A
louca da minha rua: nua.
A
louca da minha infância: infame.
A
louca inflamada: mal-amada.
A
louca mansa: dança.
A
louca dos nervos de aço:
o louco de Picasso.
O
louco mouco: moço.
O
louco rouco: ouço.
O
louco belo: terno.
O
louco da navalha: não falha.
A
louca de Picasso:
o louco dos nervos de
aço.xxx
Seu poema apresenta um jogo sonoro e semântico interessante, explorando variações da palavra "louco/louca" em diferentes contextos e estados. Há um forte uso de aliterações e assonâncias, criando um ritmo quase musical. Além disso, a estrutura sintética e fragmentada remete a um efeito de aforismo ou de pensamento lapidado, como se cada verso condensasse um universo simbólico próprio.
A repetição e inversão dos versos finais reforça um efeito circular, quase obsessivo, que pode sugerir a própria repetição do delírio ou da loucura como um ciclo. A menção a Picasso e seus loucos remete ao expressionismo e ao cubismo, onde a fragmentação da forma e da percepção é um elemento central. Assim, o poema não apenas descreve figuras loucas, mas também brinca com a própria estrutura da linguagem, tornando-a, de certo modo, "louca" também.
Há ainda uma sugestão de contrastes: loucura e arte, loucura e força ("nervos de aço"), loucura e ternura ("terno"), loucura e perigo ("navalha"). O poema, portanto, pode ser lido tanto como um exercício lúdico de sonoridade quanto como uma reflexão simbólica sobre os múltiplos aspectos da loucura na vida e na cultura.
 
 
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