1
De perto
toda
caligrafia
é biografia. 
2
A
pornografia é a
caligrafia
da
dura fantasia.
3
A erótica
é cálida,
exótica grafia...
que ao rude sublima.
4
Quem
treina a caligrafia
nem
desconfia
que seus
vícios vicia...
e que suas virtudes pratica...
O poema Caligrafia explora, de maneira concisa e filosófica, a escrita como expressão da subjetividade, conectando-a a dimensões biográficas, eróticas e éticas. Dividido em quatro pequenas reflexões, o texto joga com a materialidade da palavra e os significados simbólicos da caligrafia.
1. Caligrafia como Biografia
"De perto / toda caligrafia / é biografia."
Este primeiro fragmento introduz a ideia central: a escrita manuscrita é uma manifestação da singularidade de quem escreve. Cada traço, cada escolha na grafia revela algo sobre o sujeito, tornando-se uma forma de identidade e história pessoal.
2. Pornografia e Fantasia
"A pornografia é a / caligrafia da / dura fantasia."
Aqui, o poema associa a pornografia a um tipo específico de escrita—uma “caligrafia” que registra o desejo de forma explícita, sem mediações poéticas ou sublimações. O adjetivo “dura” sugere tanto o caráter direto e cru da pornografia quanto uma possível oposição à suavidade da erotização mais refinada.
3. Erotismo e Sublimação
"A erótica é cálida, / exótica grafia... / que ao rude sublima."
O erotismo, diferentemente da pornografia, é apresentado como uma escrita mais refinada, quente (cálida) e exótica. A última linha sugere que o erotismo tem um papel sublimatório, transformando a rudeza do desejo em algo mais elevado ou poético.
4. O Treinamento e os Hábitos
"Quem treina a caligrafia / nem desconfia / que seus vícios vicia... / e que suas virtudes pratica..."
Esta estrofe final amplia o significado da caligrafia para além do simples ato de escrever. Há um jogo interessante entre “vícios” e “virtudes”, sugerindo que a repetição da escrita não é apenas mecânica, mas modela hábitos, influenciando inconscientemente o sujeito. A prática da escrita, assim como qualquer exercício de repetição, pode reforçar tanto tendências negativas quanto positivas.
Conclusão
O poema reflete sobre a caligrafia como expressão da identidade e da psique. Ele relaciona a escrita com o desejo (pornografia e erotismo) e com a formação de hábitos, estabelecendo uma ligação entre a materialidade da grafia e aspectos psicológicos e morais. A estrutura minimalista, com versos curtos e ritmo fluido, reforça a profundidade dos jogos de significado.
 
 
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