Psicólogo de Inspiração Psicanalítica. Psicoterapeuta. Professor de IES em Brasília. Zen Budista. Cearense radicado no Distrito Federal. Compartilho com vocês estas mal digitadas linhas...
03/03/2025
O exorcista
Escritor vidraceiro
O poema Escritor Vidraceiro apresenta uma metáfora potente que associa o ato de escrever ao ofício do vidraceiro, sugerindo que a escrita é uma arte delicada e artesanal, assim como o trabalho com o vidro.
A construção poética se baseia em imagens sensoriais e dinâmicas:
1. "Faço palavras-espelho" – Aqui, a escrita é representada como um reflexo, sugerindo que as palavras captam e devolvem algo ao leitor, como um espelho que revela e expõe. Pode-se interpretar essa ideia tanto como um reflexo da realidade quanto como um jogo entre aparência e profundidade.
2. "Sopro, teço, incendeio" – A sequência de verbos remete ao processo de fabricação do vidro, especialmente ao vidro soprado, que envolve calor e moldagem. O "sopro" sugere o ato criativo, o "teço" remete à construção cuidadosa da escrita, e o "incendeio" evoca a intensidade da inspiração, da paixão ou mesmo da transformação.
3. "Letras-esteio" – O termo "esteio" indica sustentação, apoio, estrutura. Isso sugere que a escrita tem um papel fundamental na construção da realidade ou na sustentação da subjetividade do escritor e do leitor.
O poema, apesar de curto, é denso em significado e expressa a visão do escritor como um artesão das palavras, cuja obra reflete, transforma e sustenta. A sonoridade e o ritmo também contribuem para a musicalidade e a força da imagem construída.
Existo, logo desisto
Do teu lado
Late e morde
O Je e o moi
Roberto, Bob, Robertinho
Professor, Psicólogo, Psicanalista
Pai, Tio, Sobrinho
Filho, Primo, Ó na Lista...
Irmão, Escritor, Leitor
Paciente, Amante, Amigo
Aluno, Mestre, Doutor
Masculino, Feminino, não ligo...
Inimigo, Ridículo, Imprescindível
Gordo, Magro, sem eira nem beira
E o que é mais incrível:
Roberto Menezes de Oliveira!
Mediocrona
Ateísmo
Inusitado
06 ovos...
para comprá-lo saiu rapidamente.
No fogo: arroz, carne e feijão.
Ah! Ovo era a solução...
mas antes de morrer pensou displicente:
- Na rua me cerca o povo,
em casa o circo pega fogo...
No mundo da Lua
acordo sonhando.
Sonhando realidades,
realizando sonhos.
vivo, então,
no mundo da lua...
Caligrafias
Transformers
Gra-má-ti-ca...
Projeção
é nomear as nuvens
de coisas, pessoas, bichos,
e achar que não...
02/03/2025
Vocifera
Biografia
É da natureza do passado
ser retocado.
Os biografados
estão escusados.
Sublimes... tarados.
É da natureza do Homem
ser misturado.
Os biógrafos, os biografados
estão escusados.
Neutros... apaixonados.
Descendente
sunga minúscula...
Sorriso farto.
Pouca-fala,
... mesmo que tardia
28/02/2025
Ninho em desalinho
Em memória de Ronaldo Menezes de Oliveira, meu Irmão
Na relva, perpétuo ninho
No céu, aves erram em desalinho
Rodopiam, rodopiam...
Não mais assobiam
O poema Ninho em desalinho apresenta uma estrutura breve, mas profundamente carregada de emoção e simbolismo. A morte solitária do irmão do eu lírico é retratada com imagens naturais, evocando um tom de melancolia e desorientação.
1. Título e Simbolismo
O título já sugere a ideia de um lar desfeito, um refúgio que perdeu sua ordem e estabilidade. O "ninho" remete à família, à infância e ao acolhimento, mas ao estar "em desalinho", sugere ruptura, ausência e desamparo.
2. Estrutura e Ritmo
- A construção é concisa e direta, refletindo um luto contido, quase seco.
- A repetição de "Rodopiam" dá um movimento circular ao poema, remetendo à errância e ao vazio deixado pela morte.
- O ritmo pausado dos versos e a interrupção final com "Não mais assobiam" sugerem um corte abrupto, assim como a morte interrompe a vida.
3. Imagens e Atmosfera
- "Morreu sozinho" – O primeiro verso já estabelece o tom de solidão e abandono.
- "Na relva, perpétuo ninho" – A relva pode representar tanto um descanso final quanto um lugar de origem e aconchego, contrastando com a ideia de isolamento na morte.
- "No céu, aves erram em desalinho" – A desordem das aves simboliza confusão, luto e talvez a própria alma inquieta do irmão falecido.
- "Rodopiam, rodopiam, rodopiam..." – A repetição cria um efeito de vertigem, reforçando a sensação de desorientação causada pela perda.
- "Não mais assobiam" – A ausência do canto das aves representa a ausência do irmão, o silêncio deixado por sua partida.
4. Interpretação e Sentido Final
O poema expressa um luto solitário e contido, sem exageros emocionais, mas repleto de simbolismo. O irmão que morreu sozinho é contraposto à imagem das aves, que giram sem rumo e silenciam. Há um sentimento de desamparo e de um ciclo interrompido, reforçado pelo tom melancólico e pela ausência de um desfecho reconfortante.
Conclusão
Ninho em desalinho é um poema profundamente evocativo, que lida com a perda de maneira sutil e simbólica. A economia de palavras e a escolha de imagens naturais conferem um lirismo triste e contido, transmitindo com eficácia a dor e o vazio da morte.
nós cegos
só nós
entre lençóis
nenhum sonho
só nós
entre atos
nenhum afago
só nós
Análise do Poema "Nós Cegos"
O poema Nós Cegos apresenta uma estrutura minimalista e altamente simbólica, explorando relações interpessoais por meio da ambiguidade da palavra “nós”.
1. Título e Simbolismo
- "Nós cegos" sugere tanto um estado de ligação quanto de aprisionamento, já que "nós" pode se referir a laços entre pessoas ou a emaranhados difíceis de desfazer.
- A palavra "cegos" pode indicar uma falta de visão no relacionamento, uma impossibilidade de enxergar claramente o outro ou a si mesmo dentro da relação.
2. Estrutura e Ritmo
- O poema tem três estrofes curtas e sintéticas, o que reforça sua intensidade e permite que as repetições tenham maior impacto.
- A repetição da construção "nenhuma / nenhum ... só nós" cria um efeito de clausura e solidão dentro da relação.
3. Temática e Atmosfera
- Há uma progressão de cenários intimistas:
- Entre nós – um espaço que poderia ser de conexão, mas está vazio de vozes.
- Entre lençóis – um ambiente que poderia ser de intimidade, mas está desprovido de sonhos.
- Entre atos – possivelmente entre gestos e interações, mas sem carinho.
- Isso sugere uma relação que se mantém apenas pela existência do vínculo (o "nós"), mas sem comunicação, sem sonhos e sem afeto.
4. Linguagem e Ambiguidade
- O jogo semântico com "nós" pode indicar tanto a união do casal quanto um estado de entrelaçamento sufocante.
- A ausência de verbos dá um tom de imobilidade, reforçando a ideia de um relacionamento estagnado.
- A sonoridade suave e a repetição de palavras contribuem para um efeito hipnótico e introspectivo.
5. Interpretação e Sentido Final
- O poema sugere uma relação onde há apenas a presença física, mas não há mais comunicação, sonhos ou carinho.
- A palavra final "só nós" pode ser lida de duas formas:
- "Somente nós" – um isolamento do casal do resto do mundo.
- "Apenas nós (os nós do emaranhado)" – um enredamento emocional sem liberdade.
Essa ambiguidade reforça o caráter simbólico e permite diferentes leituras, tornando o poema aberto e reflexivo.
Conclusão
Nós Cegos é um poema curto, mas denso em significados. Ele transmite, com economia de palavras e forte carga simbólica, a sensação de um relacionamento que existe apenas em sua forma, mas perdeu seu conteúdo afetivo e comunicacional. A construção minimalista e o jogo com a palavra "nós" ampliam sua profundidade, tornando-o expressivo e impactante.