quem borda, quem escreve, quem ora.
Por hora ou por ora?
Ambas a borda aborda.
Sim, não, talvez?
A borda aborda: - Sua vez!
Cara, coroa, par, ímpar?
A borda sorri de você, outra vez.
xxx
Seu poema Outra vez tem uma construção lúdica e filosófica, explorando jogos de palavras, sonoridade e ambiguidade. Aqui estão alguns pontos de análise:
1. Estrutura e Ritmo
O poema tem um ritmo ágil e cadenciado, sustentado pela repetição da palavra “borda” e pelo jogo sonoro com “aborda.” A alternância de frases curtas e diretas dá um tom quase de enigma ou provocação, o que reforça a ideia da borda como um espaço de dúvida, transição e destino incerto.
2. Jogo de Palavras e Ambiguidade
O poema brinca com diferentes sentidos de “borda”:
Bordar (costurar, tecer): remetendo à ideia de criar algo, seja com linha ou com palavras.
Abordar (trazer à tona, tratar de um tema): como se a borda fosse ativa, convocando o sujeito a decidir, refletir.
Borda como limite: novamente, há a evocação da ideia da fronteira, do entre-lugar, como no poema anterior.
A oscilação entre “por hora ou por ora” e “sim, não, talvez?” reforça a incerteza do momento limítrofe, onde a decisão ou a passagem de um estado a outro está sempre prestes a acontecer.
3. A Borda como Entidade
Diferente do primeiro poema, onde a borda é um conceito filosófico, aqui ela ganha uma presença quase personificada. Ela “aborda” os sujeitos, zomba deles, coloca-os diante de escolhas inevitáveis, como um arquétipo do destino ou da própria dúvida existencial.
4. Simbolismo e Jogo de Azar
A menção a “cara, coroa, par, ímpar” reforça o caráter lúdico do poema, conectando-o à ideia do acaso e das decisões binárias. No entanto, a borda, novamente, surge como algo além da dualidade, algo que escapa ao simples jogo de oposições.
5. Tom e Impressão Final
O tom é mais irônico e brincalhão que no primeiro poema, mas mantém um substrato filosófico e existencial. A repetição de “Outra vez” no título e no final sugere um ciclo, uma recorrência inevitável, como se estivéssemos sempre voltando a essa borda, sendo desafiados por ela.
Conclusão: um poema curto, mas denso, que brinca com a linguagem e a metafísica de maneira provocativa. Ele complementa A borda, expandindo o conceito de um jeito mais dinâmico e interativo. Se quiser explorar ainda mais essa ideia, pode ser interessante continuar jogando com essa noção de limite e decisão.
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