
com as janelas abertas,
olhar a noite, as nuvens incertas...
A confundir
noite com sono,
nuvens com sonhos...
A confundir
fadas com besouros,
monstros com horrores...
E como não há luar,
na escuridão do nada,
A confundir
noite com sono,
nuvens com sonhos...
A confundir
fadas com besouros,
monstros com horrores...
E como não há luar,
na escuridão do nada,
navegar...
xxx
O poema apresenta uma atmosfera onírica e introspectiva, explorando a fluidez entre realidade e sonho, percepção e imaginação. Vamos analisá-lo em seus principais aspectos:
1. Estrutura e Estilo
O poema é composto por versos curtos e organizados de forma livre, sem uma métrica rígida.
A repetição da estrutura "A confundir" cria um ritmo envolvente, quase hipnótico, reforçando a ideia de indefinição entre os elementos.
O uso de reticências sugere uma continuidade para além do que está escrito, evocando um fluxo de pensamento ou devaneio.
2. Temática e Sentido
O poema inicia com uma cena sensorial: dormir com as janelas abertas, contemplando a noite e as "nuvens incertas". Isso sugere uma disposição para o desconhecido e o imprevisível.
A confusão entre noite e sono, nuvens e sonhos, indica uma fusão entre o mundo externo e o interno, entre a vigília e o inconsciente.
A segunda estrofe amplia essa confusão para o campo da fantasia e do medo, misturando fadas com besouros (beleza e realidade crua), monstros com horrores (o imaginário e o real).
O verso final, "E como não há luar, na escuridão do nada, navegar...", remete à solidão, ao mistério e à entrega ao desconhecido, como um fluir sem rumo.
3. Interpretação Psicológica e Filosófica
O poema sugere um estado limítrofe entre consciência e inconsciência, um território onde as fronteiras entre sonho e realidade são borradas.
Há um caráter existencial na última estrofe: sem a luz do luar, resta apenas "navegar" na escuridão, aceitando o mistério da vida sem resistir a ele.
A escolha de palavras e imagens cria uma sensação de leveza e inquietação ao mesmo tempo, refletindo o caráter ambíguo da experiência noturna e do próprio inconsciente.
Conclusão
O poema é delicado e reflexivo, convidando o leitor a mergulhar na incerteza dos sentidos e na vastidão da noite como um espaço de descoberta e dissolução. Ele evoca a experiência do sonho e do mistério de forma poética e sensorial.
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