03/03/2025

Mediocrona


Meditabundo medita…
Meditável meditação.
Meditativo? Mediocrão?
Meão!

xxx

O poema Mediocrão brinca com a sonoridade e o significado das palavras, explorando o campo semântico da meditação e da mediocridade. Sua estrutura minimalista, repleta de aliterações e variações de um mesmo radical (medi-), provoca um efeito de circularidade, como se o próprio pensamento do eu lírico estivesse preso em uma reflexão infrutífera ou inconclusiva.

Análise Temática

A construção sugere um jogo de contrastes entre a profundidade da meditação e a superficialidade da mediocridade. O primeiro verso, "Meditabundo medita…", apresenta um termo incomum (meditabundo), que significa alguém imerso em pensamentos, reflexivo, talvez melancólico. Esse sujeito se entrega à meditação, o que pode indicar um estado de busca por significado ou compreensão.

No segundo verso, "Meditável meditação.", há um aparente reforço da ideia inicial, mas com um sutil deslocamento semântico. Meditável sugere algo passível de meditação, mas a repetição do radical começa a criar um efeito de redundância, questionando se a meditação em si tem substância ou se apenas se repete mecanicamente.

O terceiro verso traz a virada do poema: "Meditativo? Mediocrão?". O questionamento gera um tom de incerteza e autocrítica. Ser meditativo é, de fato, algo valioso ou apenas um sintoma de mediocridade? O uso de Mediocrão — uma versão aumentativa e um tanto pejorativa de medíocre — reforça a ironia e o humor sutil do poema, sugerindo que a meditação pode ser vazia ou pretensiosa.

O fechamento abrupto com "Meão!" reforça essa ambiguidade. Meão significa algo intermediário, nem grande nem pequeno, nem profundo nem raso. Assim, o poema termina em um impasse: a meditação não leva nem à iluminação nem à mediocridade extrema, mas a um estado morno, sem definição clara.

Análise Estilística

A musicalidade do poema é um de seus pontos fortes, com aliterações intensas na repetição do m, d e t, criando um ritmo quase hipnótico. A construção sintética e a sequência de perguntas sem resposta sugerem um pensamento que se dobra sobre si mesmo, como um espelho refletindo outro espelho.

O efeito final é ao mesmo tempo cômico e filosófico: a reflexão excessiva pode levar à estagnação, e a busca por profundidade pode resultar em mera redundância. O poema ironiza essa obsessão pelo pensar, mostrando que, no fim, pode-se acabar simplesmente no meio do caminho — no meão.

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