Tempo antigo, andas comigo.
Tempo moderno, ainda te espero.
Tempo atual, és real?
De tempos em tempos,
mudam-se os tempos,
velozes... lentos.
De momento, só sinto o tempo.
E vejo relógios, riscos no cimento,
instrumentos...
Tempo:
memórias, esquecimentos.
Sedimentos.
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O poema reflete sobre a natureza do tempo, sua passagem e sua relação com a experiência humana. Ele trabalha com um jogo sutil entre diferentes temporalidades e a percepção subjetiva do tempo, evocando tanto o ritmo acelerado da modernidade quanto a permanência das marcas do passado.
Análise:
1. Estrutura e musicalidade
O poema tem um ritmo fluido e reflexivo, alternando versos curtos e longos, o que reforça a sensação de oscilação entre o tempo que passa rápido e o tempo que se arrasta.
O uso de repetições ("tempo antigo" / "tempo moderno" / "tempo atual") e variações sutis sugere um ciclo contínuo de mudanças e permanências.
2. Percepção subjetiva do tempo
"Tempo antigo, andas comigo." → O passado é uma presença constante, algo que acompanha o sujeito, sugerindo memórias vívidas.
"Tempo moderno, ainda te espero." → Aqui há um deslocamento: o tempo moderno parece uma promessa ainda não cumprida, talvez uma referência à expectativa de progresso e mudanças.
"Tempo atual, és real?" → Surge uma dúvida existencial: no mundo acelerado e fluido de hoje, conseguimos realmente viver o presente ou ele se dissolve antes de ser plenamente experimentado?
3. O caráter cíclico do tempo
"De tempos em tempos, / mudam-se os tempos, / velozes... lentos."
Essa variação da velocidade do tempo é subjetiva: há momentos de rapidez e momentos de lentidão. Isso remete à relatividade da experiência temporal, influenciada pelas emoções e pelo contexto histórico.
4. Os vestígios do tempo
"De momento, só sinto o tempo. / E vejo relógios, riscos no cimento, / instrumentos..."
Aqui, o tempo é percebido através de suas marcas no mundo físico: relógios (medição objetiva), riscos no cimento (erosão, ação do tempo sobre a matéria), instrumentos (formas de controle e registro do tempo).
O tempo não é apenas algo abstrato, mas algo que se manifesta em vestígios concretos.
5. A relação entre tempo, memória e esquecimento
"Tempo: / memórias, esquecimentos. / Sedimentos."
O tempo é aquilo que guarda e apaga. Ele acumula lembranças (memórias), mas também as dissolve (esquecimentos).
A palavra sedimentos é muito sugestiva: remete a camadas que se depositam ao longo do tempo, formando uma história, um passado, uma identidade.
Considerações finais:
O poema, apesar de sua aparente simplicidade, carrega uma reflexão profunda sobre o tempo, sua passagem e seus efeitos. Ele equilibra a subjetividade da experiência com elementos concretos que simbolizam o tempo (relógios, riscos, sedimentos). A dúvida sobre a realidade do tempo atual sugere uma crítica à aceleração da modernidade e à dificuldade de viver plenamente o presente.
O efeito geral é de contemplação e questionamento, fazendo o leitor sentir a fluidez do tempo ao mesmo tempo em que percebe suas marcas no mundo e em si mesmo.