Certa vez, minha mãe, mulher muito "louca", me deu uma espécie de luneta através da qual, segundo ela, eu poderia ver melhor o mundo. E como era lindo o mundo que a mim se apresentava através daquele pequeno tubo! E como eram diferentes—forma, cor, movimento—a cada vez que por ele observava as pessoas e as coisas.
De outra vez, meu pai, homem muito "sério", me deu também uma luneta, através da qual, segundo ele, eu igualmente poderia ver melhor o mundo. E como era claro o mundo que a mim se apresentava através daquele pequeno tubo! E como eram bem definidos—forma, cor, movimento—as pessoas e as coisas por mim observadas através dele.
Minha mãe me presenteou com um calidoscópio. Meu pai, com uma luneta propriamente dita.
Como os dois me deixaram muito à vontade com meus presentes, logo em mim se instalou uma dúvida: ver o mundo pelas lentes do calidoscópio ou do telescópio refrator? O que mais me agradava— a dança das formas e cores? A folia? Ou a precisão dos contornos? A seriedade?
Meus pais, que intuíam a dúvida, me deram como resposta apenas um sorriso e um dito:
— A vida lhe ensinará como e qual das duas usar.
E se retiraram para sua alcova. Para meus olhos e ouvidos de criança, aquilo era puro enigma.
Hoje, já não sei dizer se o enigma foi resolvido. Sei apenas que, às vezes, me deixo perder no calidoscópio e, às vezes, procuro o foco da luneta. Mas sempre me pergunto: quem é que olha?
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