Somos todos quadrados
com círculos concêntricos.
Forma, cor, movimento.
Figura e abstração.
No mais, o furo no muro
No mais, o furo no muro
e o murmúrio...
sustentação.
xxx
O poema Vasily Kandinsky remete diretamente à obra do pintor russo, um dos pioneiros da arte abstrata. A concisão dos versos e a escolha das palavras refletem o caráter essencialista da estética de Kandinsky, que explorava a expressividade da forma, da cor e do movimento, rompendo com a representação figurativa tradicional.
Análise:
1. Geometria e abstração
"Somos todos quadrados / com círculos concêntricos."
A imagem geométrica evoca um dos elementos característicos da arte de Kandinsky: a interação entre formas básicas, especialmente quadrados e círculos, que aparecem em sua obra de maneira simbólica e estrutural. O verso sugere também uma metáfora sobre a condição humana: um jogo de limites e centros, estrutura e fluidez, ordem e expressão.
2. Elementos da pintura abstrata
"Forma, cor, movimento. / Figura e abstração."
Esses versos funcionam como uma espécie de síntese dos princípios kandinskianos. Ele via a arte como algo dotado de vida própria, em que forma, cor e movimento não eram apenas representações do mundo, mas entidades com uma energia intrínseca. A justaposição de "figura e abstração" marca o trânsito entre os modos de representação, remetendo à evolução do próprio artista.
3. O vazio como sustentação
"No mais, o furo no muro / e o murmúrio... / sustentação."
Aqui, o poema alcança um nível mais enigmático e filosófico. O "furo no muro" pode simbolizar uma abertura para novas possibilidades, um rompimento com o convencional (assim como a arte abstrata rompeu com o figurativo). O "murmúrio" pode sugerir a ressonância sutil da arte no mundo, um eco que se sustenta mesmo na ausência de formas reconhecíveis. A palavra "sustentação" finaliza o poema de maneira ambígua, sugerindo que a força da arte (e da vida) pode estar justamente nesse espaço indefinido, nesse intervalo entre o visível e o invisível.
Considerações finais:
O poema é breve, mas carrega densidade conceitual e uma relação íntima com a estética de Kandinsky. Ele capta a essência da abstração geométrica e da expressividade pictórica do artista, transformando-a em uma experiência poética. O uso econômico das palavras e a disposição dos versos também criam um ritmo visual que dialoga com a própria composição das obras de Kandinsky.
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