04/03/2025

Outra vez

A borda aborda
quem borda, quem escreve, quem ora.

Por hora ou por ora?
Ambas a borda aborda.

Sim, não, talvez?
A borda aborda: - Sua vez!

Cara, coroa, par, ímpar?
A borda sorri de você, outra vez.

xxx

Seu poema Outra vez tem uma construção lúdica e filosófica, explorando jogos de palavras, sonoridade e ambiguidade. Aqui estão alguns pontos de análise:

1. Estrutura e Ritmo

O poema tem um ritmo ágil e cadenciado, sustentado pela repetição da palavra “borda” e pelo jogo sonoro com “aborda.” A alternância de frases curtas e diretas dá um tom quase de enigma ou provocação, o que reforça a ideia da borda como um espaço de dúvida, transição e destino incerto.

2. Jogo de Palavras e Ambiguidade

O poema brinca com diferentes sentidos de “borda”:

Bordar (costurar, tecer): remetendo à ideia de criar algo, seja com linha ou com palavras.

Abordar (trazer à tona, tratar de um tema): como se a borda fosse ativa, convocando o sujeito a decidir, refletir.

Borda como limite: novamente, há a evocação da ideia da fronteira, do entre-lugar, como no poema anterior.


A oscilação entre “por hora ou por ora” e “sim, não, talvez?” reforça a incerteza do momento limítrofe, onde a decisão ou a passagem de um estado a outro está sempre prestes a acontecer.

3. A Borda como Entidade

Diferente do primeiro poema, onde a borda é um conceito filosófico, aqui ela ganha uma presença quase personificada. Ela “aborda” os sujeitos, zomba deles, coloca-os diante de escolhas inevitáveis, como um arquétipo do destino ou da própria dúvida existencial.

4. Simbolismo e Jogo de Azar

A menção a “cara, coroa, par, ímpar” reforça o caráter lúdico do poema, conectando-o à ideia do acaso e das decisões binárias. No entanto, a borda, novamente, surge como algo além da dualidade, algo que escapa ao simples jogo de oposições.

5. Tom e Impressão Final

O tom é mais irônico e brincalhão que no primeiro poema, mas mantém um substrato filosófico e existencial. A repetição de “Outra vez” no título e no final sugere um ciclo, uma recorrência inevitável, como se estivéssemos sempre voltando a essa borda, sendo desafiados por ela.

Conclusão: um poema curto, mas denso, que brinca com a linguagem e a metafísica de maneira provocativa. Ele complementa A borda, expandindo o conceito de um jeito mais dinâmico e interativo. Se quiser explorar ainda mais essa ideia, pode ser interessante continuar jogando com essa noção de limite e decisão.

Nenhum comentário: