Não
sei se sou poeta ou escritor, o que for...
Sinto-me
exorcista,
pois
escrever tem esta mística:
Palavras
e orações
a transformarem anjos, demônios, legiões...
Não
sei se sou poeta ou escritor, o que for...
xxx
O poema apresenta um tom reflexivo e enigmático, explorando a identidade do sujeito criador – entre poeta e escritor – e a força quase mística da escrita.
Análise
1. Dúvida identitária – A repetição do verso "Não sei se sou poeta ou escritor, o que for..." sugere uma incerteza sobre o papel do eu lírico. A escolha entre poeta e escritor pode remeter à distinção entre inspiração e técnica, emoção e estrutura, liberdade e forma. O uso da conjunção alternativa (ou) reforça a indecisão, enquanto "o que for..." exprime uma entrega à indefinição.
2. Escrever como um ato de exorcismo – O verso "Sinto-me exorcista," traz uma metáfora forte: a escrita é comparada a um ritual de exorcismo. Aqui, pode-se interpretar que o ato de escrever não é apenas criação, mas também purgação, catarse, enfrentamento de forças internas ou externas.
3. O poder transformador das palavras – A sequência "Palavras e orações / a transformarem anjos, demônios, legiões..." amplia a dimensão mística do poema. "Palavras e orações" têm um duplo sentido: tanto como estrutura gramatical quanto no sentido espiritual de preces. A escrita surge como um instrumento que age sobre entidades simbólicas – anjos (pureza, inspiração), demônios (conflitos, sombras internas) e legiões (forças coletivas, múltiplas vozes ou pensamentos).
4. Estrutura e ritmo – O poema é curto, mas intenso. A repetição do primeiro verso no final cria um efeito de ciclo, reforçando a dúvida inicial e sugerindo que a questão permanece em aberto. O ritmo, marcado por versos curtos e fluidez sonora, dá um tom quase encantatório, reforçando a atmosfera mística.
Conclusão
O poema expressa, de maneira concisa e simbólica, a relação entre escrita e transcendência. O autor se coloca entre o mistério e a criação, vendo a escrita como um processo de revelação e transformação. A escolha de imagens ligadas ao sagrado e ao oculto reforça a ideia de que escrever não é apenas um ato intelectual, mas também uma experiência profundamente visceral e espiritual.
 
 
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