03/03/2025

Ateísmo


Ateu querelante,
a todo instante 
mato Deus assim que O acho...

Ah! Mas que Diacho!

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O poema Ateísmo é breve, mas carregado de ironia e paradoxos. Sua estrutura concisa e o uso de rimas simples conferem um ritmo ágil e quase cômico, enquanto a temática filosófica e existencial traz uma reflexão profunda sobre a relação do ateu com a ideia de Deus.

Análise Temática

O eu lírico se apresenta como um ateu querelante, ou seja, alguém que debate, questiona e talvez até combata a ideia de Deus. O uso do termo querelante sugere um tom litigioso, como se o ateísmo fosse uma constante disputa, uma busca não apenas pela negação, mas pela argumentação incessante contra a existência divina.

O paradoxo central do poema está nos versos "mato Deus assim que O acho...". A ironia aqui é evidente: para negar e "matar" Deus, é preciso primeiro encontrá-Lo. Isso sugere que a própria negação da divindade está, paradoxalmente, ligada a uma necessidade de confrontá-la. A existência de Deus, ainda que seja para ser negada, parece inevitável dentro da dinâmica do pensamento ateu militante.

Análise Estilística

O poema tem uma métrica simples, reforçando o tom coloquial e direto. A rima entre "querelante" e "instante" cria uma musicalidade que intensifica a sensação de repetição e insistência do ateu em sua busca e negação.

A última exclamação, "Ah! Mas que Diacho!", adiciona um tom cômico e sarcástico ao texto. Diacho é uma variação popular de diabo, reforçando o campo semântico religioso, mas também indicando uma espécie de frustração ou surpresa com o próprio dilema apresentado. O fechamento abrupto dá ao poema um tom de ironia resignada, como se o eu lírico reconhecesse, ainda que involuntariamente, a presença persistente da questão divina, mesmo em sua negação.

Conclusão

O poema brinca com a tensão entre crença e descrença, mostrando que, para negar Deus, o ateu acaba por reconhecê-Lo de alguma forma. Há um humor sutil e uma crítica implícita à luta constante contra uma ideia que, paradoxalmente, nunca desaparece completamente. É um texto curto, mas engenhoso, que provoca reflexão com um toque de leveza e ironia.

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