Guarda um segredo
Maneiro
Felipe é a chave de abóbada
De seu céu
Inteiro
Ódio mete em chaves
Pessoas e sentimentos
Traiçoeiro
Psicólogo de Inspiração Psicanalítica. Psicoterapeuta. Professor de IES em Brasília. Zen Budista. Cearense radicado no Distrito Federal. Compartilho com vocês estas mal digitadas linhas...
Título: “Devoro” já sugere uma ação visceral, quase instintiva, ligada à sobrevivência e ao excesso dos afetos. O verbo no presente dá força imediata, como algo inevitável.
Estrutura: O poema é curto, direto, marcado pela quebra abrupta dos versos, o que espelha o rompimento da relação e o impacto do abandono.
Tonalidade: Entre o lamento e a autodefesa. O “Só” isolado em um verso tem grande efeito visual e sonoro, condensando a solidão.
Imagem final: “Devoro” traz a ideia de autofagia afetiva — sem o outro, resta consumir a si mesmo. É um fecho forte, quase um nó trágico.
Devoro
Ora...
Você foi embora.
E agora?!
Só.
Sigo vida afora.
De meus próprios afetos,
Devoro.
Aqui, mantive a intensidade, mas acrescentei uma pontuação mais cadenciada para ressaltar a dramaticidade e o eco do silêncio.
O poema poderia figurar como parte de uma série de microtextos existenciais, onde cada peça concentra em poucos versos um universo emocional. Ele toca na solidão, na perda, mas também na força paradoxal de transformar a falta em alimento — ainda que doloroso.
Teikan, esse pequeno texto tem uma força poética e, ao mesmo tempo, reflexiva. A seguir, uma análise em três dimensões: estilo, conteúdo e efeito filosófico-existencial.
O texto se constrói em tom meditativo, com frases curtas, intercaladas por interjeições ("Ah!") que evocam uma cadência quase litúrgica ou confessional. O ritmo oscila entre a leveza lírica (quando fala da poesia, do mistério, da transcendência) e a ironia sutil (quando insere o dinheiro como critério de avaliação).
Há também o uso de anáforas ("para com") que dão unidade e eco, reforçando a ideia de sensibilidade como critério de valor.
O texto propõe uma inversão de perspectiva: avaliar o valor de alguém não por padrões convencionais (riqueza, produtividade, status), mas pela capacidade de ser tocado pela poesia, ou seja, pela abertura à experiência estética, ao enigma e à transcendência.
Três camadas de sensibilidade são destacadas:
Para consigo mesmo – mistérios interiores.
Para com os outros – tanto o enigma quanto a banalidade.
Para com o transcendente – aquilo que está além da palavra.
Na sequência, há a volta irônica à realidade: o dinheiro também é critério. Mas o "apenas um critério" minimiza o peso absoluto da economia, sem negá-la.
O texto oscila entre a utopia e a crítica social. Ele sugere que o mundo seria mais justo (ou ao menos mais belo) se a sensibilidade fosse a medida do valor humano.
A inserção do dinheiro, no entanto, impede que o texto caia numa ingenuidade romântica: reconhece que vivemos em uma sociedade que não pode prescindir de critérios materiais. Mas o dinheiro, no fundo, é relativizado — rebaixado a “um critério, apenas”, contraposto ao valor supremo da poesia e da sensibilidade.
✅ Em suma:
É um texto que articula lirismo e crítica, com leve ironia. Sugere um critério de humanidade baseado naquilo que nos torna mais finos, vulneráveis e abertos — a poesia —, sem negar que a vida prática exige outro tipo de medida. Ele poderia muito bem servir como um prefácio para reflexões sobre ética, estética e existência.
O poema Perdido, com o título Caninhos, apresenta uma estrutura concisa e cadenciada, marcada pela alternância entre versos principais e complementares. O ritmo é reforçado pelo paralelismo sintático e pelo uso de verbos no presente, que conferem um tom imediato e reflexivo.
O poema se organiza em pares de versos, nos quais o primeiro estabelece uma situação e o segundo funciona como um eco conciso, quase como uma resposta interna. A escolha dos verbos (Desconheço, Lido, Fico, Digo) cria um fluxo narrativo que sugere uma progressão de estados psicológicos: primeiro a incerteza (Desconheço o Caminho), depois o esforço de enfrentamento (Lido), a solidão reflexiva (Fico) e, por fim, a verbalização da solução possível (Digo).
O jogo sonoro é sutil, mas eficaz. Há rimas internas (Caminho/ninho/sozinho/Caninhos), que criam coesão e musicalidade. Além disso, a repetição do sufixo -inho remete a algo pequeno, delicado ou até infantil, o que pode intensificar a sensação de fragilidade ou de tentativa de encontrar saídas improvisadas.
O eu lírico expressa uma sensação de perda e desorientação (Desconheço o Caminho), associada à falta de um espaço seguro ou pertencimento (falta de ninho). A progressão emocional culmina na necessidade de invenção (Só me resta inventar Caninhos), sugerindo um processo de criação como forma de lidar com a incerteza.
O título Caninhos remete foneticamente a "caminhos", mas no diminutivo, o que pode indicar percursos menores, improvisados ou singelos. Além disso, o título evoca uma possível alusão a cães (caninos), o que poderia sugerir tanto a busca instintiva por direção quanto uma metáfora para fidelidade, companhia ou farejamento de novas trilhas.
O poema transmite uma sensação de deslocamento existencial e uma resposta criativa a essa condição. O eu lírico, diante da perda e da solidão, transforma a necessidade em invenção, convertendo a falta de caminhos convencionais em "Caninhos" próprios. Essa solução pode ser lida como um gesto de resistência, adaptação ou mesmo um ato poético de recriação do próprio destino.
Caso deseje intensificar o efeito do poema, uma possibilidade seria explorar ainda mais a ambiguidade do título ou reforçar o tom sensorial da experiência de estar perdido e criar novos rumos. Mas, como está, o poema já apresenta uma estrutura coesa, uma sonoridade marcante e um jogo de significados aberto e sugestivo.
Borboletas: Atos, falas e letras... Terapêuticas xxx O poema, intitulado Psique, é curto, mas profundamente simbólico. O uso da palavra "Borboletas" remete diretamente ao mito de Psiquê, cujo nome em grego significa tanto "alma" quanto "borboleta", estabelecendo uma conexão entre transformação, fragilidade e autoconhecimento. A sequência de palavras — "Atos, falas e letras" — sugere elementos fundamentais da experiência humana e da comunicação. São também aspectos essenciais da psicoterapia: os atos do paciente e do terapeuta, as falas que emergem no setting terapêutico e as letras, que podem remeter tanto à escrita quanto à interpretação da história pessoal. O último verso, "Terapêuticas", amarra o significado, indicando que esses elementos — ações, palavras e registros simbólicos — possuem um efeito de cura ou transformação. Assim como a borboleta passa por um processo de metamorfose, a psique também se transforma ao longo do processo terapêutico. O poema, embora minimalista, é altamente sugestivo e evoca a complexidade da experiência psicológica e do processo de cura psíquica. | ||